O Resumo abaixo é de minha autoria e utiliza citações de obras que estão colocadas durante o texto.
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ESTUDO DA OBRA DE LÉON DENIS – O PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR
Editora FEB / 1ª Edição / 2009
INTRODUÇÃO
Denis inicia sua introdução já com a identificação da incapacidade das instituições humanas do conhecimento e da religião em esclarecer o que realmente importa, a alma, sua natureza e destino, visto que essas instituições estão presas ao ensino do conhecimento supérfluo. Até na igreja, renomada instituição religiosa, o padre acaba por professar teses que não passariam pelo crivo da razão.
“Com efeito, na Universidade, como na Igreja, a alma moderna não encontra senão obscuridade e contradição em tudo quanto respeita ao problema de sua natureza e de seu futuro. É a esse estado de coisas que se deve atribuir, em grande parte, os males de nossa época, a incoerência das idéias, a desordem das consciências, a anarquia moral e social” (p.08).
Da falta de perspectiva e de conhecimentos edificadores em relação à vida e à alma, a corrosão moral e o ceticismo tomaram conta da época, já que “(…) em nada mais crêem do que na riqueza, nada mais honram que o êxito” (p.09).
O materialismo causou uma dependência nas pessoas, a dependência do ‘acaso’, já que somos resultado de combinações biológicas e físico-químicas, algo como uma receita celular que as leis da ciência humana foi capaz de estudar e aprender. Isso causou desmotivação e esvaziou o ser em si, resultando em pessimismo e em um conformismo que estagnou todas as gerações presas à esta ideologia / percepção de mundo. Sem uma essência espiritual ou algo que clamasse à evolução particular de cada um, não havia motivo justo para que cada ser buscasse sua melhora e progresso.
“A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da natureza e da vida. (…) A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral” (p.14)
Denis verifica que as doutrinas político-sociais da época, assim como as atuais, acabam por buscar muitos direitos, imaginando ser este o fim em si, e não fixam os deveres necessários, que são primordiais para o bom funcionamento das normas. Esse é apenas mais um fruto do que o materialismo provoca quando é aplicado à vida cotidiana de uma sociedade.
“Os espíritos de escol professam o niilismo[1] metafísico, e a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios fixos, está entregue a homens que lhe exploram as paixões e especulam com suas ambições” (p.15).
Leon Denis identificará que a melhor forma de renovar o quadro descrito é através de uma doutrina baseada em fatos, não dogmas, e baseada em experiências, ou seja, que alie traços metafísicos à cientificidade, além de testemunhos que a corroborem. Eis que o Espiritualismo[2] Científico veio a suprir esta demanda.
A solução de nosso caro instrutor é a adição do espiritismo na educação e na ciência. No primeiro caso seria indispensável na formação ético-moral das próximas gerações. Se intrduzida desde cedo na educação infantil, seria de grande valia para uma formação social mais concisa e ciente de seus deveres morais. No caso da ciência, seria importante para decifrar o mundo visível, já que os cientistas orgulhavam-se de ter decifrado todo o mundo visível (o que se provaria uma mentira no futuro). A resolução acima aplicar-se-ia na ciência e na educação, criando uma nova espécie de psicologia social baseado nos mundos tangível e intangível.
Graficamente, seriam os estudos das variáveis abaixo com a receita educacional e científica acima, levaria à evolução:
è Razão
è Causa EVOLUÇÃO
è Fim
E então todos estariam aptos a desfrutar o progresso pessoal e moral.
“Fé do passado, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova; sacudi vossos velhos sudários e as cinzas que os cobrem. Escutai as vozes reveladoras do túmulo; elas nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do Além, que o homem em necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir e melhor morrer!” (p.22).
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PRIMEIRA PARTE – O PROBLEMA DO SER
I – A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO
A ciência humana encontra-se em franca expansão e aumento de amplitude, através dos avançados instrumentos de análise dos quais dispõe. No entanto, tudo isso é posterior ao conhecimento do espírito, já que:
“os instrumentos nada seriam sem a inteligência, sem a vontade que os dirige” (p. 25).
O interessante é que sempre os instrumentos científicos serão evoluídos e revisados todo o tempo, já que a tendência é de que os espíritos (vontades que dirigem) progridam a cada geração / encarnação. E é parte desta evolução que haja um casamento entre a ciência e as manifestações espirituais.
“Assistimos hoje a uma nova florescência do mundo invisível na história. As manifestações do Além, de passageiras e isoladas, tendem a converter-se em permanentes e universais” (p. 29).
Em breve passagem, León Denis resumiu o que acontecia e o que acontece hoje, quando as manifestações (ou fenômenos) não só acontecem em maior número, mas com diversas finalidades também. O intercâmbio entre o mundo visível e invisível é cada vez mais constante. No entanto a natureza dos fenômenos sofreu alteração ao longo do tempo[3]. Apesar de não fazer parte do objeto de estudo do capítulo atual, vale ressaltar apenas a maior depuração dos fenômenos e maior presença em reuniões de boas intenções e aprimoramento moral.
Denis enfatiza que todas as religiões tiveram importância no curso da humanidade, mas que erraram em algum momento na deturpação dos valores fundamentais.
“O erro religioso e, principalmente, o erro católico, não pertence à ordem estética, que não engana; é de ordem lógica. Consiste em encerrar a Religião em dogmas estreitos, em moldes rígidos. Quando o movimento é a própria lei da vida o Catolicismo imobilizou o pensamento em vez de provocar-lhe o vôo” (p. 30). “O verdadeiro Cristianismo era uma lei de amor e liberdade; as igrejas fizeram dele uma lei de temor e escravidão. Daí o se afastarem gradualmente da igreja os pensadores; daí o enfraquecimento do espírito religioso em nosso país” (p. 31).
Quando os abusos humanos acontecem em doutrinas divinas, há a lacuna entre os pensadores e os religiosos, onde os primeiros desembocam no materialismo. Dificilmente a fé se sustenta quando pessoas são aniquiladas em nome de Deus, este último performando o papel de cruel entidade que manipula suas marionetes. Eis a constatação de que o problema não era a religião, mas sim seu uso político-social.
O materialismo trouxe, como frisado na introdução, a corrosão moral e dos valores. E Denis percebe que a dúvida acarretada pela corrosão é justamente o que prepara o caminho para fé inteligente e esclarecida, já que os critérios seriam mais duros do que a própria crença apenas.
“À proporção que o pensamento se vai aperfeiçoando, missionários de todas as ordens vêm provocar a renovação religiosa no seio das humanidades. Assistimos ao prelúdio de uma dessas renovações, maior e mais profunda que as precedentes. Já não tem somente homens por mandatários e intérpretes, o que tornaria a nova dispensação tão precária como as outras. São os Espíritos inspiradores, os gênios do Espaço, que exercem ao mesmo tempo a sua ação em toda a superfície do globo e em todos os domínios do pensamento. Sobre todos os pontos aparece um novo Espiritualismo” (pp. 32-33).
A ruptura entre ciência e religião complicou vários problemas que seriam mais simples e segregou conhecimentos que poderiam ser complementares. A verdade é que a interdisciplinaridade traz muito mais conhecimento e derivações combinadas do que o segregacionismo que era aplicado até então.
Eis um dos principais diferenciais do Espiritismo. Dispensa dogmas e prova suas teses na prática, tornando-se também científica. Não traz só o consolo, mas também os deveres e responsabilidades, que agregam ao ser humano um índice moral mais elevado e com tendências a se tornar mais apurado com o passar do tempo.
O ápice deste movimento será quando ciência, filosofia, artes e religião se fundirem em um só guia para vida das pessoas. Alimentos para corpo e alma estarão presentes e a evolução será contínua e muito mais rápida do que ocorre hoje.
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II – O CRITÉRIO DA DOUTRINA DOS ESPÍRITOS
Os fenômenos Espíritas vieram, através da mediunidade, comprovar o intercâmbio entre o mundo visível e o mundo invisível, além de trazer provas reais e factíveis de espíritos que outrora habitavam este orbe. O mais importante é que os fenômenos foram confirmados pela experiência (um dos maiores critérios para que algo seja aceito como ‘científico’).
Em um simples resumo, grande parte do que Denis nos traz neste capítulo pode ser considerado como:
CRITÉRIOS DE ANÁLISE DO ESPIRITISMO CIENTÍFICO
Experimental à Estudo profundo dos fenômenos.
Racional à Verificação do nível moral dos ensinamentos / comunicações passadas.
Instrumento da Verdade à Pois pode versar sobre todas as áreas do conhecimento humano.
Devido aos critérios acima expostos e, verificando que todos eles buscam explicações / instruções fora da metafísica pura[4] o Espiritualismo Moderno (Espiritismo) passa a integrar o mundo físico. Os fenômenos são a conexão entre a metafúsica pura que predominava nas religiões anteriores e o materialismo puro que predominava na estrutura social. Essa ponte através dos fenômenos provoca uma nova revolução no conhecimento, já que não possui caráter geográfico específico (ocorre em todos os lugares).
Denis enfatiza sobre os críticos do Espiritismo:
“É deveras engraçado ver pessoas, cujo interesse por essas questões apenas data de ontem, darem regras a homens como Allan Kardec, por exemplo, que só se atreveu a publicar os seus trabalhos ao cabo de anos de investigações laboriosas e de maduras reflexões, obedecendo nisso a ordens formais e bebendo em fontes de informação de que os nossos excelentes críticos nem sequer parecem ter idéia” (p. 49).
O Espiritismo veio ainda trazer consolo aos principais problemas morais da humanidade, ressaltando os casos da morte, da dor, do destino, dentre outros. Além do mais, as manifestações aconteciam até com pessoas educadas no seio da Igreja, com conceitos arraigados de céu e inferno, absolutamente contraditórios com suas crenças, portanto.
Como explicar, então, as formidáveis descrições da época sobre outras realidades se não pelos fenômenos sinceros? O maior indicativo sobre a qualidade do espírito manifestante é o conteúdo de suas comunicações.
“Podemos julgar as mensagens medianímicas principalmente pelos seus efeitos moralizadores, que inúmeras vezes tem melhorado muitos caracteres e purificando muitas consciências. É esse o critério mais seguro de todo o ensino filosófico” (p. 60)
Para Denis, o ensino dos espíritos deve ser aproveitado para uma união das sabedorias que exista nos dois mundos. O mundo material é limitado, enquando o imaterial possui uma vastidão de sentidos diferentes capazes de fazer toda diferença no conhecimento.
O dogma da ortodoxia não existe no Espiritismo, o que evita que haja estagnação das idéias e que não ocorra evolução do pensamento, algo que acontece hoe nas religiões mais tradicionais. Em suma:
DOGMA = CONTROLE
“Allan Kardec pôs-nos sempre de sobreaviso contra o dogmatismo e o espírito de seita; recomenda-nos sem cessar, nas suas obras, que não deixemos cristalizar o Espiritismo e evitemos os métodos nefastos que arruinaram o espírito religioso do nosso país” (p. 67)
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III – O PROBLEMA DO SER
O início do capítulo preocupa-se em demonstrar a existência da alma e de sua duplicação fluídica. O fato a ser atentado, é que o conceito de alma será examinado mais tarde, sendo importante apenas a concepção de que alma é imaterial e corpo é material.
“O organismo material não é o princípio da vida e das faculdades; é, ao contrário, o seu limite. O cérebro é um simples instrumento que serve ao espírito para registrar suas sensações” (p. 76)
A conjunção entre alma e corpo é fundamental para que haja equilíbrio. Qualquer problema de coordenação entre um ou outro acarreta desacerto. Uma alma virtuosa e cheia de conhecimento não pode manifestar-se em plenitude se o organismo (cérebro por exemplo) não estiver com plena capacidade de assimilação.
“Não é, pois, o organismo material o que constitui a personalidade, mas sim o homem interior, o ser psíquico. À medida que este se desenvolve e se afirma por sua própria ação na existência, vê-se a herança física e mental dos pais ir pouco a pouco se enfraquecendo e, muitas vezes, desaparecer” (p. 80).
O que também não existe é a herança dos antepassados persistindo no organismo físico, mas sim as noções de bem e mal, certo e errado que são intrínsecos à nossa mentalidade e se prestam aos mais diversos sentimentos, nas mais diversas criaturas e nas mais diversas circunstâncias.
“Não, o pensamento e a consciência não derivam de um universo químico e mecânico. Ao contrário, dominam-no, dirigem-no e subjugam-no do Alto” (p. 81).
“A ciência material não pode julgar coisas do espírito. Só o espírito pode julgar e compreender o espírito, e isso na razão do grau de sua evolução” (p. 81).
Só o espírito transcende e é atemporal. A humanidade corpórea não assimila a atemporalidade em seus conceitos, criando hipóteses baseadas nas falsas premissas do materialismo e da negação do caráter divino de alguns casos. Não digo “divino” como algo inexplicável (milagroso), um ‘mistério da fé’, mas sim, de manifestações espirituais e informações que estão além da atual assimilação científica e do conhecimento terrestre.
Quando da ignorância (falta do conhecimento), somos capazes de inventar as mais variadas hipóteses.
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IV – A PERSONALIDADE INTEGRAL
“Então se pôde ver que em nós se reflete, se repercute todo o Universo na sua dupla imensidade, de espaço e de tempo. Dizemos ‘de espaço’, porque a alma, nas suas manifestações livres e plenas, não conhece as distâncias. Dizemos ‘de tempo’, porque um passado inteiro dorme nela ao lado do futuro que aí jaz no estado de embrião” (p.83).
Denis detecta um desenvolvimento gradual da psicanálise como ciência, a partir da diferenciação entre sujeito, personalidade e doenças como dupla personalidade, possessão e fenômenos de regressão hipnótica. Ele exemplifica casos que envolvem os temas citados acima, bem como o caso da Srta. Beauchamp que possuía não só múltiplas personalidades, mas também uma entidade de incorporação (colocados na página 91).
“No seu conjunto, estes fenômenos demonstram uma coisa. É que, abaixo do nível da consciência normal, fora da personalidade comum, existem em nós planos de consciência, camadas ou zonas dispostas de tal maneira que, em certas condições, se podem observar alternações nesses planos. Vê-se então emergirem e manifestarem-se, durante certo tempo, atributos, faculdades que pertencem à consciência profunda, mas que não tardam a desaparecer para volverem ao seu lugar e tornarem a mergulhar na sombra e na inação” (p.94).
Nosso “eu ordinário” (predominante) é muito limitado pelo organismo físico e pela rotina do dia-a-dia, além de transparecer apenas uma pequena fração do que seria nosso “eu profundo”, que se manifesta geralmente durante o sonambulismo, o transe ou o sono (em desdobramento).
“A cisão [entre as consciências do “eu”] é, pois, apenas aparente. A única diferença entre os estados variados da consciência é uma diferença de graus” (p.96).
Se observarmos com atenção, é possível constatar a diferença do “eu” e de suas constantes modificações durante as fases da vida, considerando a infância, juventude, maturidade e velhice.
“Há em nós como um reservatório de águas subterrâneas, donde, em certas horas, rompe e sobe à superfície uma corrente rápida e em ebulição. Os profetas, os mártires de todas as religiões, os missionários, os inspirados, os entusiastas de todos os gêneros e de todas as escolas conheceram estes impulsos surdos e poderosos, que nos têm brindado com as maiores obras que hão revelado aos homens a existência de um mundo superior” (p.98).
O nosso “eu” nada mais é do que nosso próprio espírito que manifesta suas potencialidades nestes níveis diferentes em situações diferentes. É o espírito coordenando os órgãos do corpo (cérebro, por exemplo) de acordo com sua conveniência. É a aceitação de que o princípio inteligente reside no espírito e não na matéria.
Não há embate entre a psicologia demonstrada por Denis e a Doutrina Espírita, somente complemento.
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V – A ALMA E OS DIFERENTES ESTADOS DO SONO
“Que é então o sono?
É simplesmente a alma que se desprende, que sai do corpo. Diz-se: o sono é irmão da morte. Estas palavras exprimem uma verdade profunda” (p. 99)
Quando dormimos o nosso espírito sai do corpo, há uma natural ampliação dos sentidos e percepções, que são sentidas pelo espírito e transmitidas para o corpo (cérebro) pelo cordão fluídico.
O espírito ainda assim controla o seu envoltório carnal à distância, através da manipulação deste cordão:
“A marcha dos sonâmbulos, a noite, em lugares perigosos, com inteira segurança, é uma demonstração evidente deste fato” (p. 101).
O hipnotismo também desempenha um importante papel nestas questões, já que pode servir de chave para abrir a porta das percepções aguçadas do espírito e suas eventuais benesses sobre o corpo físico.
“Por outros termos, o hipnotismo é a aplicação, num grau mais intenso, das energias reparadoras que entram em jogo no sonho natural. A sugestão terapêutica é a arte de libertar o Espírito do corpo, de abrir-lhe uma saída pelo sono e permitir-lhe que exerça, com plenitude os seus poderes sobre o corpo doente” (p. 102).
A sugestão hipnótica é arma importante na cura de algumas mazelas e problemas, e abaixo há um pequeno quadro que os enumera (utilizando os dados da nota de rodapé número 58 – página 103):
Frutos da sugestão hipnótica e objetivos buscados |
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Há diferentes níveis de profundidade do sono, e um processo gradual para atingirmos o mais profundo deles. Quanto maior a profundidade, menores as percepções e consciências da vigília cotidiana, que passa a se misturar com a realidade do desprendimento, até que na maior profundidade, reina os sentidos da realidade espiritual.
Desde os antigos gregos há uma dupla definição da palavra “sonho”:
“ONAR” – de origem física;
SONHO Estão em Homero e Hipócrates.
“REPAR” – de origem psíquica;
Quadro baseado nas informações da nota de rodapé número 59 – página 104.
Por estas designações, o sonho de origem física seria o processo automático e fisiológico diário, enquanto o psíquico representa a clarividência. O ponto chave é a dificuldade de distingui-los perante os níveis de consciência do sono habitual.
“Durante o sono, a alma pode, segundo as necessidades do momento, aplicar-se a reparar as perdas vitais causadas pelo trabalho cotidiano e a regenerar o organismo adormecido, infundindo-lhe as forças tiradas do mundo cósmico, ou, quando está acabado esse movimento reparador, continuar o curso da sua vida superior, pairar sobre a Natureza, exercer as suas faculdades de visão a distância e penetração das coisas. Nesse estado de atividade independente vive já antecipadamente a vida livre do Espírito” (p.105).
Há uma questão colocada por Denis que remete a um importante fato:
“Quanto mais a alma se afasta do corpo e penetra nas regiões etéreas, tanto mais fraco é o laço que os une, tanto mais vaga a lembrança ao acordar. A alma paira muito longe na imensidade e o cérebro deixa de registrar suas sensações. Daí resulta não podermos analisar os nossos mais belos sonhos” (p. 107).
O que guardamos geralmente são sensações que nos trazem um sentimento de beleza, mas sem a clara impressão do que vimos e sentimos.
A memória atinge a vastidão quando induzida pela hipnose ou no sono normal. É maior na razão da profundidade. Há casos célebres de soluções de grandes problemas, de invenções, de músicas, de obras de arte que surgem a partir do momento em que é terminado o sono. Seriam obras de espíritos terceiros ou de nossas próprias potencialidades? Ambos.
“[Os sonhos premonitórios] Parecem indicar que a alma tem o poder de penetrar o futuro ou que este lhe é revelado por inteligências superiores” (p. 111).
Mas e quanto às percepções da alma nos sonhos? Quais suas qualidades?
De acordo com Denis (p. 113) são duas as espécies:
1) Visão à distância / Clarividência / Lucidez
2) Telepatia (“compreende a recepção e transmissão do pensamento, das sensações e dos impulsos motrizes” – p.113) / Telestesia (sensação e simpatia à distância).
Os casos de aparições, por exemplo, acontecem quando há o “desprendimento gradual da alma” (p. 114), fato que acontece de várias maneiras e em diferentes intensidades.
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VI – DESPRENDIMENTO E EXTERIORIZAÇÃO (PROJEÇÃO TELEPÁTICA)
Trata-se de uma classe de manifestações que acontecem sem a participação dos órgãos físicos. Comumente chamada de Telepatia.
“A telepatia, ou projeção à distância do pensamento e mesmo da imagem do manifestante, fez-nos subir mais um degrau na escala da vida psíquica. Aqui, achamo-nos na presença de um ato poderoso da vontade” (p. 121).
A comunicação acontece através da sintonização das vibrações entre as almas, evidenciando, de acordo com Denis, que a alma não é um agregado de compostos energéticos, mas sim o centro da vida e da vontade. O corpo não passa de um obstáculo neste caso. O autor ainda coloca diversos casos de transmissão de pensamentos a grandes distâncias, e ainda nos esclarece de que o fenômeno ocorre tanto no sono quanto na vigília.
“(…) Veremos a personalidade psíquica, a alma, destacar-se completamente do invólucro corpóreo e aparecer na sua forma de fantasma” (p. 124).
“A exteriorização ou desdobramento do ser humano pode ser provocado pela ação magnética. Fizeram-se experiências que tornavam impossível a dúvida. O paciente adormecido, desdobra-se e vai produzir, a distância, atos materiais” (p. 126).
Na página 128 o autor cita um exemplo de transmissão de palavras em latim entre os EUA e Inglaterra, datado de 1904. Nenhum dos médiuns conhecia a língua.
“O fenômeno que na Terra se chama telepatia não é outra coisa senão o processo de comunicação entre todos os seres pensantes na Vida Superior e a oração é uma das suas formas mais poderosas” (p. 129).
Denis afirma ainda que a telepatia será o novo estágio da evolução moral da humanidade, o próximo passo, já que:
“Quando o homem já não tiver segredos, quando se lhe puder ler no cérebro os pensamentos, ele não mais se atreverá a pensar no mal, e, por conseguinte, a fazer o mal. Assim, a alma humana elevar-se-á sempre, subindo pela escala dos desenvolvimentos infinitos” (p. 131).
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VII – MANIFESTAÇÕES DEPOIS DA MORTE
“Vimos a sua sensibilidade e os seus meios de percepção aumentarem na razão do afrouxamento dos laços que o prendem ao corpo” (p.133).
Assim disse Denis em relação ao espírito e suas manifestações estudadas até agora. Todas tinham algum vínculo com o corpo, e agora o capítulo tratará exclusivamente do espírito, desprendido totalmente do envoltório carnal, livre.
“Quer estes fenômenos se dêem durante a vida material ou depois, são idênticos nas suas causas, nas suas leis e nos seus efeitos, produzem-se segundo modos constantes” (p. 133).
O termo ‘sobrenatural’ fica então invalidado, já que os fenômenos são parte da natureza, independente apenas do corpo.
“A vida de cada um de nós no Além é o prolongamento natural e lógico da vida atual, o desenvolvimento da parte invisível do nosso ser. Há concatenação no domínio psíquico como no domínio físico” (p. 133-134).
O autor ainda cita diversos casos de aparições, documentados e comprovados cientificamente. Nas páginas 139 e 140 há a descrição das experiências do professor Lombroso na médium Eusapia Palladino, cujas condições físicas foram duramente cerceadas para que não houvesse dúvidas:
“O fato indiscutível é que com Eusapia tomaram-se as medidas de precaução mais absolutamente rigorosas contra a probabilidade de qualquer fraude, porque se lhe ligavam as mãos e os pés, ficando uns e outros cercados por um fio elétrico que, ao menor movimento punha em ação uma campainha” (p. 140).
No entanto, vemos alguns casos onde o médium não consegue transmitir totalmente a mensagem, ou esta tem falhas na constituição. A este respeito, Denis afirma que:
“Se se levarem em conta as dificuldades que comporta as comunicações de um espírito a ouvintes humanos, por meio de um organismo e, particularmente, de um cérebro que ele não apropriou, e que não deu flexibilidade mediante uma longa experiência; se se considerar que, em razão da diferença dos planos de existência, não se pode exigir de um desencarnado todas as provas que a um homem material se pediria, é preciso reconhecer que o fenômeno das incorporações é um dos que mais concorrem para demonstrar a espiritualidade e o princípio da sobrevivência” (p. 148).
O fato é que um espírito manipulando os órgãos físicos de uma terceira pessoa acaba por enfrentar limitações, e isso muitas vezes atrapalha a comunicação. Enfim, com todas as constatações que comprovam a continuidade da vida e o melhor entendimento das comunicações e fenômenos, o autor conclui que:
“Dilata-se nossa concepção da Vida Universal e das Obras Divinas e, ao mesmo tempo, a nossa confiança no futuro se fortifica. Vemos nas formas alternadas da existência carnal e fluídica o progresso do ser, o desenvolvimento da personalidade prosseguindo e uma Lei Suprema presidindo à evolução das almas através do tempo e do espaço” (p. 151).
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VIII – ESTADOS VIBRATÓRIOS DA ALMA (A MEMÓRIA)
“Toda alma tem, pois, a sua vibração particular e diferente. O seu movimento próprio, o seu ritmo, é a representação exata do seu poder dinâmico, do seu valor intelectual, da sua vibração moral.
Toda a beleza, toda a grandeza do Universo Vivo e resume na lei das vibrações harmônicas. As almas que vibram uníssonas reconhecem-se e chamam-se através do espaço. Daí as atrações, as simpatias, a amizade, o amor!” (p. 153).
“Cada estado mental está associado a um estado fisiológico. A evocação de um na memória dos sujets traz imediatamente a reaparição do outro” (p. 155).
Podemos imaginar aqui o estado de gravidez. Regredir a memória em alguns anos de uma mulher adulta pode leva-la a sentir as dores do parto.
“Dadas as flutuações constantes e a renovação integral do corpo físico em alguns anos, esse fenômeno seria incompreensível sem a intervenção do períspirito, que guarda em si, gravadas em sua substância, todas as impressões de outrora” (p. 155).
O períspirito é a chave de toda memória armazenada. À medida que a alma se desprende do corpo físico, ela tem acesso às antigas existências, memórias, sensações, como se procurasse num arquivo aqueles recursos passados. Com as vibrações plenas, o espírito possui a liberdade de vasculhar seu passado. É este ponto que se reflete numa hipnose, ela será mais profunda e exata, tanto quanto provocar uma vibração entre alma e corpo compatíveis com as lembranças.
“Todos os aspectos variados da memória, a sua extinção na vida normal, o seu despertar no transe e na exteriorização, tudo se explica pela diferença dos movimentos vibratórios que ligam a alma e o seu corpo psíquico ao cérebro material” (p. 159).
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IX – EVOLUÇÃO E FINALIDADE DE ALMA
“A alma, dissemos, vem de Deus; é, em nós, o princípio da inteligência e da vida. Essência misteriosa, escapa à análise, como tudo quanto dimana do Absoluto (…) a alma é uma partícula da essência divina projetada no mundo material” (p. 161).
No Livro dos Espíritos (Livro II – Capítulo II), no item “Da Alma” – Questão 134, temos alguns esclarecimentos para complementar a definição de Denis:
“134 – Que é a alma?
– Um espírito encarnado.
– Que era a alma antes de se unir ao corpo?
– Espírito
– As almas e os Espíritos são, pois, identicamente a mesma coisa?
– Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que revestem temporariamente um envoltório carnal para se purificar e esclarecer” (p. 90 – 164ª Edição – ED. IDE – 2006).
O espírito possui caminho lento e transcendental em sua evolução, passando por inúmeros envoltórios carnais até atingir a plenitude de conhecimentos e o nível moral a que se destina.
É sabido que não há regressão espiritual, somente evolução. Poderíamos praticar o mal? Sim, mas não significa regressão, já que reconhecemos o caminho correto e o preço / responsabilidade de nos desviar. Ou seja, não regredimos, apenas aumentamos os débitos e provas. Sempre seremos julgados de acordo com nosso nível de conhecimento e moral.
Prática do Bem à ELEVAÇÃO MORAL = PASSO ADIANTE
CONHECIMENTO
Prática do Mal à ESTAGNAÇÃO MORAL = CONTRAÇÃO DE DÉBITOS
“Se há na Terra menos alegria do que sofrimento, é que este é o instrumento por excelência da educação e do progresso, um estimulante para o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor, física e moral, forma a nossa experiência. A sabedoria é o prêmio” (p. 162).
“A matéria é o obstáculo útil; provoca o esforço e desenvolve a vontade; contribui para ascensão dos seres, impondo-lhes necessidades que os obrigam a trabalhar. Como, sem a dor, havíamos de conhecer a alegria; sem a sombra, apreciar a luz; sem a privação, saborear o bem adquirido, a satisfação alcançada? Eis aqui a razão por que encontramos dificuldades de toda sorte em nós e em volta de nós” (p. 163).
Há na continuidade do capítulo um acordo científico, exposto por Denis, que fala da convergência entre as evoluções orgânicas e as ações do mundo invisível. Desde a planta, passando pelos animais, a consciência atinge sua plenitude na Terra através dos homens. Mas a inteligência humana é que consolida o material com as Leis Eternas.
O debate atual entre darwinistas (evolucionistas) e religiosos criacionistas, significa apenas uma discussão cega que opõe duas posições. Ambos discutem com evidências pouco científicas, e debatem em cima de teses, enquanto o Espiritismo veio preencher a lacuna principal da evolução e sua consolidação com uma metafísica divina.
“A teoria da evolução deve ser completada pela da percussão, isto é, pela ação das potências invisíveis, que ativa e dirige esta lenta e prodigiosa marcha ascensional da vida do globo” (p. 167).
O Livro dos Espíritos é, mais uma vez, esclarecedor a este respeito.
459 Os Espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?
– A esse respeito, sua influência é maior do que podeis imaginar. Muitas vezes são eles que vos dirigem.
(Livro dos Espíritos – ED FEB – 2005 – Página 180)
Desprezar, portanto, a importância dos espíritos é desprezar o debate sério em si.
“Somos feitos de sombra e luz; somos a carne com todas as suas fraquezas e o espírito com as suas riquezas latentes, as suas esperanças radiosas, os seus surtos grandiosos, e o que em nós está em todos os seres se encontra” (P. 171).
Após cumprir toda escala evolucionária e passar todas as provas e sofrimentos, quando atingirmos um patamar maior, deixaremos de ser ajudados e passaremos a ajudar, não seremos mais egoístas, e sim caridosos com o próximo. Justamente o que ensina os caminhos tortuosos da evolução, que nos trás espinhos e ensinam a paciência, trazem os problemas e ensinam a tolerância. Atingiremos a capacidade de possuir a mais alta compaixão para nosso irmão, algo que só a superioridade moral trará.
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X – A MORTE
Morte é uma palavra que está longe de significar o fim ou aniquilamento, e a Natureza demonstra aspectos inúmeros de renovação, ao invés de fim. Por que seria diferente com o homem?
“A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências, mas basta esse instante para revelar-se o sentido grave e profundo da vida” (p. 176).
“Toda morte é um parto, um renascimento; é a manifestação de uma vida até aí latente em nós, Vida Invisível da Terra, que vai reunir-se à vida invisível do Espaço” (p.176).
O autor nos indica que após um breve período de confusão mental após o desencarne, há a retomada de consciência e a tomada de posse novamente de nossas faculdades, agora adaptadas à nova realidade imaterial. Aqueles que nos foram caros são capazes de receber as lembranças alegres e as orações que lhe são destinadas.
Com certa poesia, Denis diferencia a morte na visão corriqueira e na visão Espírita:
“Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente. Para nós [Espíritas] ela é a hora bendita em que o corpo cansado volve à grande Natureza para deixar à psique, sua prisioneira, livre passagem para Pátria Eterna” (p. 178).
Mas considerando esta verdade, por que nutrimos grande temor em encarar a morte?
“É quase sempre porque a morte nos parece a perda, a privação súbita de tudo o que fazia a nossa alegria” (p. 180).
A morte nada mais representa do que a continuidade do Espírito e sua libertação, é a chance de encarar sua realidade imaterial e de verificar o progresso feito em mais uma existência carnal. Mas no ato da morte, qual a melhor e mais digna forma de cuidarmos do envoltório carnal que resta?
“Pergunta-se muitas vezes se a cremação é preferível à inumação[5] sob o ponto de vista da separação do Espírito. Os invisíveis consultados, nos respondem que, em tese geral, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento, doloroso mesmo para a alma apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões (…) a inumação deve ser preferida (…) porque permite aos indivíduos apegados à matéria que o Espírito lhes saia lenta e gradualmente do corpo” (p. 183 – Nota de Rodapé).
“No instante da morte, dizem-nos os Espíritos, quase nunca há dor; morre-se como se adormece. Esta opinião é confirmada por todos aqueles a quem a profissão e o dever chamam frequentes vezes para cabeceira dos moribundos” (p. 184).
Apesar deste fato, muitas mortes são dolorosas e penosas. Podem estar ligadas à natureza moral de quem sofre, como pode também ser uma conclusão / prova relacionada à uma outra existência.
Após o desencarne, durante a confusão mental (que dura mais ou menos de acordo com o teor moral do Espírito), as orações e pensamentos sinceros, irradiam luz no caminho e atenuam os efeitos deste estado. A oração sincera e improvisada, repleta de sentimentos bondosos e de piedade, auxilia no desprendimento, enquanto a dor cega e torna tudo mais difícil. O sofrimento do encarnado em relação à partida do que acaba de desencarnar é sim um obstáculo à sua retomada de consciência.
Mas e as mortes coletivas? Aquelas que acontecem em catástrofes que ceifam muitas vidas de uma só vez?
“Quando, em consequência de hábitos desregrados, se gastaram os recursos vitais antes da hora marcada pela Natureza, tem-se de voltar a perfazer, numa existência mais curta, o lapso de tempo que a existência precedente devia ter normalmente preenchido. Sucede que os seres humanos, que devem dar esta reparação, se reúnem num ponto pela força do destino, para sofrerem numa morte trágica, as consequências de atos que têm relação com o passado anterior ao nascimento” (p. 187).
Quanto aos suicidas, Denis afirma que se enquadram na mais grave ofensa possível, que as consequências de tirar a própria vida refletem-se por muito tempo, especialmente manifestadas em enfermidades quando da reencarnação. Além do mais, é um ato falho, já que os problemas não desaparecerão, mas pelo contrário, serão retomados e resolvidos, ponto a ponto, por quanto tempo for necessário. Um novo fragmento do Livro dos Espíritos para ajudar a esclarecer:
946 O que pensar do suicida que tem por objetivo escapar das misérias e decepções deste mundo?
– Pobres Espíritos, que não têm coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aqueles que sofrem, e não aos que não têm força nem coragem. As aflições da vida são provas ou expiações; felizes aqueles que as suportam sem queixas, porque serão recompensados! Infelizes, ao contrário, os que esperam sua salvação do que, na incredulidade deles, chamam de acaso ou sorte! O acaso ou a sorte, para me servir da vossa linguagem, podem, de fato, favorecê-los transitoriamente, mas é para fazê-los sentir mais tarde e mais cruelmente o vazio dessas palavras.
(O Livro dos Espíritos – 2005 – página 313 – Parte Quarta – Questão 946)
O conhecimento apurado da Doutrina Espírita é fundamental para uma tenra passagem no processo de desencarnação e retomada da consciência.
“Quando se aproxima a hora derradeira, os moribundos entram muitas vezes na posse de seus sentidos psíquicos e percebem os seres e as coisas do Invisível” (p. 189).
O autor coloca, a partir deste ponto, alguns exemplos de casos documentados relativos às impressões sobre o tema da desencarnação. Inclusive alguns com descrição de médiuns videntes que acompanharam o processo e puderam enxergar alguns detalhes interessantes.
Interessante apontar também que no rodapé da página 193, Denis traz algumas citações de casos de loucos ou alienados que recobram sua lucidez quando da proximidade da desencarnação. Longe de ser uma regra, mas é interessante notar que este fato deve-se à superposição do corpo fluídico em relação ao físico (que possuía alguma dificuldade no cérebro provavelmente). Em casos onde a loucura / alienação é uma prova de origem no períspirito e refletida no envoltório carnal, isso não aconteceria.
“Em resumo, o melhor meio de conseguirmos uma morte suave e tranquila é viver dignamente, com simplicidade e sobriedade, é viver uma vida sem vícios e nem fraquezas, desapegando-nos antecipadamente de tudo o que nos liga à matéria, idealizando a nossa existência, povoando-a de pensamentos elevados e ações nobres” (p. 196).
Esta mesma receita será válida na espiritualidade.
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XI – A VIDA NO ALÉM
Denis inicia o capítulo com um breve resumo do que foi escrito até agora na primeira parte, “O Problema do Ser”.
“O ser humano, dissemos, pertence desde esta vida a dois mundos. Pelo corpo físico está ligado ao mundo visível; pelo corpo fluídico, ao invisível. O sono é a separação temporária dos dois invólucros; a morte é a separação definitiva. A alma, nos dois casos, separa-se do corpo físico e, com ela, a vida concentra-se no corpo fluídico. A vida de além-túmulo é simplesmente a permanência e a libertação da parte invisível do nosso ser” (p. 199).
Todas as religiões e filosofias apresentavam um aspecto vago e vazio até então sobre todas estas questões relacionadas à morte e o futuro após o ‘final’ da vida. A ciência simplesmente restringe-se a analisar o homem físico, seu organismo e o envoltório carnal, desprezando todo o resto. O materialismo aliado a esta forma de ciência tornou-se impotente para contribuir.
Foi somente com o início das publicações espíritas coordenadas por Kardec e alguns cientistas predecessores como Swedenborg (dentre muitos outros), que fizeram pesquisas realmente balizadas em ciência, não partindo de um pressuposto materialista.
Foi justamente dos limites materialistas que o Espiritismo se fortaleceu.
“Os Espíritos dos defuntos têm-se manifestado, aos milhares, não somente com o cunho de caráter e a totalidade das recordações que constituem a sua personalidade moral, mas também com as feições físicas e as particularidades de sua forma terrestre, conservadas pelo períspirito ou corpo etéreo” (p. 201).
“O nascimento é como que uma morte para a alma, que por ela é encerrada com o seu corpo etéreo no túmulo da carne” (p. 202).
Após a reconstrução do raciocínio que nos trouxe até este capítulo XI, Denis disserta pouco mais sobre a confusão mental que toma conta da alma após a desencarnação.
“Livre do fardo material que a oprimia, a alma acha-se ainda envolvida na rede dos pensamentos e das imagens – sensações, paixões, emoções, por ela geradas no decurso das suas vidas terrestres; terá de familiarizar-se com a sua nova situação, entrar no conhecimento do seu estado, antes de ser levada para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade” (p. 204).
“Os Espíritos inferiores conservam por muito tempo as impressões da vida material. Julgam que ainda vivem fisicamente e continuam, às vezes, durante anos, o simulacro das suas ocupações habituais. Para os materialistas, o fenômeno da morte continua a ser incompreensível. Por falta de conhecimentos prévios confundem o corpo fluídico com o corpo físico e conservam as ilusões da vida terrestre” (p. 205).
Em suma, não é só o conhecimento, mas também a inclinação moral que pode alterar nossas percepções sobre o que nos rodeia. Mas e quanto às crenças que as pessoas mantinham durante sua vida física? De que forma elas podem alterar as percepções após a morte?
“Os crentes ortodoxos vagueiam na incerteza e procuram a realização das promessas do sacerdote, o gozo das beatitudes prometidas” (p. 205).
“Os Espíritos céticos e, com eles, todos aqueles que se recusaram a crer na possibilidade de uma vida independente do corpo, julgam-se mergulhados em um sonho. Este sonho só se dissipa quando acaba o erro em que estes Espíritos laboram” (p. 206).
A concepção de vida de cada um é fundamental para sua participação na vida invisível. É um fator que também implica em quem ou o que encontraremos.
“A lei dos agrupamentos no Espaço é a das afinidades. A ela estão sujeitos todos os Espíritos. A orientação de seus pensamentos leva-os naturalmente para o meio que lhes é próprio; porque o pensamento é a própria essência do mundo espiritual, sendo a forma fluídica apenas o vestuário. (p. 208).
Vamos encontrar aqueles que nos foram caros, mas aqueles que, principalmente, vibram em nossa frequência. Compartilham nossa moral e nossos pensamentos / vontades.
“O pensamento cria, a vontade edifica. A causa de todas as alegrias e de todas as dores está na consciência e na razão” (p. 209).
“Para um criminoso não há descanso, não existe esquecimento. Sua consciência, justiceira inflexível, persegue-o sem cessar. Debalde procura ele escapar-lhe às obsessões; o suplício só poderá acabar se, convertendo-se o remorso em arrependimento, ele aceita novas provações terrestres, único meio de reparação e regeneração” (p. 213).
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XII – AS MISSÕES, A VIDA SUPERIOR
Todos os Espíritos, de uma forma ou de outra, estão envolvidos em tarefas ou missões. Claro que a Inteligência Superior designa esses objetivos de acordo com as necessidades individuais de cada um.
“Todo Espírito que deseja progredir, trabalhando na obra de solidariedade universal, recebe dos Espíritos mais elevados uma missão particular apropriada às suas aptidões e ao seu grau de adiantamento” (p. 215).
Das diversas formas de auxílio aos necessitados até o avanço das ciências celestes, todos estão trabalhando ou estudando algo.
De acordo com o autor, as mais belas missões são as dos Espíritos de Luz, mais evoluídos, que para nos auxiliarem passam por um sofrível processo de adensamento.
“Se soubéssemos a quantos constrangimentos se impõem estes pobres Espíritos para chegarem até nós, corresponderíamos melhor a suas solicitações, empregaríamos esforços enérgicos para nos desapegarmos de tudo o que é vil e impuro, unindo-nos a eles na comunhão divina” (p. 216).
E Denis também esclarece que estes Espíritos de Luz não estão naquele céu imaginário, mas sim em uma esfera ativa e itinerante:
“Já não é o céu frio e vazio dos materialistas, nem mesmo o céu contemplativo e beato de certos crentes; é um universo vivo, animado, luminoso, cheio de seres inteligentes em via constante de evolução. Quanto mais os seres espirituais se elevam, tanto mais se acentua a sua tarega, tanto mais aumentam de importância suas missões” (p. 218 – 219).
A evolução espiritual acontece e acontecerá com todos. Mesmo para os que desceram a baixos níveis de prática ética-morais, inevitavelmente a evolução os arrebatará. Não por uma obrigação, mas sim através de ensinamentos práticos, de dificuldades, de lágrimas, de dor, mas sempre amparada pelos bons Espíritos, que consolarão por inspiração todos aos que quiserem ouvi-los.
“À medida que ela [Alma] se vai distanciando das esferas inferiores, onde reinam as influências pesadas onde se agitam as vidas grosseiras, banais ou culpadas, as existências de lenta e penosa educação, a alma vai percebendo as altas manifestações da inteligência, da justiça, da bondade, e sua vida torna-se cada vez mais bela e divina” (p. 219).
E como tudo é feito por pequenos passos em nossa escada evolutiva, cada degrau percorrido apura mais nossos sentidos espirituais e a capacidade de assimilação através das novas habilidades perceptivas que se expandem concomitantemente.
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SEGUNDA PARTE – O PROBLEMA DO DESTINO
XIII – AS VIDAS SUCESSIVAS. A REENCARNAÇÃO E SUAS LEIS
Até agora todo o raciocínio se deteve na problemática da vida terrestre e sua extinção, entrando agora no ponto de reiniciar uma existência (doutrina da reencarnação / vidas sucessivas).
“A lei dos renascimentos explica e completa o princípio da imortalidade. (…) Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à custa dos próprios esforços, de suas lutas, de seus sofrimentos, que ela se redime de seu estado de ignorância e de inferioridade e se eleva, de degrau a degrau, na Terra primeiramente e, depois, através das inumeráveis estâncias do céu estrelado” (p. 225).
A reencarnação é a forma racional de se admitir qualquer pensamento atemporal relacionado à provas e eventuais dificuldades das quais fugimos em vida, mas que cumpriremos em novas oportunidades.
O raciocínio que conduz o filósofo francês é todo baseado em questionamentos bastante ponderáveis e sinceros. Por que alguns possuem muito desde o berço? Por que outros tão pouco? Por que alguns nascem com doenças terríveis e limitadoras, enquanto outros nascem plenos? Seria parcialidade divina? E quanto aos prodígios, tão avançados em relação aos outros?
“O homem, levado a crer na ação de forças cegas e fatais, na ausência de toda justiça distributiva, resvala insensivelmente para o ateísmo e o pessimismo. Ao contrário, tudo se explica, se torna claro com a doutrina das vidas sucessivas” (p. 227).
“O homem constrói o seu próprio futuro. Até agora, na sua incerteza, na sua ignorância, ele o construiu às apalpadelas e sofreu a sua sorte sem poder explicá-la” (p. 229).
Nem todas as almas possuem o mesmo desenvolvimento e as mesmas aptidões. Eis também um motivo para as diferenças que encontramos entre os seres humanos. Alguns estão bem desenvolvidos moralmente e intelectualmente, enquanto outros estão apenas iniciando sua busca de melhoramento e ainda são reféns da ignorância (ausência do conhecimento) e rústicos hábitos.
“Assim, no encadeamento das nossas estações terrestres, continua e completa-se a obra grandiosa de nossa educação, o moroso edificar de nossa individualidade, de nossa personalidade moral” (p. 230).
A edificação moral permeia as provas, especialmente as baseadas em riqueza e pobreza materiais. Dos excessos, do materialismo, e do caminho até a crença sincera e a abnegação / caridade. São provas mais ou menos influenciatórias em nosso caminho, mas sempre presentes em todas as encarnações.
“Logo, não há fatalidade. É o homem, por sua própria vontade, quem forja as próprias cadeias, é ele quem tece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte, a rede de seu destino” (p. 231).
Não há ‘punição’ ou ‘recompensa’, apenas a lei da justiça divina organizando os fatores de acordo com o merecimento, obedecendo sempre a ação e reação de nossos pensamentos e atos.
Uma vez que certo nível de aperfeiçoamento é atingido, após muitas encarnações, a alma poderá renascer em melhor sociedade, se estiver enquadrada em seu nível evolucionário e seu perispírto estiver consideravelmente depurado das impurezas.
Assim como na formação da família, são as regras da atração e da afinidade que aproximam as almas uma das outras.
“O Espírito adiantado, cuja liberdade aumenta na razão direta de sua elevação, escolhe o meio onde quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força misteriosa a que obedece instintivamente; mas todos são protegidos, aconselhados, amparados na passagem da vida do Espaço para a existência terrestre, mais penosa, mais temível que a morte” (p. 238 – 239).
O perispírito é que serve de ligação entre o espírito e a matéria. Ele se adequa desde a gestação e infância às situações da carne e as resultantes da utilização do corpo. Seu potencial fica limitado pelas influências do invólucro carnal e a alta densidade do plano físico.
Muitas vezes e em muitas situações, acabamos por encontrar pessoas que conhecemos há muito tempo, visitamos lugares que são, de alguma forma familiar, mas não temos muita ou alguma consciência deste fato. Porém, nosso perispírito guarda tudo arquivado em sua constituição. Quando estamos para reencarnar, todos os fatores passados influenciam nas escolhas que fazemos antes mesmo de nascer.
“Assim, tornamos a encontrar em nosso caminho a maior parte daqueles que constituíram nossa alegria ou fizeram nossos tormentos” (p. 241).
Nosso livre arbítrio é tão pleno na justiça divina, que podemos escolher em alguns casos, as provas às quais seremos submetidos durante a encarnação, especialmente aquelas que entendemos não estarmos prontos à enfrentar. Vale sempre ressaltar que, em alguns casos, nossas provas envolvem outros encarnados, então faz-se mister que todos estejam em plenas condições de ao menos tentar superar as provações. Uma modificação em qualquer elo desta corrente pode ser trágico para o bom andamento de toda uma encarnação.
“O nosso futuro está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão direta dos nossos esforços para o praticarmos. Toda vida nobre e pura, toda missão superior é o resultado de um passado imenso de lutas, de derrotas sofridas, de vitórias ganhas contra nós mesmos; é o remate de trabalhos longos e pacientes, a acumulação de frutos de ciência e caridade colhidos, um por um, no decurso das idades” (p. 248).
Não há consenso sobre o quanto um espírito aguarda até reencarnar. Muito depende de sua própria vontade, muito das condições morais em que se encontra. É muito ou pouco tempo até por determinação divina.
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XIV – AS VIDAS SUCESSIVAS. PROVAS EXPERIMENTAIS. RENOVAÇÃO DA MEMÓRIA.
Após demonstrar a lógica implícita à doutrina das vidas sucessidas, Léon Denis procura refutar objeções feitas à reencarnação.
- Se já vivemos antes, por que não lembramos das existências anteriores?
De acordo com o filósofo francês, são várias as causas, dentre as principais:
– Fisiológica (do corpo físico / material);
“Em consequencia da diminuição do seu estado vibratório, o Espírito, cada vez que toma posse de um corpo novo, de um cérebro virgem de toda a imagem, acha-se na impossibilidade de exprimir as recordações acumuladas das suas vidas precedentes” (p. 251).
No entanto, a facilidade na assimilação de alguns assuntos e aprendizados, não deixa de ser algo indicativo sobre algo que constitui nosso passado. A memória não se apaga, apenas torna-se inacessível no perispírito devido a materialidade densa da vida atual.
“Para recuperar a plenitude de suas vibrações e reaver o fio das lembranças em si ocultas, é necessário que ele saia e se separe do corpo; então percebe o passado e pode reconstituí-lo nos menores fatos. É isso o que se dá nos fenômenos de sonambulismo e do transe” (p. 252 – 253).
– Psicológia (teoria do “eu”).
“Os dois fatores que constituem a permanência e mantém a identidade, a personalidade do “eu”, são a memória e a consciência” (p. 253).
Ou seja, nossa memória, quando no envólucro carnal é parcial, assim como nossa consciência. A única forma de combinar os dois, em sua plenitude, só pode ocorrer na imaterialidade.
Já é muito complicado para quase todos se recordar de eventos ocorridos em remota infância. Porém todos estes fatos estão gravados em nosso subconsciente. Quando acessado via hipnose, por exemplo, permite que o ser reviva todas aquelas experiências, com a consciência reduzida. A reprodução dos erros infantis de pronúncia e comportamento é um indício que nos leva a aceitar a veracidade destas regressões, e também a considerar como correto assumir que as lembranças estão sim arquivadas.
As diversas experiências citadas por Dénis entre as páginas 256 e 261 corroboram o acima exposto.
“Em resumo, todo o estudo do homem terrestre fornece-nos a prova de que existem estados distintos da consciência e da personalidade” (p. 262).
O filósofo francês ainda cita exemplos de afogados resgatados antes de falecer e pessoas socorridas após sofrerem acidentes, que assistem sua vida em milésimos de segundo, o que também comprova a memória das recordações longínquas presente em nossa consciência.
Além do mais, pensando na extrema imaterialidade do Espírito e a extrema materialidade do corpo, resta a função intermediária do perispírito como fundamental para comunicação entre ambos. Ou seja, é uma constituição complexa que permite a vida.
“O perispírito é o instrumento de precisão que aponta com fidelidade absoluta as menores variações da personalidade. Todas as volições do pensamento e todos os atos da inteligência tem nele sua repercussão” (p. 266).
“A experimentação psíquica encerra a chave de todos os fenômenos da vida; está destinada a renovar inteiramente a ciência moderna, lançando luz viva sobre grande número de questões obscuras até ao presente” (p. 268).
Dénis não poderia caminhar em mais correto rumo. A ciência psíquica até aquela época era baseada no materialismo. Com a hipnose, o transe e os conhecimentos do Espírito trazidos pela obra de Kardec, havia um enorme espaço de inovação e aterações teóricas.
A partir da página 270, o autor traz casos documentados de regressão à períodos anteriores ao nascimento e à vidas passadas. Uma descrição em particular feita pelo pesquisador Coronel Albert de Rochas, chama a atenção pela concordância com a Doutrina Espírita.
“Todos os sujets, quaisquer que fossem as suas opiniões no estado de vigília, apresentavam o espetáculo de uma série de individualidades cada vez menos adiantadas moralmente, à medida que se remontava o curso das idades. Em cada existência expiava-se, por uma espécie de pena de talião, as faltas da existência precedente e o tempo que separava duas encarnações passava-se num meio mais ou menos luminoso, segundo o estado de adiantamento do indivídulo” (p. 276 – 277).
Os exemplos vão até a página 290, mas a cada nova história, novos fatores e impressões são adicionados.
Mas outros ainda questionarão as anotações científicas e relatos no sentido acima exposto, mesmo que publicados e aceitos por uma parte da comunidade científica. Afinal de contas, não seriam passíveis de fraude?
“Em cada nova existência que se desenrola, a atitude, o gesto, a linguagem do sujet mudam; a expressão do olhar difere, tornando-se mais dura, mais selvagem, à medida que se recua na orgem dos tempos” (p. 291).
“Que talento, que arte, que perfeição de atitude, de gesto, de acentuação não seria necessário despender de maneira contínua, durante tantas sessões, para imaginar e simular cenas tão realistas, às vezes dramáticas, na presença de experimentadores hábeis em desmascarar a impostura, de práticos sempre precavidos contra o erro ou o embuste?
Tal papel não pode ser atribuido a jovens sem nenhuma experiência de vida, com instrução elementar mui limitada [refere-se ao fato de os jovens geralmente terem de 16 a 18 anos que eram utilizados nestes experimentos]” (p. 293).
A partir da página 300, o autor inicia o estudo das influências das vidas anteriores e as impressões que podem causar na encarnação atual. Dénis cita casos de pessoas que se recordavam de outras encarnações durante o estado de vigília. No entanto, é preciso ressaltar que trata-se de raros exemplos, quase impossíveis de se encontrar na média populacional.
“Para eles não era uma teoria a pluralidade das existências; era um fato de percepção direta” (p. 300).
Já a partir da página 306, a referência do autor são crianças que acabam tendo acesso involuntário ao invisível devido à adaptação ao corpo físico. De modo muito grosseiro, é como se uma parte do perispírito ficasse para fora do corpo físico e enviasse as percepções dessa realidade imaterial ao cérebro. Problema resolvido naturalmente assim que a criança cresce um pouco e perde este contato.
Mas por que alguns lembram de suas vidas anteriores e outros não?
Esse fato é estreitamente ligado ao fator moral.
“A persistência das recordações acarretaria a persistência das idéias errôneas, dos preconceitos de casta, tempo e meio, numa palavra, de toda uma herança mental, de um conjunto de vistas e coisas que nos custaria tanto mais a modificar, a transformar, quanto mais vivo estivesse em nós” (p. 319).
A idéia fundamental inserida na doutrina das vidas sucessivas, é de que as encarnações representariam uma total ruptura com nosso passado e memórias. Afinal de contas, partido de um nível zero, temos espaço para operar as mudanças morais e intelectuais que necessitamos, rumo ao bem. Com o passar do tempo, nossas mudanças seriam suficientes para promover uma alteração de hábitos e de vibrações, e de encarnação em encarnação estaríamos sucetíveis aos efeitos benéficos da auto-doutrinação. Caso contrário, cada encarnação seria rodeada de martírios e erros, e a evolução seria muito mais lenta, já que estaríamos preso a um arcabouço cada vez maior de lembranças negativas e dívidas morais para com outros.
“O homem que vem a este mundo para agir, para desenvolver suas faculdades, conquistar novos méritos, deve olhar para a frente e não para trás” (p. 321).
Com o maior adiantamento moral, nosso perispírito terá maior liberdade de ação e a consulta à seus arquivos será facilitada. Teremos condições então, de enfrentar nossos atos e confrontar0nos a melhora.
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XV – AS VIDAS SUCESSIVAS. AS CRIANÇAS-PRODÍGIO E A HEREDITARIEDADE.
“Podem-se considerar certas manifestações precoces do gênio como outras tantas provas das preexistências, no sentido de serem uma revelação dos trabalhos realizados pela alma em outros ciclos anteriores” (p. 327).
Para assinalar os limites da hereditariedade (já que muitas crianças possuem aptidões incríveis, mas não relacionadas em nada com os pais) Dénis coloca vários exemplos entre as páginas 328 e 337.
Mas ele ainda considera válidas duas hipóteses a se analisar 1) Hereditariedade e 2) Mediunidade.
1) Hereditariedade
“A hereditariedade é, ninguém o ignora, a transmissão das propriedades de um indivíduo as seus descendentes; as influências hereditárias são consideráveis nos dois pontos de vista, físico e psíquico” (p. 338).
Para citar casos mais simples de observação, gêmeos idênticos em aparência física, durante a vida desenvolvem tendências e aptidões tão opostas que a hereditariedade simplesmente não é suficiente para justificar.
“Só a lei dos renascimentos poderá fazer-nos compreender como certos Espíritos, encarnados, mostram, desde os primeiros anos, a facilidade de trabalho e a assimilação que caracterizam as crianças-prodígio” (p. 339).
O filósofo francês utiliza um termo formulado por F. Myers (também citado por ele), a “Consciência Subliminal”, definida como:
“(…) reservas consideráveis de conhecimentos armazenados na consciência profunda e que, daí, transbordam para a consciência física, de modo que produzem as manifestações precoces do talento e do gênio” (p. 339).
“O trabalho anterior que cada Espírito efetua pode ser facilmente calculado, medido pela rapidez com que ele executa de novo um trabalho semelhante, sobre um mesmo assunto, ou também pela prontidão com que assimila os elementos de uma ciência qualquer. Deste ponto de vista, é de tal modo considerável a diferença entre os indivíduos, que seria incompreensível sem a noção das existências anteriores” (p. 342).
O que também explica as diferentes velocidades de aprendizado e facilidades de assimilação de determinado conteúdo por cada indivíduo.
O autor ainda nos lembra de que são raríssimos os casos de descendentes de gênios que também foram geniais.
2) Mediunidade
“(…) o gênio deve muito à inspiração e que esta é uma das formas da mediunidade. Mas acrescentávamos que , mesmo nos casos em que esta faculdade especial nitidamente se desenha, não se pode considerar o homem de gênio como um somples instrumento, assim como o é, antes de tudo, o médium própriamente dito” (p. 346).
Em suma, simplificando ao máximo, a mediunidade exige um mínimo de condições para se realizar e manifestar, mas e as crianças que utilizam enormes talentos sem preparo algum? Logo, a mediunidade em si é insuficiente para resolver o debate.
Os seres geniais o são devido à características, habilidades e experiências acumuladas ao longo de muitas existências. Aproveitaram ao máximo os caminhos que apareciam rumo à evolução e são Espíritos muito antigos, de alta e salutar bagagem.
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XVI – AS VIDAS SUCESSIVAS. OBJEÇÕES E CRÍTICAS.
Algumas objeções ao esquecimento das vidas passadas já foram respondidas por Denis nos capítulos anteriores. Agora o autor trabalha um enfoque pouco mais voltado à filosofia da religião.
- [ARGUMENTO DOS RELIGIOSOS CATÓLICOS E OUTROS QUE ABRAÇAM A TEORIA DAS PENAS ETERNAS CONTRA A DOUTRINA DAS VIDAS SUCESSIVAS] – Desestimula o homem a praticar as melhores virtudes, já que ele possui toda eternidade e várias vidas para corrigir seus erros. A doutrina das vidas sucessivas seria então um estímulo ao vício e más-práticas.
O contraponto de Denis é feito em uma análise simples que prova a infelicidade desta colocação:
“A teoria das penas eternas não é, como vimos, no próprio pensamento da Igreja, mais do que um espantalho destinado a amedontrar os maus; mas a ameaça do inferno, o temor dos suplícios, eficaz nos tempos de fé cega, já hoje não reprime a ninguém. No fundo, é uma impiedade para com Deus, de quem se faz um ser cruel, castigando sem necessidade e sem ser para corrigir” (p. 351).
O filósofo francês inicia então a defesa das vidas sucessivas, basicamente argumentando que a reencarnação e a compreensão da atemporalidade acaba por esclarecer-nos quanto aos nossos destinos e metas, nos deixa entender as causas dos nossos males e dificuldades, além de exterminar a idéia de que todos sofremos em decorrência de um ‘pecado original’.
“É por isso que sua influência moral será mais profunda que a das fábulas infantis do inferno e do paraíso; oporá freio às paixões, mostrando-nos as consequencias dos nossos atos, recaindo sobre a nossa vida presente e as nossas vidas futuras, semeando nelas germens de dor ou de felicidade. Ensinando-nos que a alma é tanto mais desgraçada quanto mais imperfeita e culpada, estimulará nossos esforços para o bem” (p. 352).
É o nosso próprio mérito que exime a culpa e soluciona os problemas, o que serve de estímulo para nossa melhora mental, física e moral. Nenhuma autoridade pode ‘absolver’ nossas faltas e pecados, criando a ilusão de que tudo se resolve desta simples maneira.
“(…) o homem, cuja mente foi iluminada pela nova luz, aprende a retificar o seu proceder, a precatar-se, a preparar com cuidado o futuro” (p. 352).
- [OUTRA OBJEÇÃO FEITA À DOUTRINA DAS VIDAS SUCESSIVAS] – Se os males são merecidos e resultantes dos erros pretéritos de cada um, são endossados pela justiça divina, então a piedade e compaixão configurariam-se em erros, já que o sofrimento seria ‘justo’. A tendência então seria abandonarmos os sofredores.
Trata-se de argumentação capiciosa. A contra-argumentação de Denis segue uma linha doutrinária simples:
“O Moderno Espiritualismo ensina-nos que os homens são solidários uns com os outros, unidos por uma sorte comum. As imperfeições sociais, de que todos mais ou menos sofremos, são o resultado de nossos erros coletivos no passado. Cada um de nós traz a sua parte de responsabilidade e tem o dever de trabalhar para o melhoramento do destino geral” (p. 353).
Além dos pontos acima, cabe ressaltar que a ação da caridade em si é benéfica para quem pratica e exemplifica para aqueles que observam a conduta. Os que causaram sofrimentos no passado e sofrem no presente, já sem privilégios de ordem material, podem ser compelidos ao ódio, à inveja e aos vícios. Um ciclo que pode ser interrompido pela prática da caridade e sua exemplificação. A prática da caridade é sempre a ação mais importante perante todas as outras. Nela está contido o amor, a justiça e a paz da doutrina promulgada por Jesus Cristo.
“Aquele que, podendo ajudar os seus semelhantes, deixa de fazê-lo, falta à lei de solidariedade” (p. 354).
Denis ainda nos lembra de alguns casos onde o sofrimento não é uma prova (expiação), mas sim um pedido para que aquele Espírito evolua. Nossa caridade poderia ser um júbilo, que o egoísmo desta objeção negaria.
“A caridade é a mais bela das virtudes; só ela dá acesso aos mundos felizes” (p. 355).
As idéias de responsabilidade e conduta moral embutidasna doutrina das vidas sucessivas, acaba por repelir a maioria das pessoas, pelo grau de complexidade que apresenta. Seria muito mais fácil adotar os preceitos religiosos da fé cega e da absolvição instantânea de nossos erros e atitudes malévolas[6].
“Somos nesta, como na outra vida, o que nos fizemos, intelectual e moralmente” (p. 356).
O esquecimento das vidas anteriores não constitui um ‘regresso forçado’ na evolução já atingida. Como já visto anteriormente, há uma intuição, um ‘limite moral’ que antecipa a maturidade do encarnado e o conduz à evolução através de novos aprendizados.
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XVII – AS VIDAS SUCESSIVAS. PROVAS HISTÓRICAS.
Neste capítulo, Denis traz as antigas origens da crença nas vidas sucessivas (na região onde hoje se encontra a índia, passando por outros Estados asiáticos, onde é dominante até os dias de hoje).
Após breve análise relativa às crenças antigas, o filósofo francês perpassa trechos de livros sagrados aos Judeus e Cristãos, analisando a presença da crença nas vidas sucessivas que ali estão contidas. Os maiores exemplos estão nos evangelhos de Mateus (11:11-15) e João (3:3-8).
Na segunda parte deste capítulo, Léon foca a França, passa por uma análise dos Druídas (a quem atribui grande conhecimento e profundidade nas questões das vidas sucessivas) até Kardec, que acabou por pularizar esta crença (no caso uma certeza) através do Espiritismo. Lembrando que Allan Kardec é um nome druida.
“Todos os nossos atos, consoante sua natureza, traduzem-se por um acréscimo ou diminuição de liberdade; daí, para os culpados, o renascimento em invólucros miseráveis, prisões da alma, imagens e repercussão de seu passado” (p. 395).
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XVIII – JUSTIÇA E RESPONSABILIDADE. O PROBLEMA DO MAL
“A alma deve conquistar, um por um, todos os elementos, todos os atributos de sua grandeza, de seu poder, de sua felicidade, e, para isso, precisa do obstáculo, da natureza resistente, hostil mesmo, da matéria adversa, cujas exigências e rudes lições provocam seus esforços e formam sua experiência. (…) É indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói” (p. 398-399).
“A alma, criada perfeita, como o querem certos pensadores, seria incapaz de aquilatar e até de compreender sua perfeição, sua felicidade. Sem termos de comparação, sem permutas possíveis com sés semelhantes, perfeitos quanto ela, sem objetivo para sua atividade, seria condenada à inação, à inércia, o que seria o pior dos estados; porque viver, para o Espírito, é agir, é crescer, é conquistar sempre novos títulos, novos méritos, um lugar cada vez mais elevado na hierarquia luminosa e infinita” (p. 399).
“Trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino!” (p. 400).
Ou seja, Denis constrói aqui uma síntese de tudo o que foi visto até agora. As vidas sucessivas são, no geral, um pequeno passo de progresso em cada encarnação (claro que em muitos casos existe uma estagnação, já que o progresso ocorre em ritmos individualmente diferentes). Mas é através do sofrimento e das dificuldades que atingimos o crescimento e aprendizado edificantes.
É através das provas que vamos adicionando os elementos necessários à depuração de nosso perispírito e sua conseqüente elevação.
Entendo que temos sim uma alma perfeita, mas que necessita de devida lapidação e aquisição de qualidades para sua elevação. Somos reféns de nossas inobservâncias, ignorâncias e desleixos quanto à nossa própria potencialidade. O aprendizado consiste justamente na alteração de hábitos, comportamentos e atitudes, que são o resultado de nossos pensamentos e qualidade mental. Alteração que se dá, na esmagadora maioria dos casos, através do sofrimento e da dor. Não podemos, no entanto, descartar aqueles que evoluem em trilha mais rápida, utilizando o livre arbírtrio de forma benéfica e salutar na edificação.
“Mas só é poderoso e durável aquilo que teve o tempo necessário para germinar, sair da sombra, subir para o céu” (p. 403).
Denis inicia agora uma parte de análise mais profunda, identificando os elementos que determinam a superioridade do Espiritismo no que concerne à noção de mal, quando comparada aos materialistas, católicos e ortodoxos, por exemplo.
“Com o novo Espiritualismo a questão [do mal] toma aspecto muito diferente. O mal é apenas o estado transitório do ser em via de evolução para o bem; o mal é a medida da inferioridade dos mundos e dos indivídulos, é também, como vimos, a sanção do passado” (p. 404).
A maior diferença em relação ao mal e seu papel, é a atemporalidade com que só o Espiritismo consegue lidar; entendendo que o mal é uma fase passageira na evolução, e que a justiça divina opera o adiantamento através da dor. Os materialistas e católicos entendem o mal como próprio do ser humano, inerente á uma ‘natureza humana’ (especialmente os materialistas) ou influência demoníaca (como apregoada muitas vezes pelos católicos).
Esbarram (ambos) no tempo, limitado a esta vida, que recicla o mal geração após geração. No caso dos católicos, se admitem a influência demoníaca sobre as pessoas, seria subestimar Deus pensar que Ele não teria força suficiente para realizar a mesma influência, mas de forma benéfica.
“O mal, a dor, o sofrimento, atributos da vida terrestre, têm forçosa razão de ser; são o chicote, a espora que nos estimulam e nos fazem andar para frente” (p. 405).
Este parágrafo está estreitamente ligado à noção de justiça, assunto do qual o filósofo Denis trata a seguir.
“Ora, a doutrina das vidas sucessivas é um resplendor da idéia de justiça; dá-lhe realce e brilho incomparáveis. (…) As conseqüências dos nossos atos constituem uma estreita relação de causa e efeito [basicamente denominado nas doutrinas asiáticas de Karma]” (p. 407).
No entanto, alguém pode imaginar que quando o Mestre Jesus disse “Meu Reino não é deste mundo”, ele autorizava qualquer tipo de ação sobre a Terra, até as mais nefastas. E depois, o perdão viria de uma fonte sublime externa, eximindo-nos, muitas vezes, de pensar nas conseqüências que os atos desencadeiam.
“O Cristianismo, renunciando a este mundo, procrastinava a felicidade e a justiça para o outro, e, se seus ensinamentos podiam bastar aos simples e aos crentes, tornavam fácil aos hábeis céticos dispensar-se da justiça, pretextando que seu reino não era da Terra” (p. 407).
O Espiritsmo então repele os argumentos de má interpretação de Jesus, já que:
“A justiça deixa de ser transferida para um domínio quimérico e desconhecido. É aqui mesmo, é em nós e em roda de nós que ela exerce o seu império” (p. 407)
“O ideal de justiça deixa de ser afastado para um mundo transcedental; podemos definir-lhe os termos em cada vida humana, renovada em sua relação com as leis universais, no domínio das causas reais e tangíveis” (p. 408).
A Doutrina das vidas sucessivas é importante elemento para resolver os questionamentos de Denis colocados no início da obra. Ela vem arrematar antigas crenças e dogmas impostos, que caíram em descrédito já naquela época, substituindo o conteúdo fantasioso por algo mais tangível e lógico, sem fugir à fé. Trouxe também uma resposta racional aos materialistas.
A noção de reencarnação impacta até nas leis e na convivência social, já que deveríamos sempre tentar legislar e atingir uma convivência justa e pacífica entre todos. Afinal, todos retornaremos a este orbe algumas vezes em variadas condições.
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XIX – A LEI DOS DESTINOS
Neste Capítulo, Denis procura ressaltar a finalidade da justiça divina e como ela interfere em nossa programação de vida.
“Notemos, primeiro que tudo, que o funcionamento da justiça humana nada nos oferece que se possa comparar com a Lei Divina nos destinos. Esta se executa por si mesma, sem intervenção alheia, tanto para os indivíduos, como para as coletividades” (p. 415).
“Esta lei imutável é, antes de mais nada, uma lei de equilíbrio. Estabelece a ordem no mundo moral, da mesma forma que as leis de gravitação e da gravidade asseguram a ordem e o equilíbrio no mundo físico. Seu mecanismo é, ao mesmo tempo, simples e grande. Todo mal se resgata pela dor” (p. 415 – 416).
Na condição exposta nesta parte, o funcionamento da justiça divina acontece simultaneamente à nossa existência. Faz parte de nosso cotidiano. Nossos pensamentos, práticas, hábitos e comportamentos atenuam ou expandem as correlações de fatos do que chamamos “destino”.
Porém, faz-se necessário ressaltar que Léon Denis foi um filósofo. Ele não psicografou esta obra de um espírito de escol, mas sim derivou conclusões e expandiu alguns estudos baseando-se em Kardec. Apesar da tremenda importância de sua obra, vale ressaltar que a Justiça Divina atua também e, principalmente, no período entre encarnações[7]. Quando chegamos ao mundo espiritual, há uma transição que nos traga até um ponto compatível com nosso nível de consciência e pensamento. Eis o ponto onde há convergência com o que Denis expõe.
Por indução lógica é possível entender que um ser humano cujas obras foram apenas maldades cruéis na Terra, não será recebido pelos Arcanjos do Senhor, mas sim pelo estado de consciência que o aproxima de iguais. Logo, terá ao seu lado tantos iguais quanto possível. Assim colhem-se os frutos de uma encarnação. Se forem amargos e podres, uma nova encarnação poderá atenuar o quadro com a colaboração da Justiça Divina também em vida. Mas não somente nela.
“Os nossos atos e pensamentos traduzem-se em movimentos vibratórios, e seu foco de emissão, pela repetição freqüente dos mesmos atos e pensamentos, transforma-se pouco a pouco, em poderoso gerador do bem ou do mal” (p. 416).
Em suma, como visto em toda esta obra, nenhum sofrimento é eterno, ele vai durar o quanto nossa consciência desejar.
Kardec, na obra “O Céu e o Inferno”[8], traça algumas explicações e perspectivas para o surgimento e agravemento das penas eternas e para noção material de justiça divina.
“2. – A doutrina das penas eternas teve sua razão de ser, como a do inferno material, enquanto o temor podia constituir um freio para os homens pouco adiantados intelectual e moralmente.
Na impossibilidade de apreenderem as nuanças tantas vezes delicadas do bem e do mal, bem como o valor relativo das atenuantes e agravantes, os homens não se impressionariam, então, a não ser pouco ou mesmo nada com a idéia das penas morais.
Tampouco compreenderiam a temporalidade dessas penas e a justiça decorrente das suas gradações e proporções.
3. – Quanto mais próximo do estado primitivo, mais material é o homem.
O senso moral é o que de mais tardio nele se desenvolve, razão pela qual também não pode fazer de Deus, dos seus atributos e da vida futura, senão uma idéia muito imperfeita e vaga.
Assimilando-o à sua própria natureza, Deus não passa para ele de um soberano absoluto, tanto mais terrível quanto invisível, como um rei despótico que, fechado no seu palácio, jamais se mostrasse aos súditos. Sem compreenderem o seu poder moral, só o aceitam pela força material. Não o vêem senão armado com o raio, ou no meio de coriscos e tempestades, semeando de passagem a destruição, a ruína, semelhantemente aos guerreiros invencíveis.
Um Deus de mansuetude e cordura não seria um Deus, porém um ser fraco e sem meios de se fazer obedecer. A vingança implacável, os castigos terríveis, eternos, nada tinham de incompatível com a idéia que se fazia de Deus, não lhes repugnavam à razão. Implacável também ele, homem, nos seus ressentimentos, cruel para os inimigos e inexorável para os vencidos, Deus, que lhe era superior, deveria ser ainda mais terrível.
Para tais homens eram precisas crenças religiosas assimiladas à sua natureza rústica. Uma religião toda espiritual, toda amor e caridade não podia aliar-se à brutalidade dos costumes e das paixões” (p. 68-69).
Ou seja, o materialismo involuntário da mente humana atrasada e sua moral antiga, só aceitariam um Deus e uma justiça que estivesse de acordo com seus costumes. As leis eram subordinadas ao sentimento de violência e amoralidade. Os contornos de ética eram muito diferentes dos atuais. Com a evolução humana, foi-se percebendo a predominância do Espírito e do seu estado evolucionário sobre as ações, mesmo as cotidianas. Onde continua Kardec:
“A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e de vontade própria.
O Espírito é quem dá à carne as qualidades correspondentes ao seu instinto, tal como o artista que imprime à obra material o cunho do seu gênio. Libertado dos instintos da bestialidade, elabora um corpo que não é mais um tirano de sua aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o homem passa a comer para viver e não mais vive para comer.
A responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intacta; mas a razão nos diz que as conseqüências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento intelectual do Espírito. Assim, quanto mais esclarecido for este, menos desculpável se torna, uma vez que com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto”. (p.88)
Logo, o conhecimento traz a responsabilidade das ações concordantes com os mandamentos morais expostos por Jesus e pelos ensinamentos que deixou sob a Terra. O adiantamento moral e científico nos permite hoje distinguir o certo do errado, e assumindo a responsabilidade das ações inconseqüentes que venhamos a tomar.
Sujeito |
Boas |
Sujeito |
FONTE |
Qualidade das Irradiações Mentais |
Esfera Psíquica Afetada |
Sujeito |
Ruins |
“As vibrações de seus atos, de seus pensamentos maus, depois de haverem efetuado sua trajetória, volvem a ele, mais cedo ou mais tarde, e o oprimem, o apertam na necessidade de reformar-se” (p. 417).
“Os pensamentos de ódio e vingança, os desejos de prejudicar, provenientes do exterior, só podem agir sobre nós e influenciar-nos desde que encontrem elementos que vibrem uníssonos com eles” (p. 417).
Devido à inclinação moral ainda negativa em grande parte da sociedade encarnada sobre a Terra, explica-se a proliferação do mal e suas mazelas resultantes. A expansão das irradiações negativas só pode ser contida com a porção benéfica das mesmas.
Na segunda parte deste capítulo, Denis trabalha mais profundamente importantes detalhes relativos ao sofrimento na lei de repercussão dos atos, que:
“(…) quando implica acerbas expiações, reparações dolorosas, grandes Espíritos intervêm para regular-lhe o exercício e acelerar a marcha das almas em via de evolução” (p. 418).
Apesar de entendermos que a dor e o sofrimento desempenham importantes fatores no processo evolutivo, nem todos os que sofrem são espíritos maus / ruins, em resgate. Muitas vezes são espíritos que escolheram provas para própria evolução ou estão em função missionária / renúncia para com um familiar / próximo.
“Em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é sempre proporcional em intensidade à ação realizada. Por isso podemos dizer: o ser colhe exatamente o que semeou” (p. 418-419).
A colheita do bem acontece quando nossa moral e nossos atos tornaram-se benéficos e benévolos o suficiente, de forma a adequar a densidade do perispírito encarnação após encarnação, tornando-o cada vez mais depurado. Nada na Natureza é feito às pressas.
“Esta ação contínua do pensamento e da vontade, exercida no decorrer dos séculos e das existências sobre o perispírito, faz-nos compreender como se criam e desenvolvem nossas aptidões físicas, assim como as faculdades intelectuais e as qualidades morais” (p. 419).
A evolução moral pode ser sentida também no cotidiano. O autor referiu-se à constatação da boa sensação que temos quando praticamos o bem ou beneficiamos alguém de forma simples e justa, sempre com o real intuito, sem hipocrisias de qualquer ordem.
“Alguma coisa parece expandir-se em nós; uma chama acende-se ou aviva-se nas profundezas do ser.
Esta sensação não é ilusória. O Espírito inlumina-se a cada pensamento altruísta, a cada impulso de solidariedade e de amor puro. Se estes pensamentos e atos se repetem, se multiplicam, se acumulam, o homem acha-se como que transformado ao sair de sua existência terrestre; a alma e seu invólocro fluídico terão adquirido um poder de radiação mais intenso” (p. 420).
O contrário também é verdadeiro. Cada ato de maldade, cada vício, cada crime, e suas repetições, trarão conseqüências por várias encarnações. Em maior grau, serão refletidas em enfermidades tremendas.
“Toda transgressão da lei implica diminuição, mal-estar, privação de liberdade” (p. 421).
A lei divina opera então, diretamente dentro de nós, e não como algo externo que simplesmente se impõe. A situação do nosso perispírito demostra o que provocamos a nós mesmos, além das conseqüências que trouxemos à nossa própria evolução.
“É, pois, na intimidade secreta de nossos pensamentos e na viva luz de nossos atos que devemos procurar a causa eficiente da nossa situação presente e futura” (p. 423).
É de suma importância, então, que percorramos a trilha deixada pelo Cristo. É imprescindível boa vontade e as melhores aspirações possíveis para que nossa melhora seja efetiva. As dificuldades e tentações batem à porta de nossa mente a todo instante, e basta apenas um deslize para colocarmos tudo a perder. Precisamos aprender a sustentar nossa integridade a qualquer custo. A alta moral e a dedicação ao bem são recompensados pela nossa própria depuração.
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TERCEIRA PARTE – AS POTÊNCIAS DA ALMA
XX – A VONTADE
O autor inicia este capítulo reafirmando que as condições determinantes para nosso desenvolvimento moral e, consequentemente, espiritual, estão inseridas em nós mesmos, elas existem em nosso íntimo, e são alcançadas através do bom uso de nossas potencialidades.
“Todos os grandes ensinamentos concordam neste ponto: É na vida íntima, no desabrochar de nossas potências, de nossas faculdades, de nossas virtudes, que está o manancial das felicidades futuras” (p. 433).
Porém, na maioria dos casos, o ser humano ignora sua própria consciência, e escolhe conhecer muitas coisas banais e as escolhe em detrimento de preciosas oportunidades de se melhorar e progredir sob ajuda de entidades superiores que sempre estão dispostos a nos ajudar e inspirar.
“Há em toda alma humana dois centros, ou melhor, duas esferas de ação e expressão. Uma delas, circunscrita à outra, manifesta a personalidade, o ‘eu’, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade, sua insuficiência. Enquanto ela for a reguladora de nosso proceder, temos a vida inferior semeada de provações e males. A outra, interna, profunda, imutável, é, ao mesmo tempo, a sede da consciência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em nós. É somente quando este centro de ação domina o outro, quando suas impulsões nos dirigem, que se revelam nossas potências ocultas e que o Espiritismo se afirma em seu brilho e beleza. É por ele que estamos em comunhão com ‘o Pai que habita em nós’, segundo as palavras do Cristo, como o Pai que é o foco de todo o amor, o princípio de todas as ações” (p. 434).
Após uma análise do que foi acima colocado, fica claro que toda mudança só obterá êxito se a vontade do sujeito for predominantemente forte, sendo suficiente para superar todos os outros obstáculos de inferioridade que se apresentem. Inferioridade esta que é presente, quase sempre, na maioria dos que transitam na Terra hoje. A vontade dirigida ao rumo correto do Cristo representa estrada dura, mas retificante, cujo caminho também nos leva a melhorias reais e resultados concretos.
“A vontade é a maior de todas as potências; é, em sua ação, comparável ao ímã. A vontade de viver, de desenvolver em nós a vida, atrai-nos novos recursos vitais; tal é o segredo da lei de evolução” (p. 435).
“O princípio de evolução não está na matéria, está na vontade, cuja ação tanto se estende à ordem invisível das coisas como à ordem visível e material. Esta é simplesmente a conseqüência daquela” (p. 436).
Com a plena consciência destes fatos ou não, é pela vontade em si que agimos e atuamos efetivamente na lei de causa e efeito. É através da vontade, controlada ou não, que impactamos de forma benigna ou maligna o equilíbrio da Justiça Divina.
Em outra obra de Léon Denis, “Depois da Morte[9]” encontramos outra definição complementar sobre a vontade e uma característica importante sobre a mesma, que influenciará mais tarde no estudo da força envolvida no pensamento.
“A vontade é a faculdade soberana da alma, a força espiritual por excelência, e pode mesmo dizer-se que é a essência da sua personalidade. Seu poder sobre os fluídos é acrescido com a elevação do Espírito. No meio terrestre, seus efeitos sobre a matéria são limitados, porque o homem se ignora e não sabe utilizar-se das forças que estão em si” (p. 277-278)
“Todo ato da vontade, já o dissemos, reveste uma forma, uma aparência fluídica, que se grava no invólucro perispirítico” (p. 279).
Denis, na obra “No Invisível[10]”, esclarece outra propriedade importante no que concerne à vontade em si:
“Existe em cada um de nós um foco invisível cujas radiações variam de intensidade e amplitude conforme nossas disposições mentais. A vontade lhes pode comunicar propriedades especiais; nisso reside o segredo do poder curativo dos magnetizadores” (p. 243-244).
“A vontade de aliviar, de curar – dissemos – comunica ao fluído magnético propriedades curativas. O remédio para os nossos males está em nós” (p. 250).
Denis busca no oriente alguns exemplos do poder da vontade e sua influência sobre o corpo físico, citando exemplos de extrema resistência à dor, demonstrada na Yoga indiana e outros elementos incomuns.
“Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços” (p. 443).
E ao final do capítulo, Denis faz uma espécie de prece, tão bela e harmonioza quanto tantas, mas que guarda profundo nível moral, que nos incentiva à busca incessante por nos melhorar.
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XXI – A CONSCIÊNCIA. O SENTIDO ÍNTIMO
“A alma é, como demonstraram os ensinos precedentes, uma emanação, uma partícula do Absoluto” (p. 447).
“A consciência é, pois, como diria William James, o centro da personalidade, centro permanente, indestrutível, que persiste e se mantém através de todas as transformações do individuo. A consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar, querer. É uma e indivisível” (p. 450).
O mais importante aqui é depreender que a consciência é uma, mas apresenta vários aspectos, classificados por Denis como:
a) Físico[11]: “a faculdade de concentrar as sensações externas, coordená-las, defini-las, perceber-lhes as causas e determinar-lhes os efeitos” (p. 450).
Um melhor desenvolvimento desta área da consciência desencadeará uma melhora real no processo de depuração da alma, multiplicando os aspectos que podem ser percebidos e melhorados através de uma assimilação de maior qualidade.
Sentido Físico |
ALMA |
Canaliza e ordena as percepções |
Superficiais |
Recebe as transmissões do sensorium e julga na proporção de sua evolução. |
Percepções dispersas e diversas |
Sensorium |
b) Subliminal: “distingue as regras e as coisas do mundo metafísico. É esse sentido profundo, desconhecido, inutilizado para maior parte dos homens, que certos experimentadores designaram pelo nome de consciência subliminal”.
É na intuição, o sentido íntimo, que inspirou grandes avanços e descobertas, que o sentido físico colocou em prática posteriormente.
“Assim como existe um organismo e um sensorium físicos, que nos põem em relação com os seres e as coisas do plano material, assim também há um sentido espiritual por meio do qual certos homens penetram desde já no domínio da vida invisível. Assim que, depois da morte, cair o véu da carne, esse sentido tornar-se-á o centro único de nossas percepções.
É na extensão e desenvolvimento crescente desse sentido espiritual que está a lei de nossa evolução psíquica, a renovação do ser, o segredo de sua iluminação interior e progressiva” (P. 452).
Como este sentido íntimo é ignorado pela maioria dos encarnados, tornou-se subdesenvolvido. A crença cega no materialismo científico ou mesmo a fé cega, foram responsáveis por tornar cada vez maior o desprezo pelas benesses que poderíamos desfrutar se déssemos mais valor a este sentido. Quanto será que deixamos de progredir? Impossível dizer.
Logo, SENTIDO FÍSICO + SUBLIMINAL = DEPURAÇÃO E PROGRESSO quando trabalham juntos em comunhão com o bem.
“A mediunidade, em suas formas tão variadas, é também a resultante de uma exatação psíquica, que permite entrem os sentidos da alma em ação, substituam por um momento os sentidos físicos e percebam o que é imperceptível para os outros homens” (p.462).
“A intuição não é, pois, as mais das vezes, senão uma das formas empregadas pelos habitantes do mundo invisível para nos transmitirem seus avisos, suas instruções. Outras vezes será a revelação da consciência profunda à consciência normal”. (p. 466).
Ou seja, a consciência pode atuar em vários níveis metapsíquicos, seja através da mediunidade em si ou da intuição apenas, mas a condição moral do indivíduo e sua depuração influenciam diretamente não só na qualidade da comunicação e das informações, bem como na fidelidade em transmitir o que foi realmente enviado através da dimensão espiritual.
“No exercício da mediunidade intuitiva no estado de vigília, muitos desanimam diante da impossibilidade de distinguir as idéias que nos são próprias das que nos são sugeridas” (p. 468).
Para corroborar este trecho, o Livro dos Espíritos, Cáp. IX – Questões 459-464 esclarecem bastante:
II INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E AS NOSSAS AÇÕES.
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
–Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito freqüentemente são eles que vos dirigem.
460. Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos?
–Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto e freqüentemente bastante contraditórios. Pois bem: nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas idéias que se combatem.
461. Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos?
–Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso. De resto, não há grande interesse para vós nessa distinção, e é freqüentemente útil não o saberdes: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade ; se tomar o mau caminho, sua responsabilidade será maior.
462. Os homens de inteligência e de gênio tiram sempre suas idéias de si mesmos?
–Algumas vezes as idéias surgem de seu próprio Espírito, mas freqüentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar.
[Kardec] Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos, Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite. Quando uma coisa permanece vaga é que assim deve ser para o nosso bem.
463. Diz-se algumas vezes que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
–Pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações.
464. Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
–Examinai-o: os bons Espíritos não aconselham senão o bem: cabe a vós distinguir.
Através da reforma íntima nos qualificamos sempre para evolução moral. É seguindo os princípios do Evangelho de Jesus e através também das mentalizações superiores que vamos traduzir a verdadeira caridade em atos práticos, com ações de elevado cunho. Eis que então teremos o melhor em todos os níveis de nossas consciências funcionando em prol da evolução.
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XXII – O LIVRE ARBÍTRIO
Denis inicia este capítulo colocando a importância da ‘Liberdade’, bem como sua relevância para humanidade. Sem ela, há um freio na busca pela evolução e pelo progresso, pois as limitações tornariam o ser um escravo de suas necessidades.
“A liberdade e a responsabilidade são correlativas ao ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem ela, não seria ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável da de liberdade.” (p. 477)[12].
“A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos aprova ou censura segundo a natureza de nossos atos” (P. 477).
É possível deduzir que a consciência exerce o julgamento com base na bagagem moral intuitiva que carrega aquele ser a muito tempo, e que passou por muitas depurações. Mas também é justo dizer que várias alterações destes conceitos, ou até reformas, podem acontecer ao longo de uma vida.
“O livre-arbítrio é, pois, a expansão da personalidade e da consciência. Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão” (P. 478).
Eis que a vontade se apresenta novamente como ponto fundamental para o progresso do Espírito, sendo o impulso necessário para o início da Reforma Íntima e a consequente mudança para melhor no que tange às aspirações morais.
“Até agora, tanto sob o ponto de vista teológico como determinista, a questão [do livre-arbítrio] tinha ficado quase insolúvel. Nem doutro modo podia ser, pois que cada um daqueles sistemas partia do dado inexato de que o ser humano tem de percorrer uma única existência. A questão muda, porém, inteiramente de aspecto se se alargar o círculo da vida e se se considerar o problema à luz que projeta a doutrina dos renascimentos. Assim, cada ser conquista a própria liberdade no decurso da evolução que tem de perfazer” (p. 481).
A doutrina das vidas sucessivas é, mais uma vez, importante na determinação de paradigmas evolucionários da alma. É possível assumir que as produções teológicas e deterministas partiram de um erro que tornava tudo um processo cego. Passaram a dar demasiada importância à aspectos transitórios e materiais, tratando-os como definitivos e concretos em ambiente limitado. A incapacidade de lidar com a temporalidade de uma existência limitava esforços e capacidades.
Quando o elemento da atemporalidade (várias existências) é claro, o Espírito adquire não só todo o incentivo do Consolador, mas a disposição em aceitar e pensar em termos atemporais, que reduz a relevância dos erros e vidam o progresso. Visão que traz otimismo e esperança em nós mesmos, e também na Providência Divina.
As visões obscuras e viciadas do passado, não resistem a este choque filosófico.
“O livre-arbítrio, a livre vontade do Espírito exerce-se principalmente na hora das reencarnações. Escolhendo tal família, certo meio social, ele sabe de antemão quais são as provações que o aguardam, mas compreende, igualmente, a necessidade dessas provações para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos, despir seus preconceitos e vícios. Estas provações podem ser também conseqüência de um passado nefasto, que é preciso reparar, e ele aceita-as com resignação e confiança, porque sabe que seus grandes irmãos do Espaço não o abandonarão nas horas difíceis” (p. 482).
Toda essa conjuntura elimina as “fatalidades” ou o “acaso” das vidas e do futuro. O acaso é a desculpa que a ignorância formula.
As concepções e renovações de pensamento e idéias trazidas pela idéia de livre-arbítrio e reencarnação deveriam conduzir até uma revisão das punições e das razões de criminalidade, já que a igualdade legal (humana) pressupõe o nascimento como marco zero e a maioridade legal como aptidão ao entendimento de todos os deveres e direitos.
“Muitas vezes o mau, o criminoso não é, na realidade, mais do que um Espírito novo e ignorante em que a razão não teve tempo de amadurecer. (…) É por isso que as penalidades infligidas deveriam ser estabelecidas de modo que obrigassem o condenado a refletir, a instruir-se, a esclarecer-se, a emendar-se. A sociedade deve corrigir com amor e não com ódio, sem o que se torna criminosa” (p. 483).
Jesus exemplificou melhor do que qualquer um, a capacidade de correção que o amor pode impulsionar.
“O Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as leis universais, que lhe são externas, se tornarem internas e conscientes pelo próprio fato de sua evolução. No dia em que ele se penetrar da lei e fizer dela a norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui, domina e governa a si mesmo” (p. 483).
Liberdade e moral caminham juntas, mas só o Espírito moralmente elevado e depurado, pode aproveitar integralmente as benesses da liberdade.
“No estado de ignorância, é uma felicidade para ela [alma] estar submetida a uma direção. Mas, quando sábia e perfeita, goza da sua liberdade na luz divina” (p. 484).
Nada mais apropriado de lembrar após essa consideração de Denis, do que o ditado muito utilizado pelo ser humano hoje: ‘A ignorância é uma bênção’. Nada mais ilustrativo de nossa condição moral. Denis encerra o capítulo com uma frase que resume bem a questão do livre-arbítrio e do ser humano em relação a ele.
“O homem é o obreiro de sua libertação” (p. 485).
Encontramos mais esclarecimentos no Livro dos Espíritos (V – LIVRE ARBÍTRIO).
843. O homem tem livre arbítrio nos seus atos?
–Pois se tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina.
844. O homem goza do livre arbítrio desde o nascimento?
–Ele tem a liberdade de agir, desde que tenha a vontade de o fazer. Nas primeiras fases da vida a liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com as faculdades. Estando os pensamentos da criança em relação com as necessidades da sua idade, ela aplica o seu livre arbítrio às coisas que lhe são necessárias.
845. As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do seu livre arbítrio?
–As predisposições instintivas são as do Espírito antes da encarnação; conforme for ele mais ou menos adiantado, elas podem impeli-lo aatos repreensíveis, no que ele será secundado por Espíritos que simpatizem com essas disposições; mas não há arrastamento irresistível, quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Ver item 361).
846. O organismo não influi nos atos da vida? E se influi, não o faz com prejuízo do livre arbítrio?
–O Espírito é certamente influenciado pela matéria, que pode entravar as suas manifestações. Eis porque, nos mundos em que os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade. Mas o instrumento não dá faculdades ao Espírito. De resto, é necessário distinguir neste caso as faculdades morais das faculdades intelectuais. Se um homem tem o instinto do assassínio, é seguramente o seu próprio Espí rito que o possui e que lho transmite, mas nunca os seus órgãos. Aquele que aniqüila o seu pensamento para se ocupar apenas da matéria faz-se semelhante ao bruto, e ainda pior, porque não pensa mais em se premunir contra o mal. É nisso que ele se torna fal toso, pois assim age pela própria vontade. (Ver item 367 e seguintes, Influência do organismo).
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XXIII – O PENSAMENTO
O pensamento é objeto de estudo de muitas obras atuais no Espiritismo. Hoje, entendemos que as emanações do pensamento são fundamentais para canalizar o bem ou o mal. O pensamento é reflexo de nossa condição mental e é base de nossas ações.
“O pensamento é criador”. (p. 487)
“Mais cedo ou mais tarde todo produto do espírito reverte para seu autor com suas consequências, acarretando-lhe, segundo o caso, o sofrimento, uma diminuição, uma privação de liberdade, ou, então, satisfações íntimas, uma dilatação, uma elevação do ser” (p. 487).
O pensamento nos sintoniza com Espíritos bons ou mais, cuja moralidade será compatível com as emanações mentais. Toda ação ruim parte de um pensamento ruim.
“A alma humana percorre seu caminho cercada de uma atmosfera brilhante ou turva, povoada pelas criações de seu pensamento. É isto, na vida do Além, sua glória ou sua vergonha” (p. 487-488).
Bons pensamentos, cuja moral é elevada, nos tornariam passíveis de maior inspiração, de maior entendimento e até capacitação para lidar com os aspectos evolutivos da humanidade. Tornaria-nos abertos a amar de forma mais completa e a seguir os preceitos do Evangelho de Jesus de forma mais completa. Tornaria a abundante produção científica de hoje, porém vazia de sentido, mais completa. E Denis identificou isso desde a sua época:
“Agora, a última pergunta. Por que é que, no meio do imenso labor e da abundante produção intelectual que caracterizam nossa época, se encontram tão poucas obras viris e concepções geniais? Porque deixamos de ver as coisas divinas com os olhos da alma! Porque deixamos de crer e amar!
Remontemos, pois, às origens celestes e eternas; é o único remédio para nossa anemia moral. Dirijamos o pensamento para as coisas solenes e profundas. Ilumine-se e complete-se a Ciência com as intuições da consciência e as faculdades superiores do espírito” (p. 494).
E esse é um dos caminhos ensinados pelo Espiritismo.
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XXIV – A DISCIPLINA DO PENSAMENTO E A REFORMA DO CARÁTER
“O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente em roda de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura. Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil, de que o corpo fluídico é composto. Assim, pouco a pouco, nosso ser povoa-se de formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou sublimes; a alma se enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de fealdade. Segundo o ideal a que visa, a chama inferior aviva-se ou obscurece-se” (p. 495).
É pelo pensamento que as vibrações se aglutinam ao sujeito, independendentemente de suas qualidades, superiores ou inferiores, isso ocorre. Como uma lei da física, inquestionável e imutável em nosso quadro atual de evolução.
“As vibrações de nossos pensamentos, de nossas palavras, renovando-se em sentido uniforme, expulsam de nosso invólucro os elementos que não podem vibrar em harmonia com elas; atraem elementos similares que acentuam as tendências do ser” (p. 496).
Partindo deste princípio imutável, Denis exemplifica com a oração, talvez nossa emanação benévola máxima possível, a capacidade de potencialização do pensamento. Nos esclarece Emmanuel:
“A oração é divino movimento do espelho da nossa alma no rumo da Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza.
Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do espírito às potências celestes, quer vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa mensagem da vibração.
Imaginemos a face de um espelho voltada para o Sol, desviando-lhe o fulgor na direção do abismo.
Esta, na essência, é a função da prece, buscando o Amor Divino para concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorância e do sofrimento, da miséria e do ódio, que ainda se estendem no mundo”.
(Retirado da obra “Pensamento e Vida” psicografado por Chico Xavier. Lição 26 – A ORAÇÃO).
E Denis continua:
“A oração, a comunhão pelo pensamento com o universo espiritual e divino é o esforço da alma para a beleza e para a verdade eternas; é a entrada, por um instante, nas esferas da vida real e superior, aquela que não tem termo” (p. 497).
O Livro dos Espíritos nos lembra também, que captamos os pensamentos sintonizados com as faixas que estabelecemos aos nossos próprios. Muitas vezes nos deixamos influenciar.
CAPÍTULO IX – INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPÓREO
II INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E AS NOSSAS AÇÕES.
465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
–Para vos fazer sofrer como eles.
465-a. Isso lhes diminui os sofrimentos?
–Não, mas eles o fazem por inveja dos seres mais felizes.
465-b. Que espécie de sofrimentos querem fazer-nos provar?
–Os que decorrem de pertencer a uma ordem inferior e estar diante de Deus.
466. Por que permite Deus que os Espíritos nos incitem ao mal?
–Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal até chegar ao bem. Nossa missão é a de te pôr no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer: eles não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal. Se és inclinado ao assassínio, pois bem! terás uma nuvem de Espíritos que entreterão esse pensamento em ti; mas também terás outros, que tratarão de influenciar para o bem, o que faz que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti.
[KARDEC] É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha da rota que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
467. Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao mal?
–Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas?
–Que queres que eles façam? Quando nada têm a fazer, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato.
469. Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
–Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que suscitam em vós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós todas as más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles atacam na vossa fraqueza. Eis porque Jesus voz faz dizer na oração dominical: “Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”
470. Os Espíritos que procuram induzir-nos ao mal, e que assim põem à prova a nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer, e se é uma missão que eles cumprem, terão responsabilidade nisso?
–Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade e conseqüentemente terá de sofrer as conseqüências. Deus pode deixá-lo fazer para vosprovar, mas jamais o ordena, e cabe a vós repeli-lo.
471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorre unicamente de uma disposição física?
–É quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivestes com os Espíritos, ou das relações que tivestes com eles durante o sono.
472. Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias?
–Eles aproveitam a circunstância, masfreqüentemente a provocam, empurrando-vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se dele, enquanto outros lhe sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em todas as outras tentações.
Então, a responsabilidade é 100% nossa. Devemos fiscalizar os pensamentos e corrigi-los conforme necessário, já que posteriormente se traduzirão em ações. Essa observância também evitará grandes males da viciação das ideias, ou até um monoideísmo que desencadeia um comportamento obsessivo. A estimulação ao pensamento e imaginação são estimulados no cotidiano atual, baseando-se na ideia de que as fantasias criadas não são reais, situam-se em local inatingível, não fazendo mal algum.
Entendemos, portanto, que uma estimulação à imaginação com imagens obscuras, leituras sombrias, fatores sensuais ou ruins, desencadeia consequências negativas e más influenciações. Mais um ponto a ser esclarecido pelo Espiritismo, onde a ignorância materialista ou apenas a ingenuidade hodierna adentra.
“Assim, podemos à vontade fazer em nós a luz ou a sombra” (p. 497).
“É necessário escolhermos com cuidado nossas leituras, depois amadurecê-las e assimilar-lhes a quintessencia. Em geral, lê-se demais, lê-se depressa e não se medita. Seria preferível ler menos e refletir mais no que se leu. (…) Nisso, como em todas as coisas, o belo atrai e gera o belo, do mesmo modo que a bondade atrai a felicidade, e o mal o sofrimento” (p. 499).
“O estudo silencioso e recolhido é sempre fecundo para o desenvolvimento do pensamento. (…) A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a alma esvazia-se” (p. 499).
A palavra foi antes pensada. É uma cadeia muito simples de início (imaginação / pensamento) e tornar real (palavra / ação). E só tornamos essa cadeia de acontecimentos real quando praticamos o que aprendemos, assimilamos, enfim, no que nos educamos e doutrinamos.
Quando utilizamos o tempo para a futilidade de conversas inúteis ou estímulos diversos aos que educam, estamos esvaziando as aspirações da alma, que necessita utilizar seu tempo para crescimento. Eis que entramos em um fator que sempre nos conduz de volta à realidade:
“É necessário o choque das provações, as horas tristes e desoladas para fazer-lhe compreender a fragilidade das coisas externas e encaminhá-lo para o estudo de si mesmo, para a descoberta de suas verdadeiras riquezas espirituais” (p. 500).
Cometemos deslizes para conosco mesmo. Utilizamos o tempo de forma errada, vivemos em modo “automático” nas rotinas do cotidiano, mas as provas e dores conduzem nossas ideias em direções diferentes. Podemos enfrentar e crescer, ou fugir e estagnar. Uma passagem do Evangelho Segundo o Espiritismo nos é bastante esclarecedor:
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
12. Pelas palavras bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados, Jesus indica, ao mesmo tempo, a compensação que espera os que sofrem e a resignação que nos faz bendizer o sofrimento, como o prelúdio da cura.
Essas palavras podem, também, ser traduzidas assim: deveis considerar-vos felizes por sofrer, porque as vossas dores neste mundo são as dívidas de vossas faltas passadas, e essas dores, suportadas pacientemente na Terra, vos poupam séculos de sofrimento na vida futura. Deveis, portanto, estar felizes por Deus ter reduzido vos — sãs dívidas, permitindo-vos quitá-las no presente, o que vos assegura a tranqüilidade para o futuro.
O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande soma, a quem o credor dissesse: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte, darei quitação do resto e ficarás livre; se não, vou perseguir-te até que pagues o último centavo”. O devedor não ficaria feliz de submeter-se a todas as privações, para se livrar da dívida pagando somente a centésima parte da mesma? Em vez de queixar-se do credor, não lhe agradeceria?
É esse o sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados”. Eles são felizes porque pagam suas: dívidas, e porque, após a quitação, estarão livres.
Esta pequena passagem do Evangelho nos esclarece o comportamento correto. Quando alinhados à Doutrina Espírita, Denis constata o exemplo das grandes almas:
“É por isso que as grandes almas se enobrecem e embelezam tanto mais quanto mais vivas são suas dores” (p. 500).
Eis que Denis formula uma espécie de receituário das necessidades e caminhos para o progresso, utilizando elementos de conhecimento e pensamento (durante as páginas 501-502).
- Observar, vigiar e repassar nossos atos cotidianos em busca do que pode ser melhorado; (assim como receitado por Santo Agostinho no Livro dos Espíritos:
919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal?
–Um sábio da Antigüidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.
919-a. Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso?
–Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma. Aquele que todas as noites lembrasse todas as suas ações do dia, e, se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá. Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que fito agistes em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que censuraríeis nos outros, se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém? Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo e por fim contra vós mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa consciência ou indicarão um mal que deve ser curado.
- Reduzir as exigências materiais da vida física ao necessário para garantir a saúde do corpo;
- Disciplinar as emoções e impressões, dominando-as para o aperfeiçoamento moral;
- Ignorar o elemento egoísco “EU” para a busca da felicidade através de um esquecimento de si mesmo, priorizando o próximo.
Praticar no cotidiano os bons atos e bons pensamentos é a melhor forma de torná-los um costume salutar, que se tornará hábito conforme perdurar, melhorando nossas aspirações e nos aproximando de esferas superiores.
“Todo homem, na humilde realidade de cada dia, pode ir modelando uma consciência sublime. A obra é vagarosa e difícil, mas, por isso, são-nos dados os séculos” (p. 502).
Denis friza um ponto importante da Doutrina Espírita, que é o fato de convivermos com pessoas ainda em estágio de evolução, portanto, estamos relativamente adiantados em relação a alguns, e muito mais atrasados em relação a outros, por isso os julgamentos e exigências quanto ao próximo são descabidas. Precisamos ser sempre mais exigentes conosco, e mais indulgentes com o próximo.
“Deus não pede aos homens senão o que eles têm podido adquirir à custa de lentos e penosos trabalhos. Não temos o direito de exigir mais” (p. 504).
Com o passar do tempo, o caminho do aprendiz vai se abrindo, e a trilha correta leva sempre ao aperfeiçoamento moral.
“Pouco importa, então, que o destino não nos tenha oferecido nenhuma glória, nenhum raio de alegria, se tiver enriquecido nossa alma com mia suma virtude, com alguma beleza moral. As vidas obscuras e atormentadas são, às vezes, mais fecundas, ao passo que as vidas suntuosas nos prendem, bastas vezes e por muito tempo, na corrente formidável de nossas responsabilidades” (p. 505).
Denis finaliza o capítulo colocando um ponto de enorme importância dentro da Doutrina, o aprendizado pela dor. A dor é um remédio amargo, que quando sabemos assimilar, compreender e depurar, torna-se grande professora. A alegria é alto tanto quanto subjetiva. Algumas vezes, se nos depararmos com a prisão da riqueza, nos entenderemos felizes, ou muito próximo disso, quando um simples sopro do destino poderia nos levar ao desespero, devido ao descuido e a estagnação moral.
“Que importa que o céu esteja escuro por cima de nossas cabeças e os homens sejam ruins em volta de nós, se tivermos a luz na fronte, alegria do bem e a liberdade moral no coração?[13]” (p. 505).
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XXV – O AMOR
Denis inicia o capítulo com sua definição mais abrangente de amor:
“Princípio da vida universal, proporciona à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras, a intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em roda de si; é por ele que ela se sente estreitamente ligada ao Poder Divino, foco ardente de toda a vida, de todo o amor” (p. 507).
O amor é sempre o maior foco de curas, de aprendizado, de exemplificação. Foco de carinho, objetivo de quem crê e segue a palavra do Mestre Jesus. O que é a caridade, se não a prática do amor?
“O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua no mundo” (p. 507).
O desenvolvimento da qualidade de amar, em cada um de nós, é condição fundamental para evolução na Crosta, mas também para nossa evolução espiritual. É uma virtude, forjada geralmente em muitas e muitas vidas, mas uma qualidade de pureza que todos guardamos no espírito. É nossa vontade, potencialidade que, conforme já estudamos, existe em nós e comanda a velocidade do progresso, que dita o avanço.
“Todo o poder da alma resume-se em três palavras: – querer, saber, amar!
Querer, isto é, fazer convergir toda a atividade, toda a energia, para o alvo que se tem de atingir, desenvolver a vontade e aprender a dirigi-la.
Saber, por que sem o estudo profundo, sem o conhecimento das coisas e das leis, o pensamento e a vontade podem transviar-se no meio das forças que procuram conquistar e dos elementos a quem aspiram governar.
Acima, porém, de tudo, é preciso amar, porque, sem o amor, a vontade e a ciência seriam incompletas e muitas vezes estéreis. O amor ilumina-as, fecunda-as, centuplica-lhes os recursos” (p. 512).
As paixões são um atraso em relação ao amor. A paixão favorece o impulso, a irracionalidade, é um foco objetivo de desejo e fanatismo, enquanto o amor favorece a indulgência, o perdão, a compreensão, e o sentimento atemporal de carinho e ventura. A humanidade é ainda, em sua maioria, refém das paixões que escravizam e esvaziam as almas, e presa em abusos de várias ordens.
“O próprio sacrifício também tem suas alegrias; feito com amor, transforma as lágrimas em sorrisos, faz nascer em nós alegrias desconhecidas do egoísta e do mau” (p. 514).
“Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais refratários” (p. 514).
O amor sempre vencerá as paixões, depurando-as.
Denis ainda destaca a capacidade da mulher em amar, em níveis superiores, se comparadas aos homens, por uma espécie de intuição ou sentido mais depurado. Se considerarmos que a mulher potencialmente gera e acolhe uma vida em seu ventre, que no futuro amamentará, desenvolvendo laços de cuidado e gentileza com a alma que inicia sua jornada na Terra, temos uma pista do porque desta condição (algo como um catalisador de amor).
Na época de Denis, e até hoje, alguns preconceitos sociais de formação e educação masculinas, ensinam que a sensibilidade e o sentimento devem ser ignorados por uma postura “dura”, onde as emoções são fraquezas, e a frieza insensível é força. Isso deturpou e esvaziou as almas para sensibilidade e as deixou mais sucetíveis ao materialismo.
“Muitas almas terrestres ficam, é verdade, hermeticamente fechadas para as coisas divinas ou, então, se sentem suas harmonias e belezas, escondem cuidadosamente o segredo de si mesmas; parecem ter vergonha de confessar o que conhecem ou o que de maior e melhor experimentam” (p. 516).
“E quando chega o declínio da vida com suas desilusões, quando as sombras crepusculares se acumulam sobre nós, então estas poderosas sensações acordam com a memória de todas as alegrias sentidas, e a lembrança das horas em que verdadeiramente amamos cai como delicioso orvalho sobre nossas almas dissecadas pelo vento áspero das provações e da dor” (p. 517).
Então amar é o que traz um senso de progresso para vida. E, temos a condição de assimilar esse poderoso sentimento ainda nessa encarnação.
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XXVI – A DOR
A dor talvez seja o elemento mais presente na humanidade, o que não deixa de ser um atestado de nossa pouca evolução moral.
“A dor segue todos os nossos passos; espreita-nos em todas as voltas do caminho. E, diante desta esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?” (p.519).
“Fundamentalmente considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e educação. Sem dúvida, as falhas do passado recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições de nosso destino (…)Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele [sofrimento]. Sua ação é benfazeja para quem sabe compreendê-lo, mas somente podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos” (p. 520).
Denis ainda constata que a dor e prazer estão ligados à sensibilidade que todos possuímos, portanto, são elementos presentes na educação e evolução de cada ser. Podemos maximizar um ou outro, algumas vezes, mas é a condição moral que nos fará escolher um caminho mais prazeroso com as armadilhas da estagnação, ou um mais doloroso de progresso a longo prazo.
“O prazer e a dor estão, pois, muito menos nas coisas externas do que nós mesmos; incumbe, pois, a cada um de nós, regulando suas sensações, disciplinando seus sentimentos, dominar umas e outras e limitar-lhes os efeitos” (p. 521).
“Assim, pela vontade podemos domar, vencer a dor ou, pelo menos fazê-la redundar em nosso proveito, fazer dela meio de elevação” (p. 521).
O nível moral do espírito encarnado e o conhecimento da Doutrina Espírita, permitem também um julgamento diferenciado sobre os signficiados e tipificações de sofrimento. Alguns darão mais ou menos importância e significação à diferentes situações envolvendo dores ou perdas.
“É muito difícil fazer entender aos homens que o sofrimento é bom. Cada qual quereria refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorná-la com todos os deleites, sem pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores e esforços” (p. 521).
Os prazeres materiais e vulgares não passam de elementos de estagnação que nos privam dos reais valores morais evolutivos. Muitas vezes a dor e o sofrimento conduzem o ser à busca de explicações e razões para suas causas, renovando as concepções de vida de muitos que levam essa busca a sério. Sofrimento, dor, são elementos de evolução e progresso.
“A tristeza e o sofrimento fazem-nos ver, ouvir, sentir mil coisas, delicadas ou fortes, que o homem feliz ou o homem vilgar não podem perceber. Obscurece-se o mundo material; desenha-se outro, vagamente a princípio, mas que cada vez se tornará mais distinto, à medida que as nossas vistas se desprenderem das coisas inferiores e mergulharem no ilimitado” (p. 522).
“A história do mundo não é outra coisa mais que a sagração do Espírito pela dor. Sem ela, não pode haver virtude completa, nem glória imperecível” (p. 523).
Denis se referiu também aos inúmeros mártires que deixaram lições evolutivas através de suas dores, suas convicções e posturas, reafirmando crenças, mesmo que para isso, tivessem que abrir mão da encarnação.
A dor é um corretivo para quando nos desviamos dos propósitos nobres e evolutivos que viemos cumprir na Terra, é um mecanismo de justiça divina, de ação e reação para as atitudes erradas que tomamos.
A dor é tão democrática que atinge a todos. É a ferramenta de trabalho para o qual missionários humildes do cotidiano exemplificam aos menos evoluídos.
Na próxima seção deste capítulo, Denis trata o significado da dor física, como um alerta de que algo está errado. Quando ignoramos os sinais e persistimos em abusar do organismo, a dor ou os problemas que resultam nela, vêm nos lembrar de que é preciso corrigir algo para atingir a cura. Muitas vezes a persistência nos erros e abusos custa toda a encarnação.
“Para isso [educar-nos] pôs Deus, nesta terra de aprendizagem, ao lado das alegrias raras e fugitivas, dores frequentes e prolongadas, para nos fazer sentir que o nosso mundo é um lugar de passagem e não o ponto de chegada. Gozos e sofrimentos, prazeres e dores, tudo isto Deus distribuiu na existência como um grande artista que, na tela, combina a sombra e a luz para produzir uma obra-prima” (p. 531).
Adiante na leitura do capítulo, o autor considera a questão da dor sob as óticas penais, refutando algumas críticas feitas à Kardec, quanto a punições incompatíveis com a Divina Providência. São críticas advindas daqueles que desconhecem o conteúdo doutrinário do Espiritismo, onde a ação e reação atuam constantemente. Não há crime ou desvio sem correção. Para isso, segue ao final do resumo um estudo do CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA, encontrado na obra “O Céu e o Inferno[14]”.
“Com a diferença de plano, o sofrimento mudará de aspecto. Na Terra será simultaneamente físico e moral e constituirá um modo de reparação; mergulhará o culpado em suas chamas para purificá-lo; tornará a forjar a alma, deformada pelo mal, na bigorna das provas” (p. 535).
“Tudo se resgata e repara pela dor” (p. 536).
Os que sofreram muito durante a encarnação, tendem a se assustar com a doutrina da reencarnação, já que significaria uma continuidade de existências sofridas, mas o estudo cuidadoso da Doutrina nos mostra que não é assim. O sofrimento é remédio, e todo tratamento termina com o final da doença. Seremos felizes e plenos quando expurgarmos o mal que fizemos através da dor e praticarmos o bem a todo instante. Essa é a meta do verdadeiro espírita.
“Acima de tudo cumpre aquilatar em seu justo valor os cuidados e as tristezas deste mundo. Para nós são coisas muito cruéis; mas, como tudo isto se amesquinha e apaga, se for observado de longe, se o Espírito, elevando-se acima das miudezas da existência, abarcar com um só olhar as perspectivas de seu destino! Só este sabe pesar e medir as coisas que existem nos dois oceanos do Espaço e do Tempo – a imensidade e a eternidade, oceanos que o pensamento sonda sem se perturbar!” (p. 539).
Por fim, neste capítulo, Denios conclama a todos que saibamos nos resignar em nossas dores e sofrimentos. Muitas vezes reclamamos por mesquinharias e fatos cotidianos que nem se tratam de algo tão grande perante as dores do mundo. Precisamos de mais vigilância para conosco mesmo e orações para nosso progresso. Mas o mais importante é: vontade + ação = progresso.
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XXVII – REVELAÇÃO PELA DOR
As doutrinas que pregam o fim da existência em uma única vida demonstram-se incapazes de prover o mínimo de explicações e consolos aos que sofrem. A dor e sua ação acaba sendo apenas um resultado randômico cartesiano, ou seja, uma espécie de caos biológico, onde o acaso escolhe e a matéria executa.
“A dor não é somente o critério, por excelência, da vida, o juiz que pesa os caracteres, as consciências e dá a medida da verdadeira grandeza do homem. É também um processo infalível para reconhecer o valor das teorias filosóficas e das doutrinas religiosas. (…) Pela dor descobre-se com mais segurança o lugar onde brilha o mais belo, o mais doce raio da verdade, aquele que não se apaga” (p. 541).
Denis verifica que as doutrinas ligadas ao materialismo não conseguem lidar com a dor e consolar os que sofrem. A história do pensamento filosófico é recheada de exemplos filosóficos que ignoram a dor, ou pregam seu esquecimento, como se fosse algo punitivamente gratuito e que vai embora se ignoramos. A sociedade absorveu esses conceitos ao longo das épocas, até tornar-se incapaz de consolar o próximo, ou dizer-lhe apenas palavras prontas, receituários populares, de palavras vazias.
“Para todos aqueles cuja vida é limitada pelos estreitos horizontes do materialismo, o problema da dor é insolúvel; não há esperança para aquele que sofre” (p. 542).
Claro que as religiões eram capazes de consolar e oferecer certo conforto, mas os abusos e seus próprios erros cederam espaço ao materialismo.
“O materialismo vai conquistanto pouco a pouco o terreno que elas [religiões] têm perdido; a consciência popular se obscurece e a noção do dever desfaz-se por falta de uma doutrina adaptada às necessidades do tempo e da evolução humana” (p. 543).
Para o autor, portanto, o Espiritismo preenche as lacunas que os sacerdotes das religiões tradicionais não conseguem. Muitos aspectos na problemática da dor, da morte e do além, foram negligenciados ou até criminalizados com os pensamentos que os questionasse. Na falta de boas respostas, faltavam alternativas religiosas capazes de suprir as demandas por conforto. Se os representantes de Deus não poderiam consolar, quem mais poderia? Eis a explicação para o ganho de espaço por parte dos materialistas.
Portanto, o Espiritismo entende que:
“A dor perde o seu aspecto terrífico; deixa de ser um inimigo, um monstro temível; torna-se um auxiliar e o seu papel é providencial. Purifica, engrandece e refunde o ser em sua chama, reveste-o de uma beleza que não se lhe conhecia” (p. 545).
“O sofrimento é apenas um corretivo aos nossos abusos, aos nossos erros, incentivo para a nossa marcha. Assim, as leis soberanas mostram-se perfeitamente justas e boas” (p. 546).
Com o conhecimento do Espiritismo, assimilação e prática doutrinárias, o homem passa a enfrentar a vida com mais coragem, resignação e entendimento do que se passa consigo mesmo e com o próximo, sendo capaz de consolar.
“Conheceis a lei telepática; não há grito, lágrima, apelo de amor, que não tenha sua repercussão e sua resposta” (p. 547).
“Julgáveis sofrer sozinhos, mas não é assim. Junto de vós, em roda de vós e até na extensão sem limites, há seres que vibram ao vosso sofrer e participam de vossa dor” (p. 547).
Portanto, é importante a manutenção do pensamento elevado e de evitar reclamações em demasia. Assim, durante períodos de dor e sofrimento, podemos orar pela ajuda e seremos atendidos conforme o merecimento que dispomos.
“Por toda a parte e em tudo essa doutrina[15] [Espiritismo] nos oferece uma base, um ponto de apoio, donde a alma pode levantar o voo para o futuro e se consolar das coisas presentes com a perspectiva das futuras. A confiança e a fé em nossos destinos projetam em nossa frente uma luz que ilumina o carreiro da vida, fixa-nos o dever, alarga nossa esfera de ação e nos ensina como devemos proceder com os outros” (p. 551).
Aqui há a exemplificação de alguns casos em que a dor catalisou mudanças para melhor, e o sofrimento trouxe lições e consolo por si mesmo. Ele próprio apresenta suas conclusões em um belo desabafo:
“Chega a velhice; aproxima-se o termo de minha obra. Após cinquenta anos de estudos, de trabalho, de meditação, de experiência, é-me grato poder afirmar a todos aqueles que sofrem, a todos os aflitos deste mundo que há no Universo uma Justiça Infalível. Nenhum de nossos males se perde; não há dor sem compensação, trabalho sem proveito. Caminhamos todos através das vicissitudes, das lágrimas para um fim grandioso fixado por Deus e temos a nosso lado um guia seguro, um conselheiro invisível para nos sustentar e consolar” (p. 555).
A dor é uma enorme força, um grande potencial, que podemos utilizar a nosso favor, em nossa luta contra o orgulho, a vaidade e a ausência de humildade.
Denis encerra com uma exaltação à sociedade para que abandone os prazeres momentâneos e curtos para lutar pela própria melhora e evolução. A dor não deve ser gratuitamente buscada, mas deve ser compreendida quando aparecer, não com revolta, mas com resignação.
“Homem, meu irmão, aprende a sofrer, porque a dor é santa! Ela é o mais nobre agente da perfeição” (p. 555).
[1] Abaixo as observações do mestre Kardec, na obra O Céu e O Inferno, sobre o Niilismo:
“(…) Se há doutrina insensata e anti-social, é, seguramente, o niilismo que rompe os verdadeiros laços de solidariedade e fraternidade, em que se fundam as relações sociais.
Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquire a certeza de que em oito dias, num mês,ou num ano será aniquilado; que nem um só indivíduo lhe sobreviverá, como de sua existência não sobreviverá nem um só traço: Que fará esse povo condenado, aguardando o extermínio? Trabalhará pela causa do seu progresso, da sua instrução? Entregar-se-á ao trabalho para viver? Respeitará os direitos, os bens, a vida do seu semelhante? Submeter-se-á a qualquer lei ou autoridade por mais legítima que seja, mesmo a paterna? Haverá para ele, nessa emergência, qualquer dever? Certo que não. Pois bem! O que se não dá coletivamente, a doutrina do niilismo realiza todos os dias isoladamente, individualmente. E se as conseqüências não são desastrosas tanto quanto poderiam ser, é, em primeiro lugar, porque na maioria dos incrédulos há mais jactância que verdadeira incredulidade, ,mais dúvida que convicção — possuindo eles mais medo do nada do que pretendem aparentar — o qualificativo de espíritos fortes lisonjeia-lhes a vaidade e o amor-próprio; em segundo lugar, porque os incrédulos absolutos se contam por ínfima minoria, e sentem a seu pesar os ascendentes da opinião contrária, mantidos por uma força material. Torne-se, não obstante, absoluta a incredulidade da maioria, e a sociedade entrará em dissolução. Eis ao que tende a propagação da doutrina niilista.”
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Editora FEB – Primeira Parte, Doutrina, Capítulo 1 – pp.13-14.
[2] Podemos entender como sendo o Espiritismo no seu caráter atual. Vou manter a grafia de Denis em respeito à obra original.
[3] Hoje em dia, ao contrário do que acontecia na época de Kardec e Denis, os fenômenos, quando evocados para fins nobres em reuniões de estudo e aprimoramento não visam mais provar a existência dos espíritos e das comunicações, mas sim instruir e progredir. De acordo com Denis, neste mesmo capítulo, até aquele momento histórico já haviam sido feitos tantos experimentos para comprovação da vida imaterial, que se tornava impossível sua negação na prática – conforme expôs o próprio autor na obra “No Invisível”.
[4] Considerada aqui o extremo oposto do materialismo.
[5] Inumação é o ato de enterrar os mortos.
[6] “A concepção católica era mais sedutora para as almas tímidas, para os espíritos indolentes, que, segundo ela, poucos esforços tinham a fazer para alcançar a salvação” (p. 355)
[7] O que foi tratado em detalhes também nas obras de André Luiz. Psicografadas após o desencarne de Denis.
[8] Tradução de Manuel Justiano Qintão, Editra FEB, 1995
[9] Edição FEB, 2009.
[10] Edição FEB, 2008.
[11] “confunde-se com o que a ciência chama de sensorium” (p.450)
[12] Na obra “Libertação” de André Luiz, temos uma citação complementar sobre o uso da Liberdade, Pensamento e Vontade: “Abstendo-nos de mobilizar a vontade, seremos invariáveis joguetes das circunstâncias predominantes, no ambiente que nos rodeia; contudo, tão logo deliberemos manobrá-la, é indispensável resolvamos o problema de direção, porquanto nossos estados pessoais nos refletirão a escolha íntima” (Libertação, pelo espírito André Luiz, 31ª Edição – 2010. Página 34).
[13] Automaticamente lembrei do Salmo 23:
“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.”
Salmos 23:1-4
[14] Primeira Parte, Capítulo VII – As Penas Futuras Segundo o Espiritismo.
[15] Chamada por Denis de “Neo-Espiritualismo” (p.550).