(Capítulo V – Bem Aventurados os Aflitos)
“O Suicídio e a Loucura”
15 Dá-se o mesmo em relação ao suicídio; com exceção daqueles que ocorrem no estado de embriaguez e de loucura, aos quais podemos chamar de inconscientes, é certo que, quaisquer que sejam os motivos particulares, sempre têm como causa um descontentamento. Portanto, aquele que está certo de ser infeliz apenas por um dia, e de serem melhores os dias seguintes, exercita a paciência. Ele só se desespera quando pensa que os seus sofrimentos não terão fim. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para aquele que não crê na eternidade e julga que nesta vida tudo se acabará, que está oprimido pelo desgosto e pelo infortúnio, só vê na morte a solução dos seus males. Por não esperar nada, acha natural e até mesmo muito lógico abreviar suas misérias pelo suicídio.
16 A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas são, numa palavra, os maiores incentivadores ao suicídio: elas produzem a covardia moral. E quando se vêem homens de ciência se apoiarem sobre a autoridade de seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores que não têm nada a esperar após a morte, não os vemos tentando convencê-los de que, se são infelizes, não têm nada de melhor a fazer do que se matar? Que poderiam lhes dizer para desviá-los disso? Que compensação poderiam lhes oferecer? Que esperança poderiam lhes dar? Nada além do nada. A conclusão é lógica, se o nada é o único remédio heróico; mais vale cair nele imediatamente do que mais tarde, e assim sofrer por menos tempo. A propagação das idéias do materialismo é, pois, o veneno que introduz em muitas pessoas o pensamento do suicídio. E aqueles que se fazem partidários e propagadores dessas idéias assumem sobre si uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não é mais permitida e a visão da vida muda. Aquele que crê sabe que a vida se prolonga indefinidamente além-túmulo, embora em outras condições; daí a paciência e a resignação que o afastam naturalmente da idéia do suicídio, resultando, em uma palavra, na coragem moral.
( O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec)
Talvez a maior virtude do espiritismo como doutrina cristã seja trazer a esperança. Mas não é apenas uma esperança dogmática, baseada em achismos e interpretações de textos antigos. Mas sim de um objeto factível de consolo e que muda o foco das relações pessoais entre tempo x espaço.
“E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia?” Este questionamento é de grande profundidade. Muitos dizem querer viver mais de cem anos. Mas de que adianta tanto tempo terrestre se é apenas uma fração da eternidade? A vida passa a ser um belo instrumento de ajuste cármico, uma oportunidade de renovação – Reforma Íntima – e um breve “descanso” do cotidiano espiritual. Nossa carne cansa, mas o espírito, motor de tudo, está momentâneamente a salvo dos efeitos perversos de uma eventual escravidão (mesmo que moral) no umbral.
Os obsessores possuem muito mais trabalho para influenciar os pensamentos dos encarnados do que para agir na dimensão espiritual. As doenças do perispírito (frutos de vícios, desregramento comportamental) agora são manifestadas na carne para purificação e, ao final de tudo, acabamos por dar um passo adiante na evolução.
Aquele que tem uma pressa enorme de evoluir, é freado pela infância e adolescência, quando inicia um amadurecimento de consciência e passa a ter mais contato com o próprio espírito. O mesmo serve para aqueles que tem uma pressa enorme de se dirigir ao mundo do crime. A chance do equilíbrio é dada, mas compete a cada um aproveitá-la. Quando vemos médiuns de enorme manifestação realizando maravilhas na sociedade, eles não passam de devedores. Quando vemos criminosos cometendo crimes bárbaros, estão alongando suas provações.
Na alegria ou na desgraça, há uma causa inteligente e um princípio de igualdade que as regulamenta. Essa é a perfeição da doutria racional. O materialismo é maléfico devido às suas nefastas consequências. Assim como enormes retiros espirituais que afastam as pessoas da realidade para um lugar onde não sofrem provações e não fazem nenhuma ação caridosa.
O suicídio é um ato de desespero, alimentado pela desesperança. Claro que há casos de severa obsessão e doenças consequentes, mas em qualquer caso, o fator comum é o desespero e o sentimento de “nada a perder”. Kardec mostra que não é bem assim. A longo, médio e curto prazo, perdemos uma chance preciosa de nos melhorar.
Talvez a maior decepção de um suicida seja perceber que a fuga do mundo material, o levou a uma realidade triste e sofrida da qual não escapará com apenas uma ação impensada.