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março 23, 2022

PACIÊNCIA E VIRTUDE NA REFLEXÃO (001)

Filed under: Espiritismo,Estudos,reforma íntima — Aprendiz @ 4:53 pm

Essa é uma lição que particularmente gosto muito. Vou deixá-la para leitura e adicionarei os comentários em áudio abaixo.

Espero que gostem deste novo formato.

Obra: CAMINHO, VERDADE E VIDA (Francisco C. Xavier pelo Espírito Emmanuel)

Lição: 162 – ESPEREMOS

Não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo.
Mateus, 12: 20.

Evita as sentenças definitivas, em face dos quadros formados pelo mal.
Da lama do pântano, o Supremo Senhor aproveita a fertilidade.
Da pedra áspera, vale-se da solidez.
Da areia seca, retira utilidades valiosas.
Da substância amarga, extrai remédio salutar.
O criminoso de hoje pode ser prestimoso companheiro amanhã.
O malfeitor, em certas circunstâncias, apresenta qualidades nobres, até então ignoradas, de que a vida se aproveita para gravar poemas de amor e luz.
Deus não é autor de esmagamento.
É Pai de misericórdia.
Não destrói a cana quebrada, nem apaga o morrão que fumega.
Suas mãos reparam estragos, seu hálito divino recompõe e renova sempre.
Não desprezes, pois, as luzes vacilantes e as virtudes imprecisas. Não abandones a terra pantanosa, nem desampares o arvoredo sufocado pela erva daninha.
Trabalha pelo bem e ajuda incessantemente.
Se Deus, Senhor Absoluto da Eternidade, espera com paciência, por que motivo, nós outros, servos imperfeitos do trabalho relativo, não poderemos esperar?

 

Estudos Espiritas · 001 – ESPEREMOS (CVV) 162 – 23 – 03 – 2022

Vale referenciar também que este trecho de Mateus é a referência direta ao profeta Isaías:

Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios.
Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça.
A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; com verdade trará justiça.
Não faltará, nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua lei.
Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e espraiou a terra, e a tudo quanto produz; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela.
Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios.
Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas.
Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.
Isaías 42:1-8 

Talvez o maior desafio e uma das virtudes mais difíceis seja a paciência. Ao menos para mim.

fevereiro 18, 2016

CAMINHO, VERDADE E VIDA – Introdução

Filed under: Espiritismo,Estudos — Tags:, , , , — Aprendiz @ 10:52 pm

Neste novo estudo, tudo o que for original das obras publicadas estará em azul. Assim a visualização torna-se mais fácil.

Introdução de Emmanuel:

INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS SAGRADOS

Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” (I PEDRO, 1: 20)

Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os milênios terrestres, como o Verbo do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte séculos.

Lutas sanguinárias, guerras de extermínio, calamidades sociais não lhe modificaram um til nas palavras que se atualizam, cada vez mais, com a evolução multiforme da Terra. Tempestades de sangue e lágrimas nada mais fizeram que avivar-lhes a grandeza. Entretanto, sempre tardios no aproveitamento das oportunidades preciosas, muitas vezes, no curso das existências renovadas, temos desprezado o Caminho, indiferentes ante os patrimônios da Verdade e da Vida.

O Senhor, contudo, nunca nos deixou desamparados.

Cada dia, reforma os títulos de tolerância para com as nossas dívidas? todavia, é de nosso próprio interesse levantar o padrão da vontade, estabelecer disciplinas para uso pessoal e reeducar a nós mesmos, ao contacto do Mestre Divino. Ele é o Amigo Generoso, mas tantas vezes lhe olvidamos o conselho que somos suscetíveis de atingir obscuras zonas de adiamento indefinível de nossa iluminação interior para a vida eterna.

No propósito de valorizar o ensejo de serviço, organizamos este humilde trabalho interpretativo1, sem qualquer pretensão a exegese. Concatenamos apenas modesto conjunto de páginas soltas destinadas a meditações comuns.

Muitos amigos estranhar-nos-ão talvez a atitude, isolando versículos e conferindo-lhes cor independente do capítulo evangélico a que pertencem. Em certas passagens, extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionando-lhes fisionomia especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações desvaliosas parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiram.

Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida. A lição do Mestre, além disso, não constitui tão somente um impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.

Muitos discípulos, nas várias escolas cristãs, entregaram-se a perquirições teológicas, transformando os ensinos do Senhor em relíquia morta dos altares de pedra? no entanto, espera o Cristo venhamos todos a converter-lhe o evangelho de Amor e Sabedoria em companheiro da prece, em livro escolar no aprendizado de cada dia, em fonte inspiradora de nossas mais humildes ações no trabalho comum e em código de boas maneiras no intercâmbio fraternal.

Embora esclareça nossos singelos objetivos, noto, antecipadamente, ampla perplexidade nesse ou naquele grupo de crentes.

Que fazer? Temos imensas distâncias a vencer no Caminho, para adquirir a Verdade e a Vida na significação integral.

Compreendemos o respeito devido ao Cristo, mas, pela própria exemplificação do Mestre, sabemos que o labor do aprendiz fiel constitui-se de adoração e trabalho, de oração e esforço próprio.

Quanto ao mais, consola-nos reconhecer que os Textos Sagrados são dádivas do Pai a todos os seus filhos e, por isso mesmo, aqui nos reportamos às palavras sábias de Simão Pedro: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.”

Emmanuel

Pedro Leopoldo, 2 de setembro de 1948.

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Curioso notar que dentro do Espiritismo, estes livros da Coleção Fonte Viva são utilizados para os mais diversos fins. Em 90% das vezes, são abertos em lições aleatórias, confiando a Deus e aos bons Espíritos que a palavra consoladora que pedimos aparecerá na lição aberta. No entanto, dessa mesma forma, várias lições nunca são lidas ou são negligenciadas (especialmente as bem iniciais e as últimas). Partindo deste entendimento, tive a ideia de estudar página a página essas obras, para torná-las mais próximas dos aprendizes.

Emmanuel faz aqui um prefácio bastante digno de sua grandeza espiritual e ascendência moral. De fato, erramos e caímos tanto por simplesmente ignorar, muitas vezes propositadamente, os ensinos do Cristo e o tesouro que Ele nos legou. Mas partindo da ideia de que o ensinamento existe e está disponível, devemos nos esforçar por conseguir praticá-los a partir de agora.

Estamos no Caminho, passando pela Verdade e rumo à Vida.

A superação de nossos males é algo mandatório para que a Doutrina exerça seu poder transformatório sobre nós, mas essa superação só é possível quando nos esforçamos para tal, com todas as nossas forças e todas as nossas aspirações.

Emmanuel nos oferece instrumentos, palavras e consolos, cabe a nós utilizarmos tudo isso de forma a abrandar o caminho e recolocar o veículo físico na rota correta da vida. Para tanto, complementos bastante úteis de trechos evangélicos serão explicados ou exemplificados nas palavras do nobre Instrutor Espiritual.

1Algumas destas páginas, já publicadas na imprensa espírita cristã, foram por nós revistas e simplificadas para maior clareza de interpretação – Nota de Emmanuel.

outubro 14, 2015

A MORTE E O SEU MISTÉRIO – VOLUME 1 (CAMILLE FLAMMARION)

Filed under: Espiritismo,Estudos — Tags:, , , , — Aprendiz @ 2:39 am

Em breve o estudo ficará disponível na íntegra. Por enquanto, segue pequeno trecho, dos três primeiros capítulos do Livro 1 de “A Morte e o Seu Mistério” de Camille Flammarion.

Quaisquer observações / correções, favor enviar para : espiritismolivre@gmail.com.

Obrigado !

I – PODE SER ATUALMENTE RESOLVIDO O MAIOR DOS PROBLEMAS?

Se podemos desejar alguma coisa de melhor e útil no curso desta existência, é o de servir de algum modo ao progresso lento, mas todavia real da humanidade, essa raça bizarra, crédula e céptica, indiferente e curiosa, boa e má, virtuosa e criminosa, aliás incoerente e ignorante no seu conjunto, saída apenas dos casulos da crisálida animal” (2008-I:09).

E Flammarion cumpriu seu propósito. Seu enorme legado possui como contribuições principais sua colaboração na Codificação Kardequiana, seus estudos em astronomia e a pluralidade dos mundos / das existências. Aqui o autor nos levará em estudos para comprovar a continuidade da vida após a morte. Flammarion trata esta questão como o maior de todos os problemas, e ainda indaga se poderá encontrar a solução através de um método experimental. Ou seja, prepara o leitor para uma viagem que englobará filosofia e prática dos fatos, dois dos elementos mais ausentes nas pesquisas do século XXI.

a sobrevivência da alma, seja no espaço, seja nos outros mundos, seja pelas reencarnações terrestres, põe sempre diante de nós o mais formidável dos pontos de interrogação” (2008-I:10).

E assim o é pela motivação que carrega consigo. A Doutrina Espírita nos explica que a dor, além de grande professora das almas, é um dos grandes fatores que carregam os seres à busca por respostas. O autor aqui deixa clara a motivação que o conduz:

Aqueles que nunca viram morrer um ente adorado não conhecem a dor, não caíram no abismo do desespero, não tropeçaram com a porta fechada do túmulo. Quer-se saber, e um muro impenetrável ergue-se inexoravelmente diante do pavor” (2008-I:11).

A ignorância1 é o maior fio condutor da história. É o desconhecimento que leva as pessoas em busca de respostas, por uma curiosidade saudável. Várias delas escreveram cartas ao autor, confidenciando caos e solicitando explicações ou corroborações para os ideias de continuidade da vida. À muitas dessas pessoas faltavam os recursos necessários para alcançarem por si as respostas, sejam eles recursos materiais, físicos, espirituais e até mentais. Mães que perderam filhos, viúvas que perderam maridos, e assim por diante, alguns casos que levaram Flammarion a formatar essa obra como um abrigo, um consolo quanto à realidade da vida.

Aqui há a mesma constatação de Léon Denis em suas diversas obras. As religiões e os seres perderam a capacidade de consolar e atender à expectativa dos que sofrem. Não há remédio e nem forma de atenuantes aos que sofrem por quem morreu, pois ali havia apenas poucas formas de destino:

  • O Nada;
  • O Céu;
  • O Inferno;

E a eternidade seriam de bênçãos ou punições caso algo houvesse após a morte. Um breve exame de consciência colocaria em evidência que quase ninguém estaria apto a galgar um lugar ao Céu, uma vez que a humanidade costuma persistir em alguns erros contrários aos mandamentos de Deus. Esse entendimento gerava dor por si só, já que a absolvição dos homens poderia não garantir a rendição divina.

Não só isso, mas como descreve a carta da Viúva Boffard, da Espanha, que enfrentou diversas dificuldades e viu perecer seu filho após idas e vindas de esperanças. O caráter de seu jovem filho (cujo desencarne ocorreu aos trinta e três anos) lhe parecia tão bom e seu temperamento era tão admirado, que a perda e as dificuldades seguintes lhe geraram desespero e revolta. Podemos observar na carta elementos preocupantes tais os abaixo:

“Há trinta e dois dias que ele morreu e, depois disso, não consegui dormir dez horas. À noite fico de pé até as quatro da manhã, e quando, vencida pelo cansaço, me deito, vestida, no meu leito e fecho os olhos, a idéia fixa continua durante o penoso sono; não perco a lucidez um só minuto e, quando abro os olhos experimento a obsessão que perdura durante o dia. É tão assustador o que sinto, e tão atroz, que a mim mesmo pergunto se o inferno não será preferível ao que sofro!

É possível que seja Deus o criador de seres destinados a suportar semelhantes misérias?

(…)

oh! diga-me, suplico-lhe de joelhos, se as almas sobrevivem, se posso conservar a esperança de tornar a ver meu filho e se ele me vê! Existirá algum meio de comunicar com ele?

(…)

Se fosse possível pesar a dor, medi-la como o senhor media os mundos, seria tal o peso da minha, tamanha a extensão, que o assustaria pensar que uma alma possa atingir tal grau de tormento. É preciso que haja para isso alguma coisa de infernal no meu destino! Nem ferros em brasas, nem tenazes de tortura são capazes de produzir semelhantes sofrimentos! Meu filho, meu filho adorado! Desejo vê-lo! Não quero o Céu sem ele!

(…)

Diga-me se as almas sobrevivem em alguma parte, se elas se recordam, se elas amam ainda os que ficam na Terra, se nos vêem, se podemos chamá-las para junto de nós!(2008-I:15-16).

Estes são os trechos de grande dor que a carta nos transmite. São motivações ao estudo e à pesquisa como objetos, mas as palavras traduzem algo além da capacidade das religiões e crenças tradicionais quanto ao consolo. O desespero conduz o questionamento a Deus, a raiva e a descrença que uma dor sem razão aparente carrega consigo traz à chama da revolta e a ideia fixa, um ingrediente básico e convite à obsessão. Flammarion constata esse problema quando nos diz que:

Os padres recebem diariamente súplicas dessa ordem, porque são considerados ministros de Deus, dotados do poder de penetrar o enigma do sobrenatural e de resolvê-lo. Respondem a essas dores levando-lhes os confortos da religião. O sacerdote afirma em nome da fé, da revelação; mas a fé não se impõe nem é tão geralmente aceita quanto se imagina. Conheço padres, bispos, cardeais que a não têm, apesar de a indicarem como benefício social. Há na Terra umas cinqüenta religiões diferentes, úteis talvez, mas inaceitáveis sob o ponto de vista filosófico. Em face dos espetáculos que acabamos de relembrar, poderão seus ministros convencer-nos de que um Deus bom e justo rege a humanidade?” (2008-I:17).

Como aconselhar alguém a ter fé? Eu não posso impor a fé à força para outra pessoa, posso somente indicar que ela busque sua fé e a desenvolva de tal forma, que a crença cega a conduza em algum grau de confiança. Assim era o passado. A FÉ Raciocinada que conduz o Espiritismo e que perpassa todos os aspectos da Doutrina é o elemento fundamental para que não ocorra o desequilíbrio perante a vida. As dores são entendidas como professoras Exigir fé parte do princípio errôneo de que todos a temos como uma faculdade, quando na verdade ela existe em fagulha, que precisa ser alimentada para que cresça e ateste sua vivacidade.

O caso seguinte é de Theil-sur-Vanne, cuja filha desencarnou aos 16 anos. Ela exprime também toda a sua dor e a sua revolta:

“Era tudo para mim, essa bela flor ceifada antes de desabrochar. Por que? Que problema!

Depois de sua morte, pensei muitas vezes no suicídio para reunir-me a ela…

(…)

Hora suprema e inolvidável, que revivo sempre! Amo o meu sofrimento. Vejo a minha querida morta que havia adivinhado o meu desespero; ela quis que eu ficasse, para chorar por ela. O meu pesar é feito de saudades estéreis, de decepção amarga, de revolta contra todos e tudo; barafusto contra o próprio Deus, que me levou mais do que mil vezes a vida. Agora, só posso viver da recordação de minha filha, meu pensamento constante, meu culto, minha adoração.

Quisera encontrar, se isso fosse possível, uma suavização à minha dor no Espiritismo; refugiar-me nele com fé, esperança e amor…” (2008-I:18-19).

Ela e o marido tentaram algumas formas de invocação, mas em vão. Às vistas destas famílias, não parece uma injustiça por parte de Deus, ceifar a vida de uma criança? Como consolar uma mãe que assiste a seu filho se esvair de suas mãos? O que dizer para quem sofre da impotência ao vislumbrar que nenhum bem material ou humano pode parar a morte?

Mais do que nunca, o problema atroz dos destinos ergue-se diante de nós. (…) Ah! as religiões, apesar de terem todas por origem essa necessidade das nossas almas, esse desejo de conhecer, a dor de ver diante de si o cadáver mudo de um ente querido, não nos deram as provas que prometiam. As mais belas dissertações teológicas nada comprovam. Não são frases que queremos, são fatos demonstrativos. A morte é o maior problema que tem ocupado o pensamento dos homens, o problema supremo de todos os tempos e de todos os povos. Ela é o fim inevitável para o qual nos dirigimos todos; faz parte da lei das nossas existências sob o mesmo título que o do nascimento. Tanto uma como outro são duas transições fatais na evolução geral, e entretanto a morte, tão natural como o nascimento, parece-nos contra a natureza. A esperança na continuação da vida é inata na alma humana; é de todos os tempos e de todos os países” (2008-I:22).

E mesmo assim, o ‘sentimento’ não pode ser mensurado e atribuído de coeficiente científico, o que significa na prática, que se a religião e seus representantes não puderam consolar a contento, a ciência tão pouco o fará, pois está enredada na cadeia materialista que será tratada no capítulo seguinte.

Por enquanto, fica claro que algo na base está errado. Ainda agora no século XXI as discussões sobre religião e imortalidade são estéreis e dependem da individualidade. O problema é a busca e a forma com que é feita. A partir deste ponto na introdução, Flammarion disserta sobre sua própria formação inicial e as percepções que advém de uma sociedade em cuja maioria reinam os preceitos cristãos antigos da Igreja, baseados em salvação ou condenações eternas. Mas afinal, pergunta ele na página 26, por que temer a morte? Ou seria de fato, o fim de tudo e nada teríamos com que nos ocupar ou preocupar, ou seria a continuidade da existência, o que valeria, por assim dizer, as reflexões que merece.

Que o nosso corpo acaba, um dia, de viver, não há dúvida alguma; ele se dissociará em milhões de moléculas que se incorporarão, em seguida, em outros organismos, plantas, animais e homens; a ressurreição dos corpos é um dogma obsoleto que ninguém pode aceitar. Se o nosso pensamento, a nossa entidade psíquica, sobrevivem à decomposição do organismo material, teremos a alegria de continuar a viver, pois que a vida consciente continuará também sob outra forma de existência, superior a esta, sendo o progresso a lei da Natureza e manifestando-se em toda a história da Terra, único planeta que podemos estudar diretamente” (2008-I:26).

Como advertido desde a introdução do Livro dos Espíritos por Kardec, a crença em uma sobrevivência da consciência exige meditação para que faça sentido junto à Doutrina. Flammarion por enquanto não trata do Espiritismo, mas da constatação de que a morte não significa a cessação da vida. Além da meditação, o embate do que seria científico-positivista ou teológico acabou por criar um cisma desnecessário que só acirrou uma disputa de orgulhos. Enquanto a ciência desdenha da religião, os últimos consideram-se autoridades sobre os primeiros.

O problema da imortalidade da alma não recebeu ainda solução positiva da ciência moderna, mas também não recebeu, como por vezes se pretende, uma solução negativa” (2008-I:28).

Logo, a verdade reside em uma investigação honesta. Tema e tese do que Flammarion desenvolverá nesta obra. Para ainda constatar sua atualidade (o livro foi originalmente lançado em 1917), ou seja, quase cem anos, segue um trecho dos mais importantes da introdução. A despeito de todos os problemas sociais causados pela disputa Ciência x Religião, há um mais intrínseco, que diz respeito à ausência de estudo e conhecimentos na sociedade. Muitas vezes é a preguiça que norteia os destinos e são muito poucos os que realmente se esforçam na conquista de novos horizontes. Tudo isso prejudica uma reflexão honesta.

“Pode concluir-se que há um ser humano entre mil e seiscentos que sabe, de modo vago, em que mundo habita, e um em cento e sessenta mil que o conhece bem.

Quanto ao ensino primário e secundário, escolas, colégios, liceus (laicos ou culturais), em matéria astronômica, o resultado é este: nada ou quase nada. Em psicologia positiva, nada igualmente. A “ignorância universal” é a lei da nossa Humanidade terrestre desde o seu nascimento simiesco” (2008-I:30).

Ou seja, a sociedade, devido a um individualismo supremo preconiza o que é de curto prazo e imediatamente materialista. Por enquanto, é a dor a maior motivadora para que as possas se libertem desta jaula e passem a ao menos considerar a hipótese de que há continuidade na vida. No entanto, o intuito de Camille não é o de estabelecer um tratado religioso-filosófico, mas sim o e buscar provas positivas da sobrevivência da alma.

Então a obra se iniciará com uma análise fria do que é regularmente aceito em ciência, para que então se esvazie as lacunas que ainda param o progresso. Tudo com o maior rigor possível.

II – O MATERIALISMO – Doutrina errônea, incompleta e insuficiente.

Flammarion escrevia para um público cujo nível de instrução era alto. Claro que sempre tratou-se da minoria populacional. Então há um pressuposto de que o leitor conheça as terminologias e teorias estudadas. Aqui vou tentar traduzir um pouco do que o autor quis dizer e entender por elas.

Filosofia Positiva de Augusto Comte – “O conhecimento científico sistemático é baseado em observações empíricas, na observação de fenômenos concretos, passíveis de serem apreendidos pelos sentidos do homem. Não apenas isso, o positivismo é a ideia da construção do conhecimento pela apreensão empírica do mundo, buscando descobrir as leis gerais que regem os fenômenos observáveis. Dessa forma trabalham as ciências naturais, como a biologia ou a química, que se debruçam sobre seus objetos de estudo em busca de estruturação das ‘regras’ que constituem as formas de interação entre organismos e seus compostos no mundo biológico observável ou das interações entre diferentes reagentes químicos2“.

Portanto, Filosofia Positiva, positivismo, todos são sinônimos derivados do entendimento acima exposto. Imperioso que reconheçamos e que haja compreensão de que há uma natureza material presente na observação empírica, ou seja, a que afeta os nossos sentidos. Em tese, o universo seria explicável de forma análoga a tudo o que somos capazes de verificar em experiência e repetição. Uma máquina, com engrenagens universais da física clássica, na mecânica de Newton.

Era quase uma regra que estes investigadores fossem ateus e materialistas. Claro, influenciados grandemente por sua matriz teórica investigativa. Há sempre uma filosofia de vida envolvida no cotidiano, até nos mais ínfimos gestos. Claro que no quesito ético-moral era de se esperar algum reflexo utilitarista ou de vaidades exacerbadas. Mas como Flammarion anota, esses grandes homens faziam grandes concessões de bondade e cordialidade, sem necessitar de moral religiosa específica. Ele comenta alguns casos, iniciando por Littré3:

sua esposa era muito devota: ele mesmo a acompanhava, aos domingos, à missa de S. Sulpício, por meiga e pura bondade e sem entrar na igreja. Le Dantec, ateu e materialista, que lhe sucedeu, teve exéquias religiosas para não magoar sua mulher, muito religiosa também, de quem se pode deplorar este último gesto. Preferir-se-ia que as companheiras da vida dos grandes homens pensassem como seus maridos. Este professor de ateísmo era igualmente muito bom. Tudo isto é bastante paradoxal. O mesmo se deu com Jules Soury, esse devorador de padres “sepultado por eles, entre preces litúrgicas”. A lógica não é deste mundo. Mas as doutrinas nem sempre orientam as obras. Pode-se ser católico praticante e, ao mesmo tempo, mentiroso, explorador do próximo, assim como se pode ser materialista e perfeito homem de bem” (2008-I:32-33).

Então, não é a escolha de filosofia de vida que coordena o caráter. São grandes os exemplos dos que nunca acreditaram na continuidade da existência, ou em recompensas / punições eternas como mote de ação e comportamento. Por isso o estudo será travado no campo científico, e nada há que sugira a idéia de ataques / argumentos no ponto de vista pessoal, onde sempre haverá o respeito.

Esses eminentes espíritos são respeitáveis nas suas honestas convicções, que devemos respeitar como eles respeitaram as dos outros; mas podem-se discutir as suas idéias, e de resto nunca eles tiveram pretensões de infalibilidade” (2008-I:33).

Portanto, já há a definição de positivismo, sua consequente postura materialista e a conclusão de que não é a escolha desta ou daquela opção e entendimentos perante a vida que conota a conduta ético-moral do indivíduo. A questão são as idéias. Flammarion inicia pelas de Littré.

Entretanto, sendo certo que a Psicologia foi na sua origem e ainda é o estudo do espírito, considerado independentemente da substância nervosa, não devo nem quero servir-me de expressão que pertence a uma filosofia muito diferente daquela que empresta o seu nome às ciências positivas. Nestas ciências não se conhece nenhuma propriedade sem a matéria, não porque a priori se tenha a idéia preconcebida de que não existe qualquer substância espiritual independente, mas porque a posteriori jamais se encontrou a gravitação sem corpo pesado; o calor sem corpo quente; a eletricidade sem corpo elétrico; a afinidade sem substâncias de combinação, vida, sensibilidade; pensamento sem ser vivo, sensível e pensante. (…) Hoje não resta dúvida de que os fenômenos intelectuais e morais são fenômenos pertencentes ao tecido nervoso; que o caso humano não é senão um anel, embora o mais considerável, de uma cadeia que se prolonga, sem limite bem nítido, até aos últimos animais; e que, sob qualquer título que se proceda, contanto que se empregue o método descritivo, de observação e de experiência, ser-se-á um fisiologista” (2008-I:34-35).

Logo, havia a tentativa honesta de colocar Psicologia abaixo da Fisiologia, uma vez que tudo seria resultado das ações orgânicas, sendo que não existe outra forma de influência à matéria que os impulsos conhecidos dos elementos materiais em si. Ou seja, tudo o que é mensurável e quantificável. No entanto, até hoje não se conseguiu provar de forma positiva, ou seja, científica, que o pensamento é uma substância nervosa, uma excreção cerebral ou molecular, nem que a consciência e inconsciência residam em alguma área do cérebro material. Enfim, o que é científico então? Nem a incerteza por si só serve como teoria, apenas hipótese.

Não se ousaria comparar um pedaço de pau com um pedaço de mármore ou de metal, e compara-se tranqüilamente o espírito, a razão pensante, o sentimento da liberdade, da justiça, da bondade, a vontade, com uma função da substância orgânica! Taine4 assegura que o cérebro segrega o pensamento como o fígado segrega a bílis. Parece que nestas inteligências a sede do raciocínio é feita, de antemão, com a mesma cegueira que a dos teólogos” (2008-I:36).

Flammarion define matéria como tudo o que pode ser depreendido através de nossos sentidos. E no entanto, a observação indica que há uma complexidade no ser humano que foge à regra. Na ordem psíquica por exemplo, muito pouco pode ser explicado. É um problema de perspectiva. Como um peixe acreditaria na vida fora da água? Esse era o papel dos cientistas e ainda hoje o é de muitas ciências. A investigação séria e realmente científica prova que inúmeros fatores ficaram sem explicação pelo positivismo. O autor deseja resgatar alguns destes através da observação da Natureza5, e o faz com exemplos cujo conteúdo não permite conclusão mais lógica: Há um organizador, uma Consciência Inteligente que administra a Natureza. Do contrário, seria o acaso capaz de:

  • Fecundar plantas, animais e seres humanos;
  • Realizar o desenvolvimento físico e psíquico da humanidade
  • Organizar moléculas e átomos em nível microscópico e macrosideral;

O espírito sobrepuja o corpo; os átomos não regem; são regidos. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao Universo inteiro, aos mundos que gravitam no espaço, aos vegetais, aos animais. A folha da árvore é organizada, um ovo fecundo é organizado. Essa organização é de ordem intelectual. O espírito universal está em tudo; ele enche o mundo, e isto sem cérebro” (2008-I:37).

E então retornamos ao problema que conduziu a introdução. Se no aspecto da observação da Natureza nós vislumbramos uma coordenação perfeita e uma organização que não pode ser mero acaso, qual o valor da dor e do sofrimento? Por que a Natureza seria tão ingrata com seus filhos e membros? Onde todo o racionalismo positivista e sua cientificidade vislumbrariam a razão para que houvesse, nessa profundidade esses fatos? Para o Espiritismo e para Flammarion, advém de nossa incompreensão de Deus e de nossa inferioridade espiritual. Claro que juntamente a esses fatores podemos desdobrar que por não compreendermos a Divindade nós deturpamos o significado real de sua obra, além do que, limitamos a busca de respostas ao que nossos sentidos depreendem (muito pouco). Por exemplo, veja o pequeno espectro que somos capazes de enxergar através dos olhos6

E quando falamos sobre a percepção auditiva7, é ainda mais evidente como somos limitados.

E quando comparamos aos animais, a diferença é ainda maior.

Dessa forma, já somos incapazes de compreender muitos dos fenômenos naturais pelas limitações básicas de nossos sentidos e sua aplicação à Natureza, que não são nada além do cérebro e suas funções. Como transcender essa fronteira? Se hoje recolhemos informes diversos e cada vez mais paradoxais nas ciências psíquicas, que dirá no século XIX? O quanto somos ainda influenciados por teorias de épocas onde não havia tecnologia capaz de adiantar esses diferentes espectros?

A intuição de que havia uma força superior, espiritual, acompanha a humanidade há muito mais tempo do que as ideias egocêntricas e orgulhosas que nos colocam em patamar supremo no universo. O Iluminismo é um dos movimentos mais importantes da humanidade como construção histórica, uma resposta suprema (porém radical) ao também radicalismo teológico que mergulhou a humanidade em sombras. Não podemos nos furtar à busca de um equilíbrio entre essas concepções. Eis então que atingimos um problema da mais alta complexidade, que coloca em xeque as concepções mais sérias da ciência. A vida.

Apesar de enxergarmos uma pequena faixa visual, um funcionamento mecânico do cérebro deveria significar a absorção de tudo o que nos é perceptível, como um escâner atual. No entanto, é fato de que o cérebro nem sempre registra tudo o que vê, e só recorda o que nos sensibiliza de alguma forma, seja por fator marcante ou por importância que lhe concedemos. E o que anima essa sensibilidade? Considerando que nada é aleatório (a única premissa deste estudo é o de que não existe acaso), o que leva meu cérebro a considerar X mais importante do que Y ou Z?

Os antigos pesquisadores definiram no cérebro algumas áreas responsáveis em seus tecidos pela memória e pelas recordações, como camadas de um disco. Quando o cérebro era afetado nessas regiões, além dos prejuízos motores, havia a perda de algumas memórias. No entanto, algum fator externo poderia, como aconteceu inúmeras vezes, “despertar” a memória que em tese havia sido perdida. Mesmo a neurogênese8 não sendo completamente aceita pela ciência atual, vamos supor que ela ocorra; ainda assim acontece de forma lenta e gradual, mas a memória não obedece a essa determinação. Como explicar de forma material? Se tudo não passa de matéria e secreção, não faz sentido algum. Se a neurogênese realmente for falsa e as células cerebrais não se regenerem, a situação se agrava.

Eis aqui um cérebro que trabalha. Eis ali uma consciência que sente, que pensa e que quer. Se o trabalho do cérebro correspondesse à totalidade da consciência, se houvesse equivalência entre o cerebral e o mental, a consciência poderia seguir os destinos do cérebro e a morte ser o fim de tudo; pelo menos, a experiência não diria o contrário e o filósofo que afirma a sobrevivência teria de apoiar a sua tese em qualquer construção metafísica, base geralmente frágil. Mas, se a vida mental ultrapassa a vida central, se o cérebro se limita a traduzir por movimentos uma pequena parte do que se passa na consciência, a sobrevivência então se torna tão provável que a obrigação da prova caberá mais ao que nega do que ao que afirma, pois a única razão que possamos ter para admitir uma extinção da consciência depois da morte é a de que vemos o corpo desorganizar-se, e esta razão desvaloriza-se se a independência, pelo menos parcial, da consciência para com o corpo é, também, um fato de experiência” (2008-I:41-42).

Mas mesmo em situações extremas a ciência já provou que algumas ‘‘surpresas’’ acontecem para aqueles que imaginam a predeterminação da matéria. A sobrevivência é condicionada ao que?

Aos exemplos extraídos das doenças da memória, que acabamos de relembrar, poderíamos acrescentar muitos outros que levam à mesma conclusão. O meu sábio amigo Edmond Perrier apresentou à Academia das Ciências, na sessão de 23 de dezembro de 1913, uma observação do Dr. Robinson, respeitante a um homem que viveu um ano, quase sem sofrimento, sem nenhuma perturbação mental aparente, com o cérebro reduzido ao estado de ‘papas’, formando vasto abcesso purulento. Em julho de 1914, o Dr. Hallopeau fez, na Sociedade de Cirurgia, a exposição de uma operação praticada no Hospital Necker numa rapariga caída do Metropolitano. Na trepanação, verificou-se que notável porção de matéria cerebral estava reduzida a papa. Fez-se a limpeza, drenou-se, fechou-se; a doente restabeleceu-se. Em 24 de março de 1917, na Academia das Ciências, o Dr. Guépin mostrou, operando um soldado ferido, que a ablação parcial do cérebro não impedia as manifestações da inteligência. Outros casos idênticos poderiam ser citados. Às vezes restam bem modestas parcelas: o espírito serve-se engenhosamente do que pode” (2008-I:42-43)

Há uma consciência cuja localidade corporal não é definida. Isso fica evidente quanto mais se estuda a fisiologia em sua complexidade. Não se trata de órgãos frios, mas de algo animado que continua a demonstrar sua energia através da VONTADE. Ela desenha-se suprema, move os homens até a irracionalidade dependendo de qual o ponto de observação. A obstinação de alguns gerou ganhos, de outros, perdas irreparáveis, mas o fato é que a vontade traz consigo uma fórmula, transcendente à matéria. Flammarion a aborda nas páginas 44 e 45, quando traz também uma observação bastante importante quando a uma outra forma de sentir que acompanha a humanidade desde seu remoto início. A vontade de cultuar, algo que nos subjuga a um princípio superior é a essência de todas as grandes religiões, ela faz o homem buscar em seu interior respostas de cuja a consciência material nem imagina a resposta. Em suma:

Na teoria mecânica do Universo, o conjunto das coisas é um efeito fatal das combinações inconscientes; a criação é um nada intelectual que vem a ser alguma coisa e acaba por pensar! Pode-se imaginar hipótese mais absurda em si, e mais contrária à observação?” (2008-I:45).

Eis que a ciência prefere abraçar a idéia de que o acaso é o rei, absoluto senhor do universo do que considerar qualquer outra hipótese. E o que há de científico nisso? Este capítulo parece que anda em círculos, mas, na verdade, ele só demonstra o que a humanidade pratica desde sempre baseada em orgulho e vaidade. Na física mecânica, é a força que mantém o Universo em estado de movimento e estabilidade. No entanto, a observação demonstra que os átomos nunca estão estáticos, ainda que no zero absoluto, eles oscilam9 de acordo com o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Qual a força que nos mantém em unidade?

A força parece mesmo inerente ao átomo, pois não se nota em parte nenhuma átomo imóvel. Um ser vivo que não possuísse em si mesmo a sua força diretriz não poderia viver, cairia em ruínas, como edifício abandonado” (2008-I:46).

Então é preciso que haja coordenação sobre essa força, e que ela ainda dote de energia e conexão determinados átomos e moléculas para que então sejam animados. Afinal, qual é a partícula que diferencia os átomos que nos compõem dos átomos que compõem um automóvel? Nenhuma. De todas as nossas moléculas, cada uma parece ter sua razão de existir e se posicionar daquela forma. Ao mesmo tempo, nem tudo no Universo pode ser atribuído à força de atração Newtoniana, conforme a física quântica vem esclarecendo. Mal sabemos definir o comportamento de uma partícula ou sua localização…

Afirmamo-lo: o Universo é um dinamismo. Uma força invisível e pensante rege mundos e átomos. A matéria obedece” (2008-I:48).

Claro que a afirmação acima feita por Flammarion carece de maior comprovação, mas é exatamente disso que se trata o transcurso da obra. Por enquanto, podemos depreender que o materialismo será enfraquecido pelo método experimental através da análise de vários fenômenos psíquicos e casos relativos.

O Materialismo é doutrina errônea, incompleta e insuficiente, que nada explica a nosso contento. Admitir só a matéria dotada de propriedades é hipótese que não resiste à análise. Os ‘positivistas’ laboram em erro; existem provas “positivas” de que a hipótese da matéria, dominando e regendo tudo, pelas suas propriedades, está à margem da verdade. (…) Há no ser humano outra coisa mais do que moléculas químicas dotadas de propriedades: há um elemento não material, um princípio espiritual. O exame imparcial dos fatos vai comprová-lo e vê-lo-emos mesmo atuar independentemente dos sentidos físicos” (2008-I:49-50).

Eis as premissas e a introdução do livro, que nos levará a considerar o Materialismo Positivista como maior fator de atraso na sociedade devido ao aparelhamento do orgulho e da vaidade. Ele possibilita isso de forma a conceder aos homens da ciência um poder muito maior do que qualquer outro, o de influenciar diversas pessoas em diversas camadas sociais, direta ou indiretamente. A negação de qualquer força maior ou coordenação divina, além de sua consequente negação da alma, relega à curta existência humana uma importância maior do que realmente dispõe.

O esforço de Flammarion é claramente e principalmente um só: o de colocar a humanidade em seu devido lugar nos trilhos do progresso, mas também no seu pequeno local, seu pontinho no Universo, cuja magnitude não nos permite qualquer forma de egocentrismo.

III – QUE É O HOMEM? EXISTE A ALMA?

A singeleza do título deste capítulo esconde a profundidade que ele abraça. No capítulo anterior, não foi negada a importância do materialismo ou subestimado seu potencial, mas simplesmente constatamos que ele está bem longe de preencher suas lacunas teóricas, o que o coloca em fase de hipótese, e não uma ciência exata como se propõe.

No caso deste estudo, Flammarion propõe primeiro entender se existe a alma, para depois buscar a realidade da sobrevivência. Propõe-se a demonstrar, como já dito antes, através do método experimental, positivo. Antes, porém, o autor nos apresenta um interessante estudo sobre a palavra alma:

A palavra alma e seus equivalentes em nossas línguas modernas (espírito, por exemplo), ou nas línguas antigas, como anima, animus (transcrição latina do grego), spiritus, atma, alma (vocábulo sânscrito ligado ao grego, vapor), etc. Implicam todas a idéia de sopro; e não há dúvida de que a idéia de alma e de espírito exprimiu primitivamente a idéia de sopro nos psicólogos da primeira época. Psyche, mesmo, provém do grego, soprar.

Estes observadores, identificando a essência da vida e do pensamento com o fenômeno da respiração, e, por outra parte, da decomposição do corpo morto, do corpo privado de sopro, privado da alma, com a crença nas aparições dos mortos, isto é, a vida persistente daqueles cujo cadáver aí jazia, inanimado, ou, o que é mais, dissolvido e reduzido a cinzas, imaginaram que o sopro, a alma, era alguma coisa que abandonava o corpo na hora do decesso, para ir viver em outra parte da sua própria vida.

Ainda hoje o último suspiro designa a morte” (2008-I:52-53).

Não se trata aqui de um estudo semântico, mas sim de demonstrar que a forma intuitiva está presente na humanidade (sobre a alma), há muito mais tempo do que a ciência. E quantas vezes a ciência errou em seus postulados? Quantas vezes a Terra foi o centro do universo? Quantas vezes a Terra foi plana? A observação prática demonstrava que os navios sumiam no horizonte e pareciam desabar num abismo. No entanto, tudo foi sendo desmentido à medida que o ser humano pode progredir em ideais e concepções. Enquanto cientistas buscavam o sol como um disco no céu, a observação posterior demonstrou que era um objeto esférico, redondo como a Terra.

Só julgamos o Universo, as coisas, os seres, as forças, o espaço, o tempo, pelas nossas sensações, e tudo o que podemos pensar sobre a realidade está na nossa idéia, em nosso espírito, em nosso cérebro. Mas é um raciocínio singular concluir daí que as nossas idéias constituem a realidade. Essas impressões têm uma causa e essa causa é exterior aos nossos olhos, aos nossos sentidos. Somos espelhos que se dão conta das imagens recebidas” (2008-I:55).

Se não fôssemos dotados de olhos e ouvidos físicos como o que possuímos, será que a percepção do mundo seria a mesma? Essa indagação de Flammarion remonta às limitações de que dispomos em faixas visuais e auditivas. A resposta é NÃO. Se nossos principais sentidos fossem diferentes, nós conseguiríamos descrever o mundo de diferentes maneiras. Portanto, a conclusão lógica é a de que desconhecemos o real sentido das coisas. Só somos capazes de depreendê-los através de instrumentos falíveis e incapazes de abraçar TODA a realidade.

Sinto, penso: tal é a nossa única certeza, imediata, realmente experimental, aquela que merece esse qualificativo. Desse fato primitivo, o único de observação real, de certeza indubitável, um grande fato secundário deriva por via de indução: o fato de uma causa da qual procedem esta sensação e este pensamento. Essa causa desdobra-se em dois fatores: o sujeito e o objeto, isto é, o que sente e pensa, o que é sentido e pensado” (2008-I:56).

Portanto, temos que:

E é por isso que Flammarion completa que:

Supor que conhecemos a realidade é anticientífico. Sabemos que os nossos sentidos nos revelam apenas uma parte dela e isso mesmo à maneira de prismas modificando a realidade. Se o nosso planeta estivesse constantemente coberto de nuvens, não conheceríamos nem o Sol, nem a Lua, nem os planetas, nem as estrelas, e o sistema do mundo ficaria ignorado, de sorte que o saber humano seria condenado a irremediável falsidade. Ora, o que conhecemos nada é comparado com o que ignoramos; o nosso próprio nervo óptico não é senão intérprete parcial” (2008-I:56-57).

A prova que o autor utiliza para embasar seu ponto é irrefutável. As sensações são tão pouco (ou nada) confiáveis, que você viaja a ao redor do Sol a 107.000 km/h e não sente coisa alguma. A Terra ainda gira sob seu próprio eixo a 1.700 km/h e você ainda não sente coisa alguma. Ou seja, como é que nossos sentidos não identificam esse movimento? É porque o fluxo ocorre de forma inversa. A Natureza é dada, nós criamos palavras e definições para a fração de que nossos sentidos podem trabalhar.

De resto, na Natureza, fora de nossos sentidos, não há de fato nem luz, nem som, nem cheiro; fomos nós que criamos essas palavras correspondentes às nossas impressões. A luz é um modo de movimento, como o calor, e há tanta “luz” no espaço à meia-noite como ao meio-dia, isto é, nas mesmas vibrações etéreas atravessando a imensidade dos céus. O som é outro modo de movimento, e só é um ruído para o nosso nervo auditivo. Os odores provêm de partículas em suspensão no ar, que afetam especialmente os nossos nervos olfativos (…) É pouco, e não nos dão, em todos os casos, o conhecimento da realidade. Há ao redor de nós vibrações, movimentos, etéreos ou aéreos, forças, coisas invisíveis que não percebemos. É esta uma afirmação de ordem absolutamente científica e incontestavelmente racional” (2008-I:58-59).

Então já que moldamos o mundo aos nossos sentidos e encontramos termos que apenas traduzem o que nossos órgãos materiais conseguem depreender da realidade que captamos, há de fato um problema muito sério no materialismo e no homem, que vislumbra num cerco o que pensa ser toda a realidade possível. Ou seja, focamos em aparência e desprezamos a essência, tão mais simples de aceitar com as devidas colocações.

As aparências não nos revelam a realidade. Há uma única realidade apreciada diretamente por nós: é o nosso pensamento. E o que há de mais insofismavelmente real no homem é o espírito” (2008-I:59).

De fato, inúmeros casos registrados na ciência comprovam que uma doença paralisante do corpo pode manter um cérebro funcionando e ainda uma personalidade ativa. E se o cérebro não é ferramenta de uma personalidade que aplica a ele suas vontades, o que mais seria? Não é o olhar que vê, é o cérebro que assimila e repassa as informações visuais. De forma análoga, o pensamento não surge no cérebro, é processado e traduzido por ele em informações diversas. Sua origem é o espírito. Isso tanto é correto que o próprio ambiente psíquico foi detectado por diversos estudos de neurociência e psicologia. Eis o pensamento nas palavras de Flammarion:

O pensamento é o que o homem possui de mais precioso, de mais pessoal, de mais independente. Sua liberdade é inatacável. Podeis torturar o corpo, encarcerá-lo, dirigi-lo pela força material: nada podereis contra o pensamento. Tudo o que fizerdes, tudo quanto disserdes, não o forçará. Ele ri-se de tudo, desdenha tudo, domina tudo. Quando quer iludir, quando a hipocrisia mundana ou religiosa o obriga a mentir, quando a ambição política ou comercial o faz revestir de máscara enganadora, conserva-se o mesmo e sabe o que quer. Não é isso a prova flagrante da existência do ser psíquico independente do cérebro? Não é a matéria, não é um conjunto de moléculas que pode pensar. É tão infantil, tão ridículo admitir que o cérebro sente e pensa, como atribuir às pilhas geradoras de eletricidade do telégrafo a geração das idéias expressas no telegrama” (2008-I:62).

A própria capacidade de escolha diferenciada demonstra a consciência individual. Gêmeos idênticos, criados sob as mesmas condições, no mesmo clima, educação, dieta e lazer ainda possuirão diferenças consideráveis, e muitas vezes são extremamente opostos entre si. São materialmente idênticos, então qual é, na prática, a questão que os diferencia? Se não há uma individualidade operante, uma personalidade única, um espírito, qual outra explicação?

Os estudos com hipnose foram capazes de distinguir personalidade, matéria e consciência.

Admite-se aqui que existe elemento superior à lógica material positivista, portanto, capaz de trazer ao menos o questionamento sobre algo além da matéria e dos sentidos materiais. É a sabedoria de Vergílio no Sexto canto da Eneida:

Tudo quanto existe no Universo é penetrado pelo mesmo princípio, alma animando a matéria, que se mescla com este grande corpo10?”

O próximo capítulo tratará de provas mais contundentes da sobrevivência da alma, justamente reunindo fragmentos de estudos anteriores do autor (expressas em obras prévias) com alguns avanços em suas pesquisas.

Flammarion foi incansável em seu propósito de consolar e provar a sobrevivência da consciência e da personalidade no espírito imortal.

1Tratada aqui sempre no sentido de fator de desconhecimento, nunca em tom pejorativo que assinale algo maldoso.

2RODRIGUES, Lucas De Oliveira. “Positivismo“; Brasil Escola. Disponível em http://www.brasilescola.com/sociologia/positivismo.htm

3Littré, Maximilien Paul Émile (1801-1881) – continuador e discípulo de Comte. Publicou o célebre “DICIONÁRIO”.

4Hippolyte Adolphe Taine (Vouziers, Champanha-Ardenas, 21 de abril de 1828 — Paris, 5 de março de 1893) foi um crítico e historiador francês, membro da Academia francesa (cadeira 25: 1878-1893). Foi um dos expoentes do Positivismo do século XIX, na França. O Método de Taine consistia em fazer história e compreender o homem à luz de três fatores determinantes: meio ambiente, raça e momento histórico. Estas teorias foram aplicadas ao movimento artístico realista. (Fonte – Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hippolyte_Taine).

5Flammarion já havia feito grande parte deste raciocínio na obra “DEUS NA NATUREZA”. Estudo disponível em: http://espiritismolivre.com/wp-content/uploads/2014/08/Estudo-Flammarion-Camille-Deus-na-Natureza-Final.pdf

6Para saber mais: http://www.oftalmologistabh.com.br/visao-como-funciona-e-por-que-enxergamos/

7Para saber mais: http://www.aulas-fisica-quimica.com/8f_07.html

8Regeneração dos neurônios de forma natural.

9Zero Absoluto é -273,15°C, tido como a menor temperatura possível.

10Citado no livro como pertencente ao canto sexto da Eneida de Virgílio.

setembro 14, 2015

ESTUDO LIVRO DOS ESPÍRITOS – “Progressão dos Espíritos” (Q.114 a 127)

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Um pouco do estudo do Livro dos Espíritos:

VII – Progressão dos Espíritos (questões de 114 a 127).

A humanidade, desde seus antigos e vastos períodos de aprendizado filosófico, busca uma unicidade de entendimento, uma forma de compreender o ser humano que abrace toda sua complexidade e que possa traduzir suas idéias e seus comportamentos de forma geral. Chama a isso de natureza. A busca pela “natureza humana” foi uma constante por séculos, vide expoentes significativos ao longo das correntes filosóficas naturalistas com entendimentos diversos do que era o ser humano em natureza1.

Quando Kardec questiona os Espíritos na questão 114, temos uma exemplificação desta busca:

114. Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se?

— Os Espíritos mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior”. (2014:88)

Há a confirmação por parte dos Espíritos de que o progresso é possível e de que trata-se de necessidade individual, além de plena dependência dos próprios esforços para cada espírito. Constatando que a questão da natureza ainda não havia sido respondida, Kardec questiona:

115. Uns Espíritos foram criados bons e outros maus?

— Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. Deu a cada um deles uma missão, com o fim de esclarecê-los e progressivamente conduzir a perfeição, pelo conhecimento da verdade e para aproximá-los Dele. A felicidade eterna e sem perturbações, eles a encontrarão nessa perfeição. Os Espíritos adquirem o conhecimento passando pelas provas que Deus lhes impõe. Uns aceitam essas provas com submissão e chegam mais prontamente ao seu destino; outros não conseguem sofrê-las sem lamentação, e assim permanecem, por sua culpa, distanciados da perfeição e da felicidade prometida.

115-a. Segundo isto, os Espíritos, na sua origem, se assemelhariam a crianças, ignorantes e sem experiência, mas adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as diferentes fases da vida?

— Sim, a comparação é justa: a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; seu menor ou maior aproveitamento depende da sua docilidade. Mas a vida do homem tem fim, enquanto a dos Espíritos se estende ao infinito”. (2014:88).

Da mesma forma que buscamos na filosofia a questão da natureza do homem (se é bom ou mau), a transferência dessa questão para os Espíritos solucionaria o problema de uma vez, já que a humanidade encarnada é reflexo de sua condição espiritual. No entanto a resposta dos espíritos é cristalina, ao invés de bom ou mau, devemos penar na criação de Espíritos simples e ignorantes, verdadeiras sementes que germinam de acordo com o cultivo individual. Isso torna a questão entre bom ou mau como um produto e não causa (natureza). Logo, ninguém é naturalmente bom ou naturalmente mau, simplesmente reflete em suas atitudes o pico moral que atingiu, seja ele mais baixo ou mais alto.

Ao longo das questões 116 e 117 temos o entendimento de que todos os Espíritos um dia atingirão a perfeição e que só dependem de seu próprio esforço para tal, uma vez que o livre-arbítrio é pleno e soberano sobre suas atitudes. Mas um outro ponto interessante é levantado pelo Codificador:

118. Os Espíritos podem degenerar?

— Não. A medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionado, mas não retrogradar” (2014:88).

Ou seja, não é possível que um Espírito caia de nível na escala espírita. Mas o interessante é que ao contrário do que muitos imaginam, o espírito não está “fadado ao bem” a cada conquista. Cada degrau da escala é uma conquista, são conhecimentos adquiridos e moral apurada. Quanto mais elevada a moral e os níveis de conhecimento, maior a responsabilidade daquele espírito e maior o entendimento do impacto causado pelas suas escolhas. Portanto, não há degeneração pois o erro não é mais cometido por ignorância, mas por escolha. É como está escrito em Lucas (12:48) “Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado”. Logo, é cristalina a lógica de que existe a opção de se fazer o bem ou mau conforme o nível de esclarecimento que escapa à ignorância. Kardec ainda expôs na obra “O Céu e o Inferno” que:

A responsabilidade moral dos nossos atos na vida permanece, portanto, inteiramente nossa. Mas a razão nos diz que as consequências dessa responsabilidade devem estar em relação com o desenvolvimento intelectual do Espírito. Quanto mais ele for esclarecido, menos desculpável será, porque com a inteligencia e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do junto e do injusto2” (2007:80).

E então aceitando a ideia de que não há degeneração da graduação espiritual, somos compelidos a aceitar algumas ideias subjacentes, como as da estagnação e o agravamento do efeito de nosso livre-arbítrio. Obrigatoriamente, como nos é dito nas questões 120 e 121, nós passamos pela ignorância, mas não necessariamente pelo mal, sendo esse último uma escolha da consciência. Quando se conhece o que é certo e errado (portanto quando já temos uma condição moral que nos ausenta da ignorância) já é possível que se vença o mal.

122. Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm a consciência de si mesmos, ter a liberdade de escolher entre o bem e o mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um lado que para outro?

— O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire consciência de si mesmo. Não haveria liberdade, se a escolha fosse provocada por uma causa estranha a vontade do Espírito. A causa não está nele, mas no exterior, nas influências a que ele cede em virtude de sua espontânea vontade. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação e outros a resistiram” (2014:89).

A consciência evolui e se desenvolve com o passar do tempo e das experiências de cada encarnação. Deus, em sua infinita sabedoria e misericórdia não submeteria suas criações ao impossível. Do contrário, não haveria livre-arbítrio, apenas destinos traçados e fatalismos.

122-a. De onde vêm as influências que se exercem sobre ele?

— Dos Espíritos imperfeitos que procuram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam felizes de fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis representar na figura de Satanás.

122-b. Esta influência só se exerce sobre o Espírito na sua origem?

— Segue-o na vida de Espírito, até que ele tenha de tal maneira adquirido o domínio de si mesmo, que os maus desistam de obsidiá-lo” (2014:89).

essa influência das respostas 122-a e b será mais aprofundada no capítulo IX desta obra. Por enquanto podemos depreender que nosso livre-arbítrio é assediado por escolhas diversas todo o tempo, e é a capacidade de melhor escolher que encurta ou alonga nosso caminho rumo á perfeição. É através das más escolhas que vamos galgando novas provas e expiações que servem de instrumento ao nosso progresso.

Somos, portanto, responsáveis pelas escolhas e pela expansão de nossa consciência, trazendo para nós a responsabilidade de acordo com a nossa capacidade de assimilação da mesma. É assim que vamos passar por cada degrau da escala evolucionária rumo á perfeição.

————————————-

1Vide Rousseau, Locke, Hobbes, etc. Cada um destes “naturalistas” possuía uma forma de entendimento e caráter que dava à humanidade em estado puro.

2KARDEC, A. (2007) – O Céu e o Inferno – CAPÍTULO VII – AS PENAS FUTURAS SEGUNDO O ESPIRITISMO – “A carne é fraca” – Editora LAKE – Tradução de Herculano Pires e João Teixeira de Paula.

julho 20, 2015

SWEDENBORG – Vida e Interpretação

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Abaixo a íntegra da vida de Swedenborg, escrita por Arthur Conan Doyle na obra “História do Espiritismo”.

Os negritos são meus. O que está em itálico já pertencia à obra de Doyle. Respeitei essa formatação, mas corrigi a gramática para uma forma mais atualizada possível.

Swedenborg é um vulto importantíssimo para história do Espiritismo. Quando os fenômenos se passaram com ele, não havia ainda a Codificação Kardequiana, o que exalta seus méritos e abranda seus deméritos. Vale a pena ler e entender melhor sobre uma biografia muito essencial ao Espiritismo e aos espíritas.

ARTHUR CONAN DOYLE – A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO

A História de Swedenborg

É impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o começo das coisas psíquicas, porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de interferencias preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre esses episódios e o moderno movimento é que aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de uma invasão organizada. Como, porém, uma invasão poderia ser precedida por pioneiros em busca da Terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por certo número de incidentes, susceptíveis de verificação desde a Idade Média e até mais para trás. Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a da história do grande vidente sueco Emmanuel Swedenborg, que possui bons títulos para ser considerado o pai do nosso novo conhecimento dos fenômenos supranormais.

Quando os primeiros raios do sol nascente do conhecimento espiritual caíram sobre a Terra, iluminaram a maior e a mais alta inteligência humana, antes que a sua luz atingisse homens inferiores. O cume da mentalidade foi o grande reformador e médium clarividente, tão pouco conhecido por seus prosélitos, qual foi o Cristo.

Para compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se um cérebro de Swedenborg; e isto não se encontra em cada século. E ainda, pela nossa força de comparação e por nossa experiência dos fatos desconhecidos para Swedenborg, podemos compreender, mais claramente do que ele, certas passagens de sua vida. O objeto do presente estudo não é tratar o homem como um todo, mas procurar situá-lo no esquema geral do desdobramento psíquico aqui abordado, do qual a sua própria Igreja, na sua estreiteza, o impediria.

Swedenborg era, sob certos aspectos, uma viva contradição para as nossas generalizações psíquicas, porque se costuma dizer que as grandes inteligencias esbarram no caminho da experiência psíquica pessoal. Uma lousa limpa é, por certo, mais apta para nela escrever-se uma mensagem. O cérebro de Swedenborg não era uma lousa limpa, mas um emaranhado de conhecimentos exatos de susceptível aquisição naquele tempo. Nunca se viu tamanho amontoado de conhecimentos. Ele era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos 12, da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se as conclusões de Adam Smith. Finalmente, era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara de teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de vida. Seu desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sobre a sua atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados após essa data.

Com uma tal mentalidade, é muito natural que fosse chocado pela evidencia das forças supranormais, que surgem no caminho de todo pensador, mas o que não é natural é que devesse ele ser o médium para tais forças. Em certo sentido a sua mentalidade lhe foi prejudicial e lhe adulterou os resultados, posto que, de outro lado, lhe tivesse sido de grande utilidade. Para o demonstrar basta considerar os dois aspectos sob os quais o seu trabalho pode ser encarado.

O primeiro é o teológico. Á maioria das pessoas que não pertencem ao rebanho escolhido afigura-se o lado inútil e perigoso de seu trabalho. Por um lado, aceita a Bíblia como sendo, de modo muito particular, uma obra de Deus; por outro lado, sustenta que a sua verdadeira significação é inteiramente diferente de seu óbvio sentido e que ele — e só ele — ajudado pelos anjos, é capaz de transmitir aquele verdadeiro sentido. Essa pretensão é intolerável. A infalibilidade do Papa seria uma insignificância comparada com a infalibilidade de Swedenborg, se tal fosse admitido. Pelo menos o Papa é infalível quando profere um veredito em matéria de doutrina ex-cátedra, acolitado por seus cardeais. A infalibilidade de Swedenborg seria universal e irrestrita. Além disso suas explicações nem ao menos se acomodam à razão. Quando, visando apreender o verdadeiro sentido de uma mensagem de Deus, temos que admitir que um cavalo simboliza uma verdade intelectual, que um burro significa uma verdade científica, uma chama quer dizer melhoramento, e assim por diante com uma infinidade de símbolos, parece que nos encontramos no reino da imaginação, que apenas pode ser comparado com as cifras que alguns críticos engenhosos pretendem ter descoberto nas peças de Shakespeare. Não é assim que Deus manda a Sua verdade a este mundo. Se tal ponto de vista fosse aceito, o credo de Swedenborg seria apenas a matriz de mil heresias; regrediríamos e iríamos encontrar-nos novamente entre as discussões e os silogismos dos escolásticos medievais. As coisas grandes e verdadeiras são simples e compreensíveis. A teologia de Swedenborg nem é simples nem inteligível. E isto representa a sua condenação.

Entretanto, quando entramos na sua fatigante exegese das Escrituras, onde cada coisa significa algo diferente daquilo que obviamente significa, e quando chegamos a alguns dos resultados gerais de seu ensino, eles não se acham em desarmonia com o moderno pensamento liberal, nem com o ensino recebido do Outro Lado, desde que se iniciaram as comunicações. Assim, a proposição geral de que este mundo é um laboratório de almas, um campo de experiencias, no qual o material refina o espiritual, não sofre contestação. Ele repele a Trindade no seu sentido comum, mas a reconstitui de maneira extraordinária, que também seria impugnada por um Unitário. Admite que cada sistema tem a sua finalidade e que a virtude não é privativa do Cristianismo. Concorda com o ensino espírita em procurar o verdadeiro sentido da vida de Jesus Cristo no seu poder como exemplo e repele a expiação e o pecado original. Vê no egoísmo a raiz de todo o mal e admite como essencial um egoísmo sadio, na expressão de Hegel. Quanto aos problemas sexuais, suas idéias são liberais até ao relaxamento. Considera a Igreja de absoluta necessidade, sem o que ninguém se entenderia com o Criador. Em tamanha confusão de idéias, espalhadas a torto e a direito em grandes volumes, escritos num latim obscuro, cada intérprete independente seria capaz de encontrar sua nova religião particular. Mas não é aí que reside o mérito de Swedenborg.

Esse mérito realmente seria encontrado em suas forças psíquicas e nas suas informações psíquicas, que teriam sido muito valiosas se jamais de sua pena houvesse brotado uma palavra sobre Teologia. É para essas forças e para essas informações que nos voltamos agora.

Ainda menino, Swedenborg teve as suas visões. Mas esse delicado aspecto de sua natureza foi abafado pela extraordinariamente prática e enérgica idade viril. Entretanto, por vezes veio ela à tona, em toda a sua vida e muitos exemplos foram registrados, para mostrar que possuía poderes geralmente chamados “vidência a distância”, no qual parece que a alma deixa o corpo e vai buscar uma informação a distância, voltando com notícias do que se passa alhures. Não é uma peculiaridade rara nos médiuns e pode ser comprovada por milhares de exemplos entre os sensitivos espíritas; mas é rara nos intelectuais e também rara quando acompanhada por um estado aparentemente normal do corpo quando ocorre o fenômeno. Assim, no conhecidíssimo caso de Gothenburg, onde o vidente observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, estava ele num jantar com dezesseis convidados, o que e um valioso testemunho, O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Kant, que era seu contemporâneo.

Não obstante, esses episódios ocasionais eram meros indícios de forças latentes, que desabrocharam subitamente em Londres, em abril de 1744. É de notar-se que, conquanto o vidente fosse de boa família sueca e educado entre a nobreza sueca, foi nada menos que em Londres que os seus melhores livros foram publicados, que a sua iluminação se iniciou e, finalmente, que morreu e foi sepultado. Desde o dia de sua primeira visão até a sua morte, vinte e sete anos depois, esteve ele em contínuo contato com o outro mundo. “Na mesma noite — diz ele — o mundo dos Espíritos, do céu. e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.

Em sua primeira visão Swedenborg fala de “uma espécie de vapor que se exalava dos poros de meu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caia no chão, sobre o tapete”. É uma perfeita descrição daqueles ectoplasmas que consideramos a base dos fenômenos físicos. A substância foi chamada, também, ideoplasma, porque instantaneamente toma a forma que lhe dá o Espírito. No seu caso, conforme a sua descrição, ela se transformava em vermes, o que representava um sinal de que os seus Guias lhe desaprovavam o regime alimentar e era acompanhada por um aviso pela clarividência, de que devia ser mais cuidadoso a esse respeito.

Que é que pode fazer o mundo com essa narrativa? Dizer que tal homem era um louco; mas, nos anos que se seguiram, sua vida não deu sinais de fraqueza mental. Ou podiam dizer que ele mentia. Mas este era famoso por sua estrita vivacidade. Seu amigo Cuno, banqueiro em Amsterdam, assim dizia dele: “Quando me olhava, com os sorridentes olhos azuis, era como se eles estivessem falando a própria verdade”. Seria então autossugestionado e honestamente enganado? Temos que enfrentar a circunstância de que, em geral, as observações que fazia eram confirmadas desde então por numerosos observadores dos fenômenos psíquicos. A verdade é que foi o primeiro e, sob vários aspectos, o maior médium, de um modo geral; que estava sujeito a erros tanto quanto aos privilégios decorrentes da mediunidade; que só pelo estudo da mediunidade seus poderes serão compreendidos e que, no esforço de o separar do Espiritismo, a sua Nova Igreja mostrou absoluta incompreensão de seus dons e da posição que a ela cabia no esquema geral da Natureza. Como um grande pioneiro do movimento espírita, sua posição tanto é compreensível quanto gloriosa. Como uma figura isolada com poderes incompreensíveis, não há lugar para ele em qualquer esquema do pensamento religioso, por mais largamente compreensivo que seja.

É interessante notar que ele considerava os seus poderes intimamente relacionados com o sistema respiratório. Como o ar e o éter nos envolvem, é possível que alguns respirem mais éter do que ar e, assim, alcancem um estado mais etéreo. Sem a menor dúvida é esta uma maneira elementar e grosseira de considerar as coisas. Mas essa ideia se derrama no trabalho de muitas escolas de psiquismo. Lourence Oliphant, que aliás não tinha ligação com Swedenborg, escreveu um livro, Sympneumata, para o provar. O sistema indiano de Ioga, repousa sobre a mesma ideia. Entretanto, quem quer que tenha visto um médium cair em transe, deve ter notado a característica inspiração de ar com que se inicia o processo e as profundas expirações com que termina. Para a Ciencia do futuro aqui está um promissor campo de estudos. Nisto, como em qualquer outro assunto psíquico, é necessário cautela. O autor conheceu muitos casos em que ocorreram lamentáveis resultados que foram a consequência de um desavisado emprego da respiração profunda nos exercícios psíquicos.

Como a força elétrica, os poderes espirituais tem um emprego variado, mas o seu manejo requer conhecimentos e precauções.

Swedenborg resume o assunto dizendo que quando se comunicava com os Espíritos, durante uma hora respirava profundamente, “tomando apenas a quantidade de ar necessária para alimentar os seus pensamentos”. De lado essa peculiaridade, Swedenborg era normal durante as suas visões, conquanto preferisse, na ocasião, estar só. Parece que teve o privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e, conquanto as suas ideias sobre teologia tivessem marcado as suas descrições, por outro lado a sua imensa cultura lhe permitiu excepcional poder de observação e de comparação. Vejamos quais os principais fatos que suas jornadas nos trouxeram e até onde eles coincidem com os que, desde então, tem sido obtidos pelos métodos psíquicos.

Verificou que o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de Luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte tem pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.

A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência. esses recém-vindos passavam imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem.

Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demonios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.

De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só as suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os seus preconceitos.

Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras.

Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para a sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma posição mais elevada.

Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma mulher constituíam uma unidade completa. É de notar-se que Swedenborg jamais se casou.

Não havia detalhes insignificantes para a sua observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura, do artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes. Tudo isso pode chocar as inteligencias convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais.

Os que saíram deste mundo velhos, decrépitos, doentes, ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. “Dois amantes verdadeiros não são separados pela morte, de vez que o Espírito do morto habita com o do sobrevivente, até à morte deste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que antes”.

Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de informações mandadas por Deus através de Swedenborg. Elas tem sido reiteradas pela boca e pela pena dos nossos iluminados espíritas. O mundo as desprezou, taxando-as de concepções insensatas. Contudo, estes novos conhecimentos vão abrindo caminho; quando forem aceitos inteiramente, a verdadeira grandeza da missão de Swedenborg será reconhecida, desde que se ponha de lado a sua exegese bíblica.

A Nova Igreja, fundada para divulgar os ensinos do mestre sueco, converteu-se em elemento negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar, como fonte e origem do conhecimento psíquico. Quando, em 1848, desabrochou o movimento espírita; quando homens como Andrew Jackson Davis o sustentavam através de escritos filosóficos e de poderes psíquicos, que dificilmente se distinguem dos de Swedenborg, a Nova Igreja teria feito bem em saudar esse desenvolvimento, que coincidia com as indicações de seu chefe. Em vez disso preferiram, por motivos difíceis de compreender, exagerar cada ponto divergente e desconhecer todos os pontos coincidentes, até que os dois corpos fossem impelidos para o franco antagonismo. Na verdade, todos os espíritas deveriam homenagear Swedenborg, cujo busto era para encontrar-se em cada templo espírita, por ser o primeiro e o maior dos modernos médiuns. Por outro lado, a Nova Igreja deveria afogar as pequenas diferenças e integrar-se de coração no novo movimento, contribuindo as suas igrejas e as suas organizações para a causa comum.

Examinando a vida de Swedenborg é difícil descobrir as causas que levaram os seus atuais sectários a encarar com receio as outras organizações psíquicas. Aquele fez então aquilo que estas fazem agora. Falando da morte de Polhem, diz o vidente: “Ele morreu segunda-feira e falou comigo quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o enterro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou á sepultura. Entretanto, conversando comigo, perguntou porque o haviam enterrado, se estava vivo. Quando o sacerdote disse que ele se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se ele já estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo”.

Isto está perfeitamente concorde com a experiencia de um médium atual. Se Swedenborg estava certo, também os médiuns estão.

De novo: “Brahe foi decapitado ás 10 da manhã e falou co-migo ás 10 da noite. Esteve comigo, quase que ininterruptamente, durante alguns dias”.

Tais exemplos mostram que Swedenborg não tinha mais escrúpulos em conversar com os mortos do que o Cristo, quando no monte falou a Moisés e Elias.

Swedenborg havia exposto as suas ideias com muita clareza. Considerando-as, entretanto, há que levar-se em conta a época em que viveu e a sua falta de experiencia na direção e nos objetivos da nova revelação. esse ponto de vista é que Deus, por bons e sábios propósitos, tinha separado o mundo dos Espíritos do nosso, e que a comunicação não era permitida, salvo razões poderosas —entre as quais não se poderia contar a mera curiosidade. Cada estudante zeloso do psiquismo concordará com isto e cada espírita zeloso opõe-se a que a coisa mais séria do mundo seja transformada numa espécie de passatempo. Sob o império de poderosas razões, nossa razão principal é que numa época de materialismo como Swedenborg jamais imaginou, estamos nos esforçando por provar a existência e a supremacia do Espírito de maneira tão objetiva que os materialistas sejam encontrados e batidos no seu próprio terreno. Seria difícil imaginar uma razão mais forte que esta; entretanto temos o direito de proclamar que, se Swedenborg vivesse agora, seria o chefe do nosso moderno movimento psíquico.

Alguns de seus prosélitos, entre os quais o Doutor Garth Wilkinson, fizeram a seguinte objeção: “O perigo para o homem de falar com os Espíritos é que nós todos estamos ligados aos nossos semelhantes e, estando cheios de maldades, teríamos que enfrentar esses Espíritos semelhantes, e eles apenas confirmariam o nosso ponto de vista.

A isto responderemos apenas que, conquanto especioso, está provado pela experiencia que é falso. O homem não é naturalmente mau. O homem médio é bom. O simples ato da comunicação espírita, na sua solenidade, desperta o lado religioso. Assim, via de regra, não é a má influência, mas a boa, que é encontrada, como o provam os belos e moralizados registros das sessões. O autor pode dar o testemunho de que em cerca de quarenta anos de trabalho psíquico, durante os quais assistiu a inúmeras sessões em muitos lugares, jamais, numa única ocasião, ouviu uma palavra obscena ou qualquer mensagem que pudesse ferir os ouvidos da mais delicada mocinha. Outros veteranos espíritas dão o mesmo testemunho. Assim, enquanto é absolutamente certo que os maus Espíritos sejam atraídos para um ambiente mau, na prática atual é muito raro que alguém seja por eles incomodado. Se tais Espíritos aparecerem, o procedimento correto não é repeli-los; é antes conversar razoavelmente com eles, esforçando-se por que compreendam sua própria condição e o que devem fazer por seu melhoramento. Isto ocorreu muitas vezes na experiencia pessoal do autor, e com os mais felizes resultados.

Algumas informações pessoais sobre Swedenborg cabem como termo a este ligeiro relato de suas doutrinas. Visa-se, assim, antes de mais nada, indicar a sua posição no esquema geral. Deve ele ter sido muito frugal, prático e trabalhador; um rapaz enérgico e um velho muito amável. Parece que a vida o converteu numa criatura muito bondosa e venerável. Era plácido, sereno e sempre disposto à conversação, que não descambava para o psiquismo senão quando queria o seu interlocutor. O tema dessas conversas era sempre notável, mas ele se afligia com a gagueira que lhe dificultava a pronunciação. Era alto, delgado, de rosto espiritual, olhos azuis, peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.

Sustentava Swedenborg que uma densa nuvem se havia formado em redor da Terra, devido à grosseria psíquica da humanidade e que de tempos em tempos havia um julgamento e uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material. Via que o mundo, já em seus dias, entrava numa situação perigosa, devido à sem-razão das Igrejas por um lado, e a reação contra a absoluta falta de religião, causada por isto. As modernas autoridades em psiquismo, especialmente Vale Owen, falaram dessa nuvem crescente e há uma sensação geral de que o necessário processo de limpeza geral não tardará.

Uma notícia sobre Swedenborg, do ponto de vista espírita, não pode ser melhor conduzida do que por estas palavras, extraídas de seu diário: “Todas as afirmações em matéria de teologia são, como sempre foram, arraigadas no cérebro e dificilmente podem ser removidas; e enquanto aí estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar.” Era ele um grande vidente, um grande pioneiro do conhecimento psíquico e sua fraqueza reside naquelas mesmas palavras que escreveu.

A generalidade dos leitores que quiserem ir mais adiante encontrará os mais característicos ensinos de Swedenborg em suas obras: “Céu e Inferno”, “A Nova Jerusalém” e “Arcana Coelestia”. Sua vida foi admiravelmente descrita por Garth Wilkinson, Trobridge e Brayley Hodgetts, atual presidente da Sociedade Inglesa Swedenborg. A despeito de todo o seu simbolismo teológico, seu nome deve viver eternamente como o primeiro de todos os homens modernos que descreveram o processo da morte e o mundo do além, o que não se baseia no vago extático e nas visões impossíveis das velhas Igrejas, mas corresponde atualmente às descrições que nós mesmos obtemos daqueles que se esforçam por nos trazer uma ideia clara de sua nova existência.

julho 19, 2015

MEDIUNIDADE & ESPIRITISMO – FASES

Filed under: Espiritismo,Estudos — Tags:, , — Aprendiz @ 7:43 am

Prosseguindo com a série de alguns estudos importantes na Seara do Cristo, temos um importante livro editado também pela FEB chamado SEARA DOS MÉDIUNS, voltado a um significado mais profundo de pontos importantes do Livro dos Médiuns.

Abaixo o trecho do Livro dos Médiuns em verde e depois a lição de Seara dos Médiuns em azul. Minhas observações estão sempre em preto ao final dos textos.

1. MÉDIUNS DE EFEITOS FÍSICOS

160. Os médiuns de efeitos físicos são particularmente aptos a produzir fenômenos materiais como os movimentos dos corpos inertes, os ruídos, etc. Podem ser divididos em médiuns facultativos e médiuns involuntários. (Ver 2ª parte, caps. II e IV).

Os médiuns facultativos têm consciência do seu poder e produzem fenômenos espíritas pela própria vontade. Essa faculdade embora inerente à espécie humana, como dissemos, não se manifesta em todos no mesmo grau. Mas se são poucas as pessoas que não a possuem, ainda mais raras são as que produzem grandes efeitos como a suspensão de corpos pesados no espaço, o transporte através do ar e sobretudo as aparições.

Os efeitos mais simples são o da rotação de um objeto, de pancada por meio de movimentos desse objeto ou dadas interiormente na sua própria substância. Sem se dar importância capital a esses fenômenos, achamos que não devem ser menosprezados. Podem proporcionar interessantes observações e contribuir para firmar a convicção. Mas convém notar que a faculdade de produzir efeitos materiais raramente se manifesta entre os que dispõem de meios mais perfeitos de comunicação, como a escrita e a palavra. Geralmente a faculdade diminui num sentido à medida que se desenvolve em outro.

SEARA DOS MÉDIUNS

(pelo Espírito Emmanuel / Psicografado por Chico Xavier)

29 – Aviso, chegada e entendimento

Reunião pública de 25/4/1960

Questão nº 160

A intervenção franca do Plano Espiritual, no Plano Físico, pode ser admitida no conceito popular como embaixada portadora de metas decisivas, a definir-se em três períodos essenciais: aviso, chegada e entendimento.

De Swedenborg a Andrew Jackson Davis, surpreendemos a mediunidade ativa, sob as ordens da Esfera Superior, no aviso da renovação necessária.

E se pequenas disparidades são registradas no verbo dos obreiros em serviço, é justo lembrar que na interpretação da realidade, quanto na interpretação da música, a expressão isolada varia, conforme as peculiaridades do instrumento.

Em 1848, no vilarejo de Hydesville, inicia-se publicamente a chegada dos comandos da sobrevivência.

Os emissários desencarnados, quais familiares há muito tempo ausentes da própria casa, alcançam a moradia terrestre, batendo freneticamente à porta.

Na residência dos Fox, não faltam nem mesmo as palmas de quem chega e de quem recepciona, entre a menina Kate e o Espírito Charles Rosna, baseando-se em pancadas os rudimentos da linguagem primitiva entre os dois planos.

Desde então, embora as dificuldades morais de muitos dos trabalhadores humanos, reencarnados no circulo terrestre, começam a operar diversas comissões mediúnicas, chamando pacificamente a atenção da Terra.

Os fenômenos físicos por Daniel Dunglas Home e pelos irmãos Davenport, por Florence Cook e por Eusápia, tanto quanto através de outros medianeiros, falam à aristocracia do poder e da inteligência, em palácios e laboratórios, agitando os salões de lazer e as preocupações da imprensa.

Aos ruídos da visitação invisível, misturam-se os ruídos da opinião.

Ouvem-se batidas surpreendentes aqui e ali, mãos luminosas acenam por toda a parte, vozes ressoam entre lábios selados, mensagens rápidas são transmitidas, de maneira direta, e entidades materializam-se ante os experimentadores, tomados de assombro.

Entretanto, a obra do entendimento é encetada com Allan Kardec, que esclarece a posição da doutrina e do fenômeno, como quem separa o trigo da vestimenta de palha, estabelecendo rumos, criando obrigações e definindo responsabilidades.

Mas, como toda edificação espiritual obedece à cronologia da mente, ainda hoje encontramos milhares de pessoas na fase do aviso e milhares de outras na fase da chegada, entre a esperança e a convicção.

Quanto a nós, que nos achamos na fase do entendimento, saibamos concretizar os princípios da fraternidade e esparzir o socorro moral, em beneficio das consciências, estendendo a luz ao coração do povo, porquanto o Plano Espiritual atinge o Plano Físico, em cumprimento das promessas do Cristo, de modo a reunir todas as criaturas na lei do bem e habilitá-las, convenientemente, para a continuidade do serviço de hoje, no grande futuro ou no grande além, ante a Vida Maior.

——————————

Esta é uma lição importante pois diz respeito às fases do Espiritismo em seu início. Primeiro as pistas sobre qual seria a verdade a respeito da existência dos espíritos, sua função e a continuidade da existência. Inúmeras obras em várias épocas tratam desse assunto, mas Swedenborg é um caso especial pois os registros são bastante fartos.

Sugiro que olhem nesta página. (LINK)

Como Pastor Luterano e Capelão Real, Swedenborg possuía grande formação teológica e espiritual, o que o tornava capaz de distinguir elementos importantes na metafísica e na ilusão. Um bom resumo biográfico também foi colocado por Sir Artur Conan Doyle em “História do Espiritismo”. Vou colocar na íntegra em página a parte (AQUI). Peço notar, porém, que o próprio Doyle, quando escreveu sua obra, assumiu uma ordem parecida com a que Emmanuel nos coloca na lição acima.

Isso porque o Espiritismo em si é produto de uma curiosidade organizacional somada aos enormes esforços da espiritualidade em fazer-se presente e moralizar as manifestações mediúnicas. Quando dizemos e chamamos Kardec de “codificador” significa que ele organizou o estudo e as verdades contidas na revelação espírita, não que ele as tenha iniciado. Quando ele investigou o fenômeno das Mesas Girantes por exemplo, Aksakof já realizava observações e experimentos na Europa. O passo adiante é que foi importante. Ir além do fenômeno em si e partir para o aprendizado.

Os acontecimentos em Hydesville, com as Irmãs Fox, foram marco das manifestações físicas, com batidas, sons, objetos em movimento que demonstravam a presença de uma inteligência capaz de interagir com os habitantes da casa. Fato é que os fenômenos sempre existiram, mas durante os séculos XVIII e XIX assumiram caráter mais forte, especialmente entre cientistas e aristocratas, justamente opondo o cientificismo materialista de uma época com a metafísica até então ignorada pelo positivismo como charlatanismo. Foi assim que grandes cientistas, como Crookes, W.J. Crawford e Lombroso se curvaram à verdade que foi comprovada cientificamente: havia inteligência e espíritos com consciência própria, cuja identidade foi comprovada e que sobreviveram à “morte”. Constatado o fato, o Espiritismo deveria dar mais um passo.

No Livro dos Médiuns, na parte “Dissertações Espíritas”, dentro de ‘Sobre as Sociedades Espíritas”, o Espírito São Luis nos esclarece que:

XXIII

O silêncio e o recolhimento são condições essenciais para todas as comunicações sérias. Nunca obtereis preencham essas condições os que somente pela curiosidade sejam conduzidos às vossas reuniões. Convidai, pois, os curiosos a procurar outros lugares, por isso que a distração deles constituiria uma causa de perturbação.

Ou seja, a curiosidade motivava a banalidade das comunicações, e a ciência, que mais adiante esgotaria suas comprovações, já não demandavam fenômenos observáveis. Agora era o momento de que a moralidade tomasse conta dos fenômenos, e para isso, a escrita e a comunicação oral seriam mais eficientes. Era chegada a fase do Entendimento, ou seja, o Espiritismo como idealizado por Kardec, sempre baseado em Jesus, com base na caridade e no auxílio. Agora os fenômenos físicos não são mais necessários, as experiências em laboratório cada vez menos habituais, pois são fartos os registros disponíveis. A moral dita que o Espiritismo deva sua verdadeira vocação ao AMOR, portanto, o médium é um instrumento, meio de auxílio e comunicação entre as esferas, e não uma marionete prática para ser estudado.

O médium de hoje deve ser moralizado e agir eticamente, deve estar pronto para absorver a verdade sem questionamentos niilistas que só visam prorrogar o trabalho e postergar obrigações.

Já a humanidade é movida por ritmos diversos e muitos irmãos ainda residem alheios a esses fatos. Precisamos lembrar que a cada um será cobrado conforme seu entendimento permitir, sendo que os que já despertaram para as verdades do espiritismo não podem se consolar no atraso de irmãos que estão iniciando a jornada. Nossa tarefa é justamente de maior depuração possível, de forma a preparar e deixar o melhor legado possível a todos e à nós mesmos para que a evolução ocorra em todos os níveis.

É um prazer servir ao Cristo. Todos somos médiuns e devemos olhar de frente os preceitos de amor e caridade.

Que Deus e os bons irmãos nos acompanhem (e que sejamos merecedores)…

julho 13, 2015

Obra Completas de Gabriel Delanne

Filed under: Dica de Leitura,Espiritismo — Tags:, , , , — Aprendiz @ 8:47 am

A dica literária aqui é para os que gostam de ler no formato eletrônico.

Eu utilizo o Kindle (leitor da Amazon) para algumas obras. Especialmente as mais difíceis e caras ficam disponíveis com a facilidade do aparelho eletrônico a um preço justo.

Deixo a recomendação aqui. Encontrei as Obras Completas de GABRIEL DELANNE na Amazon por R$ 6,16. Estão compostas por:

1885 – O Espiritismo perante a ciência

1893 – O Fenômeno Espírita

1895 – A Evolução Anímica

1897 – A Almaé Imortal

1927 – A Reencarnação (póstumo)

Todas devidamente computadas no índice e fáceis de navegar. Na minha opinião vale a pena, pois trata-se de adquirir produto original e, ao mesmo tempo, incentivar o trabalho de quem publica, aqui a Autch Editora.

Além do mais, Delanne é leitura fundamental para quem deseja saber mais sobre o desenvolvimento do Espiritismo e sua fase científica.

O Link para oferta é ESTE.

Boa leitura !

julho 11, 2015

ESTUDO PARCIAL SOBRE A CARIDADE

Filed under: Espiritismo,Estudos,reforma íntima — Tags:, , , , , , , — Aprendiz @ 1:26 pm

Para o estudo de hoje, o tema será CARIDADE. Claro que será impossível esgotar o tema com apenas um texto curto, mas podemos dizer que recebo grande ajuda da espiritualidade que me provê com a lição mais apropriada cada vez mais em sintonia com o que preciso aprender. Possuo algumas obras de estudo que a FEB editou, dentre elas ESTUDE E VIVA, Psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira, ditado pelos Espíritos: Emmanuel e André Luiz. É um livro sensacional, que se apoia em partes afins do Evangelho Segundo o Espiritismo e do Livro dos Espíritos. Segue abaixo a lição 21 desta obra, junto com as passagens necessárias do Evangelho e do livro dos Espíritos para devida leitura. Minhas observações estão em preto, e os escritos de estudo, em cores.

ESTUDE E VIVA – Lição 21.

Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XIII – Item 11

II – A Beneficência

ADOLFO

Bispo de Alger, Bordeaux, 1861

11 – A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh!, pudésseis compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vesti a um irmão! Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes! Quais as festas mundanas que se pode comparar a essas festas jubilosas, quando, representantes da Divindade, levais a alegria a essas pobres famílias, que da vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras; quando vedes esses rostos macilentos brilharem subitamente de esperança, desprovidos de pão, esses infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e repetiam estas palavras, que, como finos punhais, penetravam o coração materno: “Tenho fome!” Oh!, compreendei quanto são deliciosas as impressões daquele que vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendei quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: “Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis!”

Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes, és tu que deves conduzir os povos à felicidade. Ao praticar-te, eles estarão semeando infinitas alegrias para o próprio futuro, e durante o seu exílio na Terra, serás para eles a consolação, o antegozo das alegrias que mais tarde desfrutarão, quando todos reunidos se abraçarem, no seio do Deus de amor. Foste tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de felicidade que gozei na Terra. Possam os meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh!, quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar para baixo, e vereis quantas misérias a aliviar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos sem uma só mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte! Quanto bem a fazer! Oh!, não reclameis, antes agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro, a todos os que, deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Colhereis neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde… somente Deus o sabe!

Livro dos Espíritos – Questão 886

Parte Terceira – Das leis morais

CAPÍTULO XI – DA LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE

Caridade e amor do próximo

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

COMENTÁRIO DE ALLAN KARDEC:

O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça. pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque da indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer.

Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.

Temas Estudados:

Alegria e solidariedade

Caridade e justiça

Caridade e lógica

Caridade e ordem

Caridade e verdade

Vida e responsabilidade

LUGAR PARA ELA

Todos nós precisamos da verdade, porque a verdade é a luz do espírito, em torno de situações, pessoas e coisas; fora dela a fantasia é capaz de suscitar a loucura, sob o patrocínio da ilusão. Entretanto, é necessário que a caridade lhe comande as manifestações para que o esclarecimento não se torne fogo devorador nas plantações da esperança.

*

Todos nós precisamos da justiça, porque a justiça é a lei, em torno de situações, pessoas e coisas: fora dela, a iniqüidade é capaz de premiar o banditismo, em nome do poder. Entretanto, é necessário que a caridade lhe presida as manifestações para que o direito não se faça intolerância, impedindo a recuperação das vítimas do mal.

*

Todos nós precisamos da lógica, porque a lógica é a razão em si mesma, em torno de situações, pessoas e coisas; fora dela, a paixão é capaz de gerar crime, à conta de sentimento. Entretanto, é necessário que a caridade lhe inspire as manifestações,para que o discernimento não se converta em vaidade, obstruindo os serviços da educação.

*

Todos nós precisamos da ordem, porque a ordem é a disciplina, em torno de situações, pessoas e coisas; fora dela. O capricho é capaz de estabelecer a revolta destruidora, sob a capa dos bons intentos. Entretanto, é necessário que a caridade lhe oriente as manifestações para que o método não se transforme em orgulho, aniquilando as obras do bem.

*

Cultivemos a verdade, a justiça, a lógica e a ordem, buscando a caridade e reservando, em todos os nossos atos, um lugar para ela, porquanto a caridade é a força do amor e o amor é a única força com bastante autoridade para sustentar-nos a união fraternal, sob a raiz sublime da vida, que é Deus.

*

É por isso que Allan Kardec, cônscio de que restaurava o Evangelho do Cristo para todos os climas e culturas da Humanidade, inscreveu nos pórticos do Espiritismo a divisa inolvidável, destinada a quantos lhe abraçam as realizações e os princípios: -Fora da caridade não há salvação.

EM TERMOS LÓGICOS

Não há vida sem responsabilidade.

Todo ser tem direitos e obrigações.

*

Não há ação sem testemunha.

Somos participantes da Vida Universal.

*

Não há erro com razão.

Só a verdade é lógica.

*

Não há sentimentos incontroláveis.

O espírito é o criado da própria emoção.

*

Não há dificuldade intransponível.

Cada aluno recebe lições conforme o entendimento que evidencia.

*

Não há perfeita alegria que viceje no insulamento.

A felicidade é a benção de luz que apenas medra no terreno da solidariedade.

*

Não há ponto final para o amor.

Amor é vida e a vida é eternidade.

A caridade é, portanto, nossa forma de equilíbrio e condição fundamental para manifestação do amor. Não há amor se não houver caridade, ou seja, temos preceitos fundamentais da doutrina do Cristo, exemplificadas pelo Mesmo à exaustão. A salvação, a felicidade que tanto buscamos aqui ou no além tumulo, depende apenas de quanto esforço e dedicação empenhamos na questão da caridade. No entanto, a caridade em si exige alguma maturação de consciência para que faça sentido. Essa maturação não vem com o conhecimento, mas com a fé, com a capacidade de entender o bem ao próximo como algo benéfico especialmente à quem o pratica. Mas não pode o ateu praticar a caridade? Claro que sim, sua fé reside em suas convicções. Se sua conduta ético-moral o impele ao bem, sua fé em seus atos será sua advogada em toda parte (parafraseando André Luiz).

Todos podem acessar a caridade, a verdade é que infelizmente ela reside como material de propaganda na maioria, que se orgulha demasiadamente pelo que faz ao próximo, com toda pompa e alegria em espalhar suas ações, subordinando a caridade ao orgulho / vaidade que detém naquele momento. Esses perdem o efeito da caridade sob eles mesmos, pois ela é dissipada pelo orgulho. O orgulho é uma negação de um dos principais mandamentos. O Cristo em Marcos (12:28-34) quando discorre sobre os maiores mandamentos, coloca “amar a Deus sobre todas as coisas” e “amar ao próximo como a nós mesmos”. O orgulhoso não se iguala a seu próximo, pelo contrário, se coloca em patamar superior, visto que pratica o bem como promoção. A caridade deve ser singela, honesta e anônima, justamente por ser uma pequena contribuição para um irmão de alma, que momentaneamente sofre uma prova. O contrário apenas o humilha e constrange.

Qual amor visa humilhação e constrangimento? Nenhum. A dedução lógica impõe que a caridade, faísca de amor, é um ato sublime de doação de si, para si e consigo, enquanto nosso irmão é apenas veículo de nossa depuração. A reforma íntima é iniciada no autoconhecimento, tópico também já estudado aqui, e a consciência madura advém também do “conhece a ti mesmo”.

Logo, a doutrina do Cristo é um ciclo virtuoso, capitaneado pela Caridade, que é a faísca de amor que podemos despertar por enquanto.

julho 5, 2015

A PSICOSFERA

Hoje trataremos de um tema muito atual e atemporal, algo que acompanha a humanidade desde seu início, algo que ajuda e estimula nossos comportamentos e atitudes como sociedade que somos e onde nos situamos. Algo que compõe as afinidades e direções ás quais nos apegamos e compactuamos. A PSICOSFERA.

Como material de apoio, vou utilizar um capítulo da obra OS MENSAGEIROS, ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Chico Xavier. Especificamente no capítulo 18 “Informações e esclarecimentos” encontramos precioso material de exemplificação. A história narrada no livro perpassa toda época da segunda guerra mundial (1939-1945) e neste capítulo temos a clara noção de como afetamos e somos afetados pelo plano espiritual.

(…)Nossos aparelhos assinalam aproximação de grande tempestade magnética, ainda para hoje. Sangrentas batalhas estão sendo travadas na superfície do globo. Os que não se encontram nas linhas de fogo permanecem nas linhas da palavra e do pensamento. Quem não luta nas ações bélicas está no combate das idéias, comentando a situação. Reduzido número de homens e mulheres continuam cultivando a espiritualidade superior. É natural, portanto, que se intensifiquem, ao longo da Crosta, espessas nuvens de resíduos mentais dos encarnados invigilantes, multiplicando as tormentas destruidoras”

(…)

“A Humanidade parece preferir a condição de eterna criança. Faz e desfaz os patrimônios da civilização, como se brincasse com bonecas. Nossos amigos suportam pesados fardos de serviço para que as tormentas magnéticas, invisíveis ao olhar humano, não disseminem vibrações mortíferas, a se traduzirem pela dilatação de penúrias da guerra e por epidemias sem conta. (…). Fomos notificados de que as súplicas da Europa dilaceram o coração angélico dos mais altos cooperadores de Nosso Senhor Jesus-Cristo. Aos terríveis bombardeios na Inglaterra, na Holanda, Bélgica e França, sucedem-se outros de não menor extensão”

(…)

“– Embalde voltarão os países do mundo aos massacres recíprocos. O erro de uma nação influirá em todas, como o gemido de um homem perturbaria o contentamento de milhões. A neutralidade é um mito, o insulamento uma ficção do orgulho político. A Humanidade terrestre é uma família de Deus, como bilhões de outras famílias planetárias no Universo Infinito. Em vão a guerra desfechará desencarnações em massa. Esses mesmos mortos pesarão na economia espiritual da Terra. Enquanto houver discórdia entre nós, pagaremos doloroso preço em suor e lágrimas. A guerra fascina a mentalidade de todos os povos, inclusive de grande número de núcleos das esferas invisíveis. Quem não empunha as armas destruidoras, dificilmente se afastará do verbo destruidor, no campo da palavra ou da idéia. Mas, todos nós pagaremos tributo. É da lei divina, que nos entendamos e nos amemos uns aos outros. Todos sofreremos os resultados do esquecimento da lei, mas cada um será responsabilizado, de perto, pela cota de discórdia que haja trazido à família mundial

Os instrutores são claros em seus apontamos. E não é difícil entender os pontos aqui colocados à luz da Doutrina Espírita. Se nossos pensamentos já são capazes de influenciar a nossa sintonia e são exteriorizados ao Plano Espiritual, que diremos em caso de um conflito de tamanha magnitude? Essa guerra em particular abarcou todos os Estados do globo, e mesmo aqueles que não participaram dos conflitos diretamente, de alguma forma escolheram um lado e sintonizaram suas idéias ali. Vibraram em prol de alguma causa e contribuíram diretamente para as batalhas / consequências. Nossas vibrações se aglutinam em interesses, e do micro ao macro, expandimos a psicosfera que nos é própria.

A psicosfera é, portanto, a soma dos ideias vibratórios que alimentamos.

A Terra é um planeta de provas e expiações, o que significa que todos temos um nível similar de adiantamento espiritual e moral. Há discrepâncias, mas não são absolutas. Temos missionários do amor que nos concedem suas bênçãos e nos iluminam de tempos em tempos, mas a realidade do planeta ainda é dura. Compartilhamos deste campo de provas como uma família universal, inclusive no plano espiritual. As sintonias que cativamos lá e aqui são os nossos frutos. Caso semeadura de caridade seja nossa obra, colheremos em ambos os planos bons frutos. O inverso é absolutamente verdadeiro.

Jesus disse :
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração” (MATEUS, 6:19-21)

Nosso tesouro pode também ser entendido como a psicosfera que criamos, pois ela é produto imediato de nossos pensamentos e intenções. Ódio, vingança, crueldade, mesquinharia, tudo isso aglutina elementos ao nosso pensamento e atitudes, ou seja, desenha ao nosso redor elementos que atraem iguais. Logo, qual a sintonia que alimenta nossa psicosfera? No caso de conflitos bélicos, é uma espiral de ódio e vingança que se retroalimenta rumo à destruição mútua.

É como se o conflito fosse um subproduto da conjunção de vários ideais aglutinados. O encorajamento necessário para que se inicie um conflito v?m dessas vibrações. Eis porque o orientador aplica frase de grande teor educativo: “Quem não empunha as armas destruidoras, dificilmente se afastará do verbo destruidor, no campo da palavra ou da idéia”. Uma vez que estamos inseridos em sociedade complexa, há de se questionar que tipo de vibrações alimentamos coletivamente? Quantas vezes nos lembramos de pedir em oração por aqueles que dirigem e coordenam grandes coletividades?

A ORAÇÃO é a única arma eficaz de dissolução magnética que possuímos. Ela precisa ser acompanhada de pensamentos e ações melhores, mas através dela é que podemos cultivar melhores aspirações e iniciar a mudança. Nenhuma reforma íntima plena passou sem que se iniciasse através de sincera prece. É o que fica claro no último parágrafo do capítulo:

“– Nestes tempos, contudo (…) –, a prece é uma luz mais intensa no coração dos homens. Bem se diz que a estrela brilha mais fortemente nas noites sem luz. Imaginem que, para iniciar providências de recepção aos desencarnados em desespero, já fui, mais de uma vez, aos serviços de assistência na Europa. Há dias, em missão dessa natureza, fomos, eu e alguns companheiros, aos céus de Bristol. A nobre cidade inglesa estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio. As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da noite, porém, destacava-se, à nossa visão espiritual, um farol de intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. A chefia da expedição recomendou nossa descida no ponto luminoso. Com surpresa, verifiquei que estávamos numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o olhar humano, mas altamente luminoso para nossos olhos. Notei, então, que alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O Ministro do Culto lera a passagem dos Atos, em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite, na prisão, e as vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança. Enquanto rebentavam estilhaços lá fora, os discípulos do Evangelho cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva. Nosso chefe mandou que nos conservássemos de pé, diante daquelas almas heróicas, que recordavam os primeiros cristãos perseguidos, em sinal de respeito e reconhecimento. Ele também acompanhou os hinos e depois nos disse que os políticos construiriam os abrigos antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na Terra os abrigos antitrevosos”.

Que possamos conservar em mente esse exemplo e batalhar na oração e nos pensamentos para alimentar uma psicosfera melhor, ao nosso redor, ao país e ao Planeta que habitamos hoje. Essa psicosfera é nosso principal legado.

julho 1, 2015

RESSURREIÇÃO – SIGNIFICADOS PARA O ESPIRITISMO

Filed under: Espiritismo — Tags:, , , , — Aprendiz @ 9:17 am

Como qualificar nossa percepção sobre a Ressurreição?

A definição popular aceita é:

ressurreição

1. ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar.

2. retorno da morte à vida.

No entanto, esclarece Emmanuel (psicografado por Chico Xavier) na obra Pão Nosso (lição 42 – Sempre Vivos) que:

42 – Sempre vivos

Ora, Deus não é de mortos, mas, sim, de vivos. Por isso, vós errais muito.” Jesus (Marcos, 12:27)

Considerando as convenções estabelecidas em nosso trato com os amigos encarnados, de quando em quando nos referimos à vida espiritual utilizando a palavra “morte” nessa ou  naquela sentença de conversação usual. No entanto, é imprescindível entendê-la, não por cessação e sim por atividade transformadora da vida.

Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte –  a da consciência denegrida no  mal, torturada de remorso ou  paralítica nos despenhadeiros que marginam a estrada da insensatez e do crime.

É chegada a época de reconhecermos que todos somos vivos na Criação  Eterna.

Em virtude de tardar  semelhante conhecimento nos homens, é que se verificam grandes erros. Em razão disso, a Igreja Católica Romana criou, em sua teologia, um céu  e um inferno artificiais? diversas coletividades das organizações evangélicas protestantes apegam­se à letra, crentes de que o corpo, vestimenta material do  Espírito, ressurgirá um dia dos sepulcros, violando os princípios da Natureza, e inúmeros espiritistas nos têm como fantasmas de laboratório ou formas esvoaçantes, vagas e aéreas, errando indefinidamente.

Quem passa pela sepultura prossegue trabalhando e, aqui, quanto aí, só existe desordem para o desordeiro. Na Crosta da Terra ou além de seus círculos, permanecemos vivos invariavelmente.

Não te esqueças, pois, de que os desencarnados não são magos, nem adivinhos. São irmãos que continuam na luta de aprimoramento.

Encontramos a morte tão-somente nos caminhos do mal, onde as sombras impedem a visão gloriosa da vida.

Guardemos a lição do Evangelho e jamais esqueçamos que Nosso Pai é Deus dos vivos imortais.

Então de fato, quando acordamos na Pátria Espiritual, ressuscitamos. Eis a verdade. Quando imaginamos ressurgir em nossa carne, após a mesma ser decomposta pela Natureza e há muito enterrada, estamos desrespeitando as leis da própria Natureza. Os átomos que outrora compunham meu corpo já estarão compondo outras formas materiais.

Dessa forma, Deus seria obrigado a revogar uma de suas leis. Sendo que um Deus significa algo perfeito, a perfeição não poderia compactuar com tal comportamento. Logo um criador que precisa alterar sua criação por preferências da criatura, estaria bem longe de poder ser chamado de perfeito.

Revogar as leis da Natureza para fazer ressurgir fiéis em sua carne me parece muito mais difícil de acreditar do que na sobrevivência do Espírito. Esse sim, imortal, capaz de sobreviver ao desencarne e de se ver novamente na vida real (a do Espírito).

Como fundamentar esse entendimento pela Bíblia? No célebre encontro entre Jesus e Nicodemos descrito no Evangelho de João;

E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.

Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

(João 3:1-7)

Nada descreve tão bem a reencarnação e suas leis como essa passagem do Cristo. Essa passagem é utilizada pelas outras religiões como fator essencial do batismo. A questão aqui é que o batismo bíblico resguarda um simbolismo forte. Jesus não era Jesus até ser batizado? Ora, isso implica em conceder poder ao homem como intermediário divino. E às suas instituições por consequência.

No Espiritismo, morte é o ato de nos perdermos, de abandonarmos a trajetória do bem, baseado na moral do Cristo e abraçarmos os erros morais. Eles representam um bloqueio à nossa evolução, um caminho para a estagnação evolutiva. O mal suga como um ralo (um redemoinho se preferir) aqueles que adentram seus domínios, exigindo o dobro de vontade e força para libertação, e mais vontade e boa-vontade para corrigirmos os malfeitos.

Para os espíritas, a única instituição válida para emitir julgamentos sobre si é a própria consciência. Ela é a medida da justiça divina à qual podemos apreender durante o período da encarnação. Nossa guia e fiel companheira. Por isso também não devemos julgar os semelhantes, não sabemos o entendimento, não estamos calçando seus sapatos e nem vivenciando seu cotidiano. Como agiríamos em seu lugar? Empatia é também um fator de reflexão importante.

De fato, adotar a reencarnação como verdade altera todo plano existencial. Passamos a pensar em longo prazo, a calcular adiante nossa existência e o impacto de nossos atos, além do que, torna a moral do Cristo mais adequada e justa. Ressurreição é o que todos passamos no desencarne. Por isso nós nasceremos de novo por lá. Levados pela soma de nossos atos.

Que Deus nos abençoe. E abençoe a todos, independente do credo, mas por seus frutos.

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