ESPIRITISMO LIVRE Livre de Dogmas, Livre da Fé Cega, Baseado em Kardec Contato: espiritismolivre@gmail.com

dezembro 18, 2012

Evocação de Surdo-Mudo Encarnado

Filed under: Espiritismo,Estudos — Tags:, , , , — Aprendiz @ 1:16 am

Segue abaixo um trecho retirado da Revista Espírita. É bem interessante, trata-se da evocação do Espírito de um encarnado.

//————-//———–//————//

Evocação de um Surdo-Mudo Encarnado

O Sr. Rul, membro da Sociedade de Paris, transmite-nos o fato que se segue. Disse ele:

“Em 1862 conheci um jovem surdo-mudo de doze ou treze anos. Desejoso de fazer uma observação, perguntei aos meus guias protetores se me seria possível evocá-lo. Como a resposta fosse afirmativa, fiz o rapaz vir ao meu quarto e o instalei numa poltrona, com um prato de uvas, que ele se pôs a chupar com ardor.

Por meu lado, sentei-me a uma mesa. Orei e fiz a evocação, como de costume. Ao cabo de alguns instantes minha mão tremeu e escrevi:

Eis-me aqui.

Olhei o menino: estava imóvel, os olhos fechados, calmo, adormecido, com o prato sobre os joelhos; cessara de comer. Dirigi-lhe as seguintes perguntas:

P. – Onde estás agora?

Resp. – Em vosso quarto, em vossa poltrona.

P. – Queres dizer por que és surdo-mudo de nascença?

Resp. – É uma expiação de meus crimes passados.

P. – Que crimes cometeste?

Resp. – Fui parricida.

P. – Podes dizer se tua mãe, a quem amas tão ternamente, não teria sido, como teu pai ou tua mãe, na existência de que falas, o objeto do crime que cometeste?

Em vão esperei a resposta; minha mão ficou imóvel. Levantei de novo os olhos para o menino; acabava de despertar e comia as uvas com apetite. Tendo, então, pedido aos guias que me explicassem o que acabava de se passar, foi-me respondido:

Ele deu as informações que desejavas e Deus não permitiu que te desse outras.

Não sei como os partidários da comunicação exclusiva dos demônios nos explicariam o fato. Para mim, conclui que, desde que Deus por vezes nos permite evocar um Espírito encarnado, permite-nos igualmente em relação aos desencarnados, quando o fazemos com o espírito de caridade.”

Observação – Por nosso lado, faremos uma outra observação a respeito. Aqui, a prova de identidade resulta do sono provocado pela evocação, e da cessação da escrita no momento de despertar. Quanto ao silêncio guardado sobre a última pergunta, prova a utilidade do véu lançado sobre o passado. Com efeito, suponhamos que a mãe atual desse menino tenha sido sua vítima em outra existência, e que este tenha querido reparar seus erros pela afeição que lhe testemunha; a mãe não seria dolorosamente afetada se soubesse que o filho foi seu assassino? sua ternura por ele não seria alterada? Foi-lhe permitido revelar a causa de sua enfermidade como assunto de instrução, a fim de nos dar uma prova a mais de que as aflições daqui têm uma causa anterior, quando tal causa não esteja na vida atual, e que assim tudo é conforme à justiça; mas o resto era inútil e poderia ter chegado aos ouvidos da mãe. Por isto os Espíritos o despertaram, no momento em que, talvez, fosse responder.

(…)

Além disso, o fato prova um ponto capital: não é somente depois da morte que o Espírito recobra a lembrança de seu passado. Pode dizer-se que não a perde jamais, mesmo na encarnação, porquanto, durante o sono do corpo, quando goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre, e que sofre justamente; a lembrança não se apaga senão durante a vida exterior de relação. Mas, em falta de uma lembrança precisa, que lhe poderia ser penosa e prejudicar suas relações sociais, haure novas forças nos instantes de emancipação da alma, se os soube aproveitar.

(Revista Espírita – 1865 – pp. 38 / 39 / 40)

//————-//———–//————//

O trecho acima é bem importante quando pensamos o sentido doutrinário da mensagem. Algumas provas ali existem, de que quando dormimos nosso Espírito recupera a consciência e, na medida do possível, a memória do que fez. Ainda os motivos que levaram a certas provas durante a encarnação corrente.

Quando dormimos, estamos no estado de consciência do espírito que ocupava o corpo da criança. Ele era um espírito que entendia a realidade, que sabia o porquê de ser surdo-mudo, mas quando a questão chegou à raiz do problema, se ele havia ceifado a vida de sua mãe, houve o despertar. Talvez quando uma informação venha à tona neste íntimo, ela seja capaz de colocar esforços sublimes a perder. O véu do esquecimento não é um acidente, é uma providência da caridade divina para com o nosso ser ainda tão fraco e ressentido. Conviver com quem nos fez mal no passado pode fazer a dor renascer e travar-nos em processo obsessivo ainda encarnado. Mares de ódio poderão ressurgir, deixando de lado todo o amor construído até então.

Ser surdo-mudo no século XIX, sem tecnologias ou facilidades não devia ser tarefa fácil. Pode muito bem ser uma prova escolhida após anos de depuração e sofrimento no mundo espiritual. Ou seja, aquele Espírito em tarefa expiatória, poderia reviver sofrimentos que já havia depurado durante sua estadia junto aos espíritos. Seria justo impor duplo sofrimento à família? Não seria desrespeitar a Providência Divina? Muitas vezes nossa ânsia de conhecer a verdade, pode trazer uma boa dose de egoísmo e injustiça. Por isso a informação final não foi conferida ao pesquisador.

O Século XIX, do Espiritismo Científico, foi formidável por permitir a consonância dos ensinamentos dos Espíritos à Kardec com a realidade prática dos pesquisadores materialistas, que em certo ponto, precisaram se render à verdade ou viver no erro consciente.

Powered by WordPress