“Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus de animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação.
Chegada ao grau de desenvolvimento que este estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal. Esse sistema, fundado na grande lei de unidade que preside a criação, corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a seus sofrimentos”.
A Gênese – Allan Kardec
(Cap. XI-item 23)
Nos dias atuais, há um embate muito forte entre “Criacionistas” x “Darwinismo”. Os primeiros, defendem que Deus é o responsável por cada criação e destino, sendo o ser em si um resultado da vontade divina. A corrente baseada em Darwin acredita que os seres são uma evolução de ancestrais pré-existentes, ou seja, o homem é uma evolução de algum primata pré-histórico que foi evoluindo ao longo do tempo, ficando bípede, com a coluna ereta, cérebro mais desenvolvido, etc.
Porém, alguns paradoxos se apresentam em ambos os raciocínios. Os Criacionistas, por mais irônico que pareça, refutam os Darwinistas pela inexistência de provas de um ancestral comum primata aos humanos (logo os religiosos precisam ver para crer?). Os Darwinistas rebatem, questionando provas sobre a existência de Deus e de atos da criação, que poderiam ser apenas reações químicas e biológicas em bilhões de anos de atividade.
Enfim, ambas as correntes são tão radicais que chegam a ser tolas. A passagem acima, de Kardec, ilustra o que seria a evolução do espírito, que é obrigado a preencher o envoltório material no qual está destinado a habitar, mas que tem a perspectiva de progredir de acordo com suas habilidades e aprendizado, com toda paciência e tempo que a eternidade pode proporcionar. Sem dúvida Deus participou do processo como um todo, mas isso não exclui a evolução como uma escola de transferência de fases. Ora, por que um ser que habitava um corpo animal não poderia evoluir para um corpo humano? Por que Deus criaria um animal e uma pessoa aleatoriamente sem motivo algum aparente? Isso deixa de ser uma questão de fé, para tornar-se apenas uma discussão orgulhosa de qual lado tem razão.
Felizmente, nenhum dos lados tem razão, Deus e a Evolução podem caminhar juntos. Talvez a maior lição do espiritismo seja essa. Cedo ou tarde todos seríamos obrigados a evoluir, até pela condição física e moral do habitat escolhido.
Prova disso são os diversos casos relatados de ovóides, espíritos que por pura maldade ou ignorância fixam seu perispírito em formas animais, de lobos a lagartos, de forma a perderem a forma humana e caminharem rumo à uma “inevolução”, onde não perdem a evolução alcançada, seus conhecimentos ainda permanecem na sua mente, mas cada vez menos acessíveis à memória. Claro, a condição moral é a determinante nessas horas, quanto mais direcionado à negatividade, menos moral estará presente.
Enfim, Criação + Darwin + milhares de variáveis que desconhecemos = Realidade e Verdade.
“Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontraram” ( André Gide )