Aborto Delituoso
Comovemo-nos, habitualmente, diante das grandes tragédias que agitam a opinião.
Homicídios que convulsionam a imprensa e mobilizam largas equipes policiais…
Furtos espetaculares que inspiram vastas medidas de vigilância…
Assassínios, conflitos, ludíbrios e assaltos de todo jaez criam a guerra de nervos, em toda parte; e, para coibir semelhantes fecundações de ignorância e delinqüência, erguem-se cárceres e fundem-se algemas, organiza-se o trabalho forçado e em algumas nações a própria lapidação de infelizes é praticada na rua, sem qualquer laivo de compaixão.
Todavia, um crime existe mais doloroso, pela volúpia de crueldade com que é praticado, no silêncio do santuário doméstico ou no regaço da Natureza…
Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reação.
Referimo-nos ao aborto delituoso, em que pais inconscientes determinam a morte dos próprios filhos, asfixiando-lhes a existência, antes que possam sorrir para a bênção da luz.
Homens da Terra, e sobretudo vós, corações maternos chamados à exaltação do amor e da vida, abstende-vos de semelhante ação que vos desequilibra a alma e entenebrece o caminho!
Fugi do satânico propósito de sufocar os rebentos do próprio seio, porque os anjos tenros que rechaçais são mensageiros da Providência, assomantes no lar em vosso próprio socorro, e, se não há legislação humana que vos assinale a torpitude do infanticídio, nos recintos familiares ou na sombra da noite, os olhos divinos de Nosso Pai vos contemplam do Céu, chamando-vos, em silêncio, às provas do reajuste, a fim de que se vos expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetrastes.
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Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Religião dos Espíritos.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
14a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2001.
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Talvez a mais polêmica temática quando falamos de religião diz respeito ao aborto. Sob a ótica Espírita, é um crime horrendo que custa muito caro sob todos os ângulos da lei de ação e reação.
Sobre o núcleo familiar, temos a informação de que nascemos em uma determinada família por um motivo. Seja ele afinidade, seja ele “cármico”, estamos lá por uma razão. Conforme os escritos de Kardec colocam:
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A Parentela Corporal e a Parentela Espiritual
Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências (Capitulo IV, no.13).
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Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo.
112a edição. Capitulo XIV, no.8. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996.
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Imperioso constatar que há uma preparação muito grande no espírito que irá reencarnar, sua perda gradual de consciência, até tornar-se um pequeno bebê, acontece de forma muito complexa e, algumas vezes até dolorosa. A experiência do esquecimento total e regressão à forma tão pequena e inconsciente não deve ser nada prazerosa. Imaginem ainda se após todo este processo você for condenado a morte das mais variadas formas de agressão? (agulhas de costura, remédios intoxicantes, retirada abrupta, morte logo após o nascimento, etc).
Isso pode jogar fora um planejamento de gerações, Pode levar ao fracasso e jogar pelo ralo todo o comprometimento de ao menos duas vidas. Pode, de uma só vez, ampliar as angustiosas e doloridas provações por séculos !
O caso dos Anencéfalos ganhou notoriedade na mídia após a aprovação da extinção do feto (aborto) em casos comprovados de ausência de cérebro no ser gestado, já que sem cérebro não haveria condições plenas de vida.
O ser humano é falho, assim como a inevolução de nossas ciências. Há um potencial de erro em presumir ausência de cérebro, a medicina muitas vezes falha em diagnosticar a morte ! Há vários casos em que uma simples consulta em um buscador de internet demonstra renomados hospitais que erraram ao concluir a morte de um paciente. Há casos de diagnóstico de anencefalia em que ao nascer constatou-se que o feto possuía um resíduo cerebral que manteve suas funções ativas, ou seja, o feto sobreviveu e vive em estado vegetativo.
Há aqueles que imaginam a inutilidade em se manter uma vida vegetativa, mas estes estão longe da compreensão do Espiritismo, são movidos por outras idéias.
O Espírita sabe que tudo isso traduz-se em provações, tanto para aquele espírito privado de cérebro e funções motoras, quanto aos familiares que vêem-se obrigados a cuidar com amor e carinho sem nenhuma forma de retribuição. É a maravilhosa solução do resgate, que coloca ombro a ombro muitos inimigos em prol de prova comum.
Há aqueles que também questionam se há consciência (vida) em um feto. Sim, o espírito está presente desde a gestação, ligado ao corpo através de cordão fluídico. Para finalizar, alguns esclarecimentos oferecidos pelo Livro dos Espíritos:
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UNIÃO DA ALMA E DO CORPO. ABORTO
344 Em que momento a alma se une ao corpo?
– A união começa na concepção, mas só se completa no instante do nascimento. No momento da concepção, o Espírito designado para habitar determinado corpo se liga a ele por um laço fluídico e vai aumentando essa ligação cada vez mais, até o instante do nascimento da criança. O grito que sai da criança anuncia que ela se encontra entre os vivos e servidores de Deus.
345 A união entre o Espírito e o corpo é definitiva desde o momento da concepção? Durante esse primeiro período o Espírito poderia renunciar ao corpo designado?
– A união é definitiva no sentido de que nenhum outro Espírito poderá substituir o que está designado para aquele corpo. Mas, como os laços que o unem são muito frágeis, fáceis de se romper, podem ser rompidos pela vontade do Espírito, se este recuar diante da prova que escolheu; nesse caso, a criança não vive.
351 No intervalo da concepção ao nascimento, o Espírito desfruta de todas as suas faculdades?
– Mais ou menos, de acordo com a época, visto que ainda não está encarnado, e sim vinculado. Desde o instante da concepção, o Espírito começa a ser tomado de perturbação, anunciando-lhe que é chegado o momento de tomar uma nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase idêntico ao de um Espírito encarnado durante o sono do corpo. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual não terá mais consciência, como pessoa, logo que entrar na vida. Mas essa lembrança lhe volta pouco a pouco à memória ao retornar ao seu estado de Espírito.
357 Quais são, para o Espírito, as conseqüências do aborto?
– É uma existência nula que terá de recomeçar.
358 O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?
– Há sempre crime quando se transgride a Lei de Deus. A mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá sempre um crime ao tirar a vida de uma criança antes do seu nascimento, porque é impedir a alma de suportar as provas das quais o corpo devia ser o instrumento.
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Allan Kardec. Da obra: O Livro dos Espíritos
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É imperioso lembrar que as provas terão de ser cumpridas. Se não agora, depois. É onde o livre abrítrio opera.
O aborto questiona também a sabedoria divina da providência espiritual (atemporal). O ser humano é acostumado a pensar dentro do universo de sua temporalidade, enquanto encarnado, e de forma utilitarista. Sem o esclarecimento da Doutrina Espírita, ele é refém de impulsos momentâneos e sim, não haveria benefício nenhum em permitir que algúem vivesse em estado vegetativo.
No entanto, o maior argumento daqueles que precisam justificar o aborto para si mesmos, e possuem o conhecimento Espírita, é a plena liberdade de agir, vulgo livre-arbítrio.
De fato, todos os Espíritas sabem que podem tomar as atitudes que quiserem. Nenhum mentor espiritual impedirá os crimes, nenhum anjo da guarda inspirará a beatitude em quem se delicia em prejudicar os outros. Livre Arbítrio é o extremo oposto da irresponsabilidade. A liberdade só é plena com o conhecimento, por isso seremos julgados pelos nossos atos. O Espírita simplesmente possui uma responsabilidade muito maior quando comete delitos morais, já que foi informado do caminho correto e assim aceitou.
Estamos agora em terreno perigoso. Se um ser com cérebro ausente pode ser descartado por ser um “problema para o mundo”, quanto tempo até que se pense o mesmo daqueles sem um membro? Afinal, ‘sem uma perna aquele bebê não crescerá em condições iguais ao que possui duas pernas’. E os problemas mentais diversos? ‘Estes pobres coitados, não teríam chance contra os que possuem plena capacidade…’.
Meus amigos, entramos no terreno da Eugenia. É esse raciocínio, de eliminar a prova preventivamente, que nos arrasta, novamente, à um mundo materialista e amoral. Só podemos pedir ao Mundo Espiritual que nos envie representates dignos da missão que se desenha, já que a espiritualização deste orbe tende a demorar muito.