As questões relacionadas à obsessão são tratativas comuns nos estudos espíritas. Tema constante em palestras, leituras e estudos diversos, sua gênese, profilaxia e superação trazem temas inesgotáveis para reflexão.
A obra “Painéis da Obsessão” traz um grande arcabouço de casos e explicações para enfermidades relacionadas à obsessão e suas causas / consequências, sendo extremamente instrutiva e complexa em alguns pontos. O caso abaixo ilustra um pouco do que o Espiritismo coloca como ação e reação nos casos obsessivos. Ele trata sobre Marcondes, homem implacável que, além de tirano doméstico, era extremamente cruel na cobrança dos que o rodeavam em seu comércio. Era ainda uma constante fonte de inimizades e de conduta áspera, inspirava sempre um quadro de desconfiança e inimizade.
Farei algumas observações no texto abaixo. O original está em azul, e minhas observações em verde.
“- Temos estudado a obsessão como fator desencadeante de enfermidades orgânicas [até aqui, ponto trabalhado em diversas obras espíritas, especialmente nas de André Luiz na coleção “A vida no mundo espiritial”] – prosseguiu, com a mesma serenidade, o amigo vigilante. – Agora temos um fenômeno com maior complexidade ante os nossos olhos. Em face das suas atitudes, o nosso enfermo passou a sofrer o cerco das Entidades perversas que interferiram no seu comportamento mental com as naturais reações psicológicas e humanas. Simultaneamente, o desencadear da animosidade que as suas atitudes provocavam, fez que as pessoas passassem a desfechar-lhe flechas mentais, desejando-lhe a ruína, a infelicidade, a morte [vejam que a atitude das pessoas que desejavam isso ao Marcondes também significa alguma forma de comprometimento perante as Leis Divinas, pois não deixa de ser um plantio do mau. As irradiações em direção a Marcondes prejudicam quem as gera, seja o motivo qual for]. A princípio, em razão de encontrar-se mergulhado em verdadeira carapaça das próprias construções psíquicas, aqueles petardos não o atingiam com facilidade. Naturalmente se diluíam no choque vibratório das suas resistências portadoras de teor diferente, em ondas de dispersão, pelo que sua mente exteriorizava contra as demais pessoas. Produziam-se, nesse campo magnético, inevitáveis choques vibratórios que, no largo do tempo, tiveram as primeiras brechas, em razão da intensidade com que eram emitidos os pensamentos destrutivos, alimentados pela fúria das suas vítimas, no lar e fora dele, somando força devastadora. Lentamente, as sucessivas ondas prejudiciais alcançaram-lhe os equipamentos orgânicos, desarticulando as defesas imunológicas que foram vencidas, degenerando células e dando início, a princípio, à irrupção do bacilo de Koch [tuberculose], agora em fase final do processo. Caso há, em que a incidência do pensamento maléfico aceito pela mente culpada destrambelha a intimidade da célula, interferindo no seu núcleo e acelerando a sua reprodução, dando gênese a neoplasias, a cânceres de várias expressões. [De forma alguma, toda doença é fruto de obsessão, mas sim, toda doença é fruto de desequilíbrio perispiritual, do presente ou do passado – quando escolhemos uma doença como provação. A mente atua sob as células, irradiando influências da qualidade que criamos. Podemos irradiar uma psicosfera saudável com bons ideais e ‘contagiar’ nosso nível celular com a mesma qualidade, ou podemos manter uma psicosfera negativa, contaminando nosso organismo. A psicosfera que cultivamos, somada à predisposições que podemos manter por questões probatórias resultam em provas ou acréscimos de misericórdia. Afinal, uma boa psicosfera significa pensar e atuar de forma benéfica, o que significa agir na caridade. Um plantio salutar, gera colheita de felicidade].
A mente é dínamo gerador de energia cujo potencial e finalidade estão governados pelo comportamento moral, pelo desejo de quem os emite. Há enfermidades de diferentes procedências que se instalam sob a contribuição da conduta mental dos próprios pacientes, dando margem a fenômenos de autodestruição a curto ou largo prazo, de desarticulação das defesas psíquicas e orgânicas, quando irrompem problemas graves na área da saúde, com muitas dificuldades para uma diagnose correta, quanto para uma terapêutica segura. O homem é intrinsecamente, o que pensa, sendo esse seu mecanismo mental o resultado das suas experiências pregressas, noutras reencarnações, o que motiva as fixações, as preferências, os ideais sustentados. De mais alto valor, portanto, o cultivo sistemático dos pensamentos positivos, das idéias enobrecedoras, da conversação edificante, das aspirações otimistas, que facultam a renovação das paisagens íntimas e a substituição dos clichês infelizes, propiciadores de doenças, de turbações do raciocínio, de desajustes de todo tipo” (p. 138-139).
[PAINÉIS DA OBSESSÃO – Divaldo P. Franco pelo Espírito Manoel P. Miranda – 5a edição – 1994. Editora LEAL]
Alguns ainda nutrem uma visão da Obsessão como processo que envolve um puro sofrimento, ou até injustiça. Não existe algo assim na Justiça Divina. Injustiça é criação dos homens, enquanto os problemas relacionados à obsessão foram plantados pelas más escolhas que fizemos com o nosso Livre Arbítrio. Desentendimentos, mágoas, raiva, ódio, emoções negativas diversas que nos colocam em sintonia com irmãos da mesma faixa vibratória, alimentando um ciclo quase interminável, geralmente interrompido pelo esgotamento ou pela dor de algum dos lados.
Uma das grandes virtudes do Espiritismo é possibilitar a compreensão do passado, do presente, e permitir o plantio salutar do futuro.